8-JAFET HYA

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By Khalid Shall

Alexandre entra no meu escritório afoito.

- O carro está pronto Sr, já podemos partir, o Kléber já foi buscar o homem.

- BATA NA PORTA ANTES DE ENTRAR ! - falo enfatizando cada palavra.

O nervoso faz as pessoas deixarem os protocolos de lado, esquecerem o que aprenderam, cometerem erros, e no meu trabalho, não se pode errar "Seja Senhor das suas emoções", me recordo um sermão que a Alcatéia repetia diariamente.

- Me desculpe Sr. Khalid...

- Me aguarde no carro, já estou indo!

Espero ele sair, para me despedir de Anne, não quero que ninguém saiba ainda sobre as nossas conversas, até eu decidir o quê fazer com ela. Por enquanto, o meu único pensamento é colocá-la no meu colo e possuí-la até não aguentar mais. Pobre moça, como uma ovelha caminha para o matadouro, ela vem ao meu encontro, não existe felicidade na escuridão da minha vida.

Entro no carro, onde Alexandre me aguarda e partimos para a fazenda reservada para os meus jogos. Gosto de ficar sozinho antes de tudo começar, na fazenda têm doze homens bem treinados à minha disposição. Peço para o Alexandre me avisar quando o homem chegar, e me retiro para um cômodo grande que arrumei exclusivamente para me preparar.

E hoje vou precisar mais do que nunca, pois Anne está dominando os meus pensamentos "Seja Senhor das suas emoções" a frase volta a minha mente, como um despertador irritante.

Ligo o telão, e ponho um vídeo que guardo exclusivamente para momentos como esse. O meu conselheiro na Alcatéia dizia se tratar de um vídeo motivacional, e de certa forma não deixa de ser.

Respiro fundo com o controle nas mãos, aperto o play, imagens terríveis aparecem na tela, não importa quantas vezes eu as veja, sempre me causam o mesmo efeito.
O ódio vai me invadindo, de forma crescente, até não caber mais dentro de mim, e um grito do fundo da alma ecoa pelo ambiente.

Última cena. Eu tinha um amigo, um único amigo, também soldado da Alcatéia, Jafet Hya. Ele era um pouco mais jovem que eu, veio para ser treinado pela Alcatéia aos doze anos, e foi muito difícil para ele entender que ele havia sido um escolhido, que não havia volta quanto à isso. Ele não concordava com regra alguma, e para a Alcatéia é imprescindível que todos tenham o mesmo pensamento, Jafet Hya era castigado severamente e com frequência, então me aproximei dele e o fiz entender que se ele não aceitasse logo a situação, ele apenas sofreria mais, e por fim se tornaria um soldado pior.

Aos poucos ele foi se conformando, ficamos muito amigos, até que certo dia o conselheiro chamou Jafet e eu:

- Soldados, o que vocês são capazes de fazer em nome da Alcatéia?

- Tudo Senhor - respondemos imediatamente.

Ele entregou uma arma para Jafet e disse:

- Jafet está arma está carregada, por ser o mais novo lhe dou o privilégio de iniciar o jogo, mate Khalid Shall.

- Não, Senhor! - Jafet respondeu temeroso.

- Você não entendeu o jogo jovem rapaz. Se você atirar nele, ele morre, você vive. Se você não atirar, passarei a arma para a mão dele, ele atira, você morre, ele vive.

Jafet apenas balançava a cabeça apavorado.

O conselheiro prossegue:

- Por fim, se ele não te matar os dois morrem!

Meu coração batia descompassado não conseguia pensar em nada, aquilo era um pesadelo, só podia ser. Jafet tentou e muito, mas não conseguiu atirar em mim, apenas olhou para o céu e disse:

- Nos encontramos lá amigo!

Dito isso, ele me entregou a arma.

O conselheiro falava o tempo todo, mas eu nada ouvia, eu nunca havia matado antes, essa seria a primeira vez, fechei os olhos e atirei. Eu não estava pronto para morrer naquele momento.

Os outros soldados me aplaudiam, eu havia sobrevivido, mas o meu coração não, ele foi esmigalhado naquele chão, naquela arena.

- Soldado Shall, nunca tenha seu coração batendo fora do seu corpo! - um soldado mais antigo me falou.

- Eu não tenho mais um coração.

Foi ali que aprendi a mais dura lição da minha vida, eu era um condenado, qualquer pessoa que se aproximasse muito, morreria, pelas minhas mãos ou pela Alcatéia.

- Doce Anne, sinto muito! Mas, do meu jogo você sairá muito machucada, e pelas minhas próprias mãos.

TERRORISTAOnde histórias criam vida. Descubra agora