45 - Gravidez?

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Bia

24 de setembro de 2016

Último sábado de setembro e por consequência, o começo do outono. As árvores do Central Park tinham assumido folhagens alaranjadas e amarronzadas. O chão estava coberto por várias folhas secas que faziam barulho quando pisávamos nelas e elas quebravam. O sol brilhava fracamente no céu azul, mas mesmo assim, seus raios faziam a mim e ao meu companheiro fecharmos um pouco os olhos.

Paramos em frente a uma arvore e nos sentamos embaixo dela. Pedro carregava um violão preto no ombro e a coleira da Biscoito na mão. Me sentei de frente para ele, soltando o Buddy. Logo, os dois cachorrinhos começaram a correr em volta da árvore e nós dois ficamos sozinhos. Ele colocou o violão no colo e passou uma mão pela minha perna, me chamando para ficar mais perto. Me aproximei e ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e sorriu fraco.

-Você tá bem amor? – Ele perguntou e meu conflito dos últimos dias acabou voltando à minha mente. Não, eu não estava bem.

Desde a minha briga com a Luíza, eu não me sentia plenamente feliz. Ela não me procurou e nem entrou em contato desde aquele dia, já faziam quase três meses. Eu entendia que ela estava bem chateada, mas o afastamento dela me deixou completamente arrasada. Ela era uma irmã para mim, eu gosto muito dela e o fato dela me deixar sem nem sequer me ouvir foi o cúmulo. Porém eu continuava a amando. Às vezes, nós só temos que aceitar que as pessoas continuarão no nosso coração mesmo que elas não continuem na nossa vida.

Todo mundo disse que eu não precisava ligar, que amizades são assim mesmo, mas eu não conseguia lidar com isso como se fosse nada. Toda vez que eu pensava naquela briga, nas palavras que foram ditas e no fato da minha melhor amiga não ser mais minha amiga, eu ficava completamente triste.

Nada conseguia me alegrar, nem mesmo o Pedro que tentava fazer aquilo todos os dias. Ele me levava para vários lugares, fazia várias coisas para mim e eu amava aquilo, chegava até a me animar, mas depois todas as memorias voltavam com toda a força e eu voltava a ficar triste.

-Estou bem, anjo. – Respondi tentando passar certeza. Meu rosto se abaixou e eu fiquei cutucando uma folha seca que estava no meio das minhas pernas.

-Não, você não tá. – Eu olhei para ele, um pouco surpresa. Eu tentava esconder que não estava me sentindo bem, como ele tinha percebido? - Amor, eu te conheço faz tempo. Sou seu namorado a 1 ano e quase 6 meses, você acha que eu ainda não sei reconhecer quando você tá bem e quando não tá? Eu te conheço melhor do que a mim mesmo.

Eu sorri e concordei com a cabeça. A cada dia que se passava, eu tinha mais certeza de que ele era minha alma gêmea. Bom, várias pessoas não acreditam nessas coisas de almas gêmeas. Afinal, da onde saiu essa história que nós humanos, individuais, temos ou compartilhamos nossa alma com outro ser? Alma gêmea quer dizer que nasceram juntas? Parece um pouco absurdo isso.

Eu também não acreditava, mas uma vez meu pai me contou o mito da alma gêmea. Este mito foi criado pelo filósofo Platão que em seu livro O Banquete tenta definir o que é o amor. E nessa busca, muitos convidados de uma festa, cada um por vez, faz um elogio ao deus Eros, o deus do amor. No entanto, um dos momentos mais intrigantes desse texto é quando Aristófanes toma a palavra e faz um discurso belo que acabou se imortalizando como a teoria da alma gêmea.

Aristófanes começa dizendo que no início dos tempos, os homens eram seres completos, de duas cabeças, quatro braços e quatro pernas, o que permitia a eles um movimento circular muito rápido para se deslocarem. Porém, considerando-se seres tão bem desenvolvidos, os homens resolveram subir aos céus e lutar contra os deuses, destronando-os e ocupando seus lugares. Todavia, os deuses venceram a batalha e Zeus resolveu castigar os homens por sua rebeldia. Tomou na mão uma espada e dividiu todos os homens ao meio. Zeus ainda pediu ao deus Apolo que cicatrizasse o ferimento (o umbigo) e virasse a face dos homens para o lado da fenda para que observassem o poder de Zeus. Dessa forma, os homens caíram na terra novamente e, desesperados, cada um saiu a procura de sua metade, sem a qual não viveriam. Tendo assumido a forma que nós temos hoje, os homens procuram sua metade, pois a saudade nada mais é do que o sentimento de que algo nos falta, algo que era nosso antes. Por isso os homens vivem em sociedade, pois desenvolvem o trabalho para buscar nessa relação amorosa, manter sua sobrevivência.

Eu Te Amarei - Completo e RevisadoOnde histórias criam vida. Descubra agora