37 - Nevasca.

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BIA

22 de fevereiro de 2016

Assim que eles ouviram minha decisão, todos se levantaram correndo e me abraçaram bem forte, me fazendo cair no sofá. Eu comecei a rir com a felicidade contagiante deles. Não tinha a mínima ideia que eles gostavam tanto assim de mim. A minha ideia de voltar para o Brasil e ignorar tudo o que aquelas pessoas estavam fazendo por mim tinha sido realmente sem noção.

Depois de comemorarmos mais um pouco, decidimos ir a um restaurante para jantar. Acabamos passando quase a noite toda em Manhattan, num restaurante chamando Ipanema Restaurant, tipicamente brasileiro/português. Eles disseram que já conheciam ali, mas que me tinham me levado justamente em uma homenagem para mim. Eu fiquei tão feliz por comer algo que eu já estava acostuma que quase beijei os pés dos meus amigos.

Depois daquela noite, os dias praticamente voaram. Entre meu trabalho, meu curso e passeios, acabei conhecendo quase Nova York todinha. Praticamente nada mais era novo para mim, eu parecia morar ali a anos, não a apenas um mês. Eu não precisava ficar pedindo informações para andar por ali e já sabia conversar muito bem com quem fosse. E eu estava amando tudo aquilo. Amava os lugares, as pessoas, a vida corrida. Era diferente, eu me sentia entrando numa nova vida aos 17 anos.

A pessoa que eu era mais próxima sem dúvidas, era a Luíza. Além de ser brasileira e entender tudo que eu sentia, ela era uma ótima amiga. Nós vivamos praticamente coladas, algumas pessoas diziam que nós éramos irmãs até. Ela sempre ia à empresa no final do meu turno e de lá nós íamos até o curso de fotografia. Assim como eu, ela também gostava muito de fotografar e assim que soube do meu curso, se matriculou também.

E no curso nós fizemos mais amizades ainda. Todo mundo achava curioso pessoas estrangeiras ali e sempre viam nos perguntar como era o Brasil, como nós vivamos naquele país. Percebi que, nos olhos deles, nós éramos motivo de piada. Política, crise econômica, desigualdade social. Eles sabiam comentar de quase tudo e a pior parte era quando faziam piadas sobre situações ruins que nosso país enfrentava. Sobrou para nós mostramos os pontos positivos que nosso país tinha, as fotos, os lugares turísticos. Eles adoravam saber daquilo e eu ficava orgulhosa ainda existirem coisas boas para serem mostradas.

No final de fevereiro, justamente no dia 22, eu acordei de manhã para mais um dia de trabalho e percebi que estava fazendo muito frio. Eu nem sentia vontade de sair das cobertas. Peguei meu celular para ver a temperatura local e me assustei quando o aparelho apontou -2ºc. Uma temperatura negativa. Tudo bem, estávamos no inverno e Nova York era conhecida por ser bem gelada nessa época do ano, mas desde que eu havia chegado ali, não tinha feito temperaturas negativas.

Foi quando me levantei e olhei por uma das janelas que vi o motivo de tanto frio. Os flocos brancos cobriam os vidros da janela, as árvores e o chão. Alguns ainda caiam do céu e eu quase chorei de emoção! Estava nevando! Eu nunca tinha visto nevar na minha vida e mesmo com aquele frio cortante fiquei super animada para sentir a neve caindo.

Enquanto eu ainda assistia a neve cair, meu celular tocou. No visor, apareceu o nome de Alice e eu quase entrei em desespero. Eu estava um pouco atrasada, mas não tinha dado o meu horário de entrar ainda. Será que ela iria me demitir? Minha ansiedade já estava dando seus picos. Eu odiava as minhas crises de ansiedade mais do que tudo no mundo.

-Bom dia, chefe! – Eu disse em inglês. Ela preferia que eu conversasse em inglês com ela, mesmo sendo duas brasileiras, para que eu me adaptasse ao idioma mais facilmente. – Eu estou um pouquinho atrasada, mas vou correr para chegar no horário e...

-Bia! – Ela me interrompeu. – Calma, menina. Não precisa acelerar nada. Você percebeu que está nevando?

-Sim... – Eu disse enquanto separava roupas quentes para vestir naquele dia.

Eu Te Amarei - Completo e RevisadoOnde histórias criam vida. Descubra agora