Capítulo 45

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Acordo deitada no sofá, tapada com uma manta verde tropa. Olho para toda a sala e não vejo o Liam em lado nenhum. Mexo-me um pouco e destapo-me para me levantar.

Os meus olhos começam a ficar embaciados, devido a começarem a acumular lágrimas, quando olho para o meu braço ligado. O meu rosto começa a ficar húmido.

Sinto raiva de mim mesma, por me ter ido abaixo depois de tanto tempo! E ainda por cima, por pessoas que não merecem a minha atenção, por pessoas que só ganharam o meu ódio e que nunca mais quero ver na minha vida.

Deixo o meu corpo cair de novo no sofá e afundo a minha cara na almofada. Solto um grito, que é abafado pelo facto de ter a boca tapada pela almofada, enquanto continuo a chorar.

Oiço movimento na sala e passos a aproximarem-se do sofá, por isso desvio um pouco a minha cara da almofada e olho para uma figura masculina que se aproxima de mim. Limpo as minhas lágrimas e sento-me no sofá.

Harry: Ei, calma! Vai tudo ficar bem! - Ele abraça-me e esfrega as suas mãos pelas minhas costas. Afasta-se e coloca as suas mãos na minha cara. - Estás melhor? - Assinto.

Eu: Que estás aqui a fazer? - O Liam que estava a olhar-nos, em pé, ao lado do sofá, senta-se agora no sofá mais pequeno, que está do lado direito, daquele onde estou.

Harry: Vim cá ver se estava tudo bem, já que não me disseste nada. - Senta-se ao meu lado. - O Liam já me contou o que se passou! - Olha de relance para o meu braço, onde a ligadura branca se destaca, por estar apenas a vestir uma T-shirt. - E o que aconteceu depois. - Diz um pouco mais baixo. Tento esconder o braço com a minha mão direita, mas é totalmente impossível.

Eu: Pois. - Limito-me a dizer. - Mas agora está tudo bem, não é assim?! - Digo um pouco irónica e eles sorri ligeiramente. - A Ashley? - Mudo de assunto.

Harry: Ficou em casa a descansar. Ou melhor, a tentar. Não tem conseguido dormir muito bem, durante a noite. - Olha para o relógio. - E não a queria deixar muito tempo sozinha e já estou aqui à meia hora!

Eu: Dormi assim tanto? - Olho para o Liam e ele limita-se a sorrir, ao mesmo tempo que assente. - Mas vai lá, eu fico bem!

Harry: Ficas mesmo? - Eu assinto e faço um olhar tranquilizador. Levantamo-nos e ele despede-se de nós os dois. - Cuida dela! - Oiço-o pedir ao Liam.

Ele sai e eu caminho de novo até ao sofá. Sento-me e suspiro.

Liam: Estás melhor? - Senta-se ao meu lado.

Eu: Sim. - Deixo a minha cabeça cair sobre o ombro direito dele. Ele respira fundo porque sabe que não estou a ser totalmente verdadeira. - Tenho fome! - Levanto-me. - Vou fazer qualquer coisa.

Liam: Já fiz uns ovos mexidos! - Vem atrás de mim.

Eu: Ah ok.

Sentamo-nos à mesa e começamos a comer. Está instalado um silêncio um pouco esquisito. Não sei o que dizer e segundo conheço o Liam, ele está mortinho por me perguntar se estou realmente bem.

Eu: Amanhã faz 4 anos desde que os meus pais morreram! - Digo.

Liam: Costumas fazer alguma coisa?

Eu: Nunca consegui, mas amanhã quero ir ao cemitério. Vens comigo?

Liam: Claro que sim! - O silêncio volta a instalar-se até a Laika se juntar à nossa companhia.

Arrumamos a cozinha e a última coisa de que me lembro, é de me deitar no sofá, com a cabeça no peito do Liam. Última, porque provavelmente devo ter adormecido e ele deve me ter trazido para o quarto, pois acordei de manha na cama.

Observo o quarto e não existe nenhum sinal do Liam. Decido levantar-me e estou demasiado preguiçosa para tomar um duche, por isso limito-me a vestir umas calças pretas e uma camisa larga e fina branca, de mangas compridas. Arranjo-me e desço para tomar o pequeno almoço. Encontro o Liam a fazê-lo.

Eu: Bom dia. - Abraço-o por trás, enquanto ele está virado para a bancada e deposito um beijo nas suas costas.

Liam: Bom dia. - Vira-se, põe as suas mãos na minha cara e dá-me um beijo. - Preparei-te torradas. - Põe o prato com elas na mesa .

Eu: Hm, estou cheia de fome. - Esfrego a barriga. - Sento-me e pego logo numa torrada, trincando-a.

Liam: A última vez que estavas sempre com fome. estavas grávida.- Pára o que está a fazer e olha-me sério. - Achas que...?

Eu: Não Liam! Nós tomamos precauções, lembraste? E eu tomo a pílula... - Ele profere um "ok" um pouco, talvez, desiludido pela minha resposta. - Desculpa! - Peço pela minha rudez a falar. - Posso confirmar se preferires. - Olho para ele, enquanto se senta para comer.

Liam: Não. Eu sei que é quase impossível. E eu confio em ti. - Ficamos em silêncio enquanto comíamos. - Queres ir ao cemitério agora, ou logo à tarde?

Eu: Agora.

Ele vai vestir-se, enquanto eu arrumo a cozinha. À medida que o faço, não consigo parar de pensar na "conversa" que tivemos. Ele quer imenso ser pai e isso nota-se a quilómetros de distância e ficou um pouco triste com a minha resposta. Mas ambos sabíamos que era quase impossível. Haveremos de ser pais, quando for a altura certa.

Liam: Vamos? - Aparece na porta da cozinha.

Eu: Sim. - Vejo que ele trouxe a minha mala e agradeço. Entramos no carro e ele começa a conduzir. - Desculpa a minha resposta à bocado. Eu sei que tu queres muito ser pai e eu também quero muito ser mão, acredita, mas... - Ele interrompe-me.

Liam: Não te preocupes! Eu sei que não é o momento certo para termos filhos! Ele há-de vir. - Ele sorri e olha para mim. - E não estou triste como eu sei que pensas.

O resto do caminho é feito a ouvir música que passava na rádio. Eu sei que ele compreende a situação toda e vai espera o tempo que for preciso.

Liam: Chegámos. - Avisa e sai do carro. Faço o mesmo.

Compro duas rosas brancas, como os meus pais tantos amavam, numa florista que estava à porta do cemitério, antes de passar por dois grandes portões ao lado do Liam.

Caminhamos, devagar, de mãos entrelaçadas, até às campas dos meus pais, que são uma ao lado da outra. O meu coração aperta cada vez mais, a cada passo que dou. A minha respiração começa a ficar pesada e as minhas batidas cardíacas começam a acelerar drasticamente.

Eu odeio cemitérios e parece que o meu pesadelo de infância voltou e as pessoas também! Para onde quer que olhe vejo pessoas com caras mórbidas, o que me está a deixar com medo e assustada. Caminham todas lentamente por entre as campas e olham todas, ou quase todas para mim. Parece que tenho um íman que atrai os seus olhares.

Com medo agarro-me ao braço do Liam e contenho-me para não sair dali a correr.

Liam: Calma! - O seu polegar faz pequenas festas na minhas mão e leva a outra mão ao minha cara fazendo o mesmo.

Só quero que este pesadelo acabe de novo, por favor!

Flashlight - Book 1Onde histórias criam vida. Descubra agora