13-O QUARTO

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By Anne Rocha

Quando penso em chamar por alguém, pois não aguento mais ficar amarrada, um homem entra carregando alguns objetos, que não consigo identificar. Ele me olha por alguns instantes, e diz que vai colocar uma venda em meus olhos.

-Aqui já não está escuro o suficiente? - dou um riso fraco.

Ele sai, me deixando sozinha, com a minha dor. Não sei dizer o que dói mais, se os meus braços amarrados, ou o meu coração, pela traição do meu pai. Mesmo assim, não quero que ele morra, não importa o que façam, não vou entregá-lo para esses bandidos.

Novamente alguém entra no cômodo, posso sentir o seu cheiro, têm bom gosto o filho da puta. Ouço seus passos caminhando lentamente ao redor de mim, ele segura os meus braços e corta as cordas, eu solto um grunhido de dor e alívio. Sinto uma leve tontura, mas ele me segura forte, num instante põe os meus braços para trás, e sinto algo gelado encostar na minha pele.
Oh não, algema! Ele me guia para fora do cômodo, e eu caminho tropeçando nos meus próprios pés, mas seu braço firme me mantém colada junto à ele, eu inalo seu cheiro, é maravilhoso. A fome deve está afetando minha mente, só pode!

Ele para de repente, se afasta e fala pela primeira vez.

-Sente-se!

Ele não é brasileiro. Sua voz é carregada de um sotaque pesado. Eu me sento em algo macio, nossa eu realmente estava precisando me sentar.

-Fique sentada aí, em um instante eu volto para te soltar, e então você vai poder descansar! Também vou mandar trazerem um café da manhã reforçado. Deve está com muita fome, estou certo? - ele fala.

Pensei em dizer o quanto eu estava com fome, cansada, exausta fisicamente e psicologicamente, e que tudo o que eu queria era voltar pra minha casa, pra minha cama, para o meu computador, meu Facebook, enfim... Eu queria dizer tantas coisas, mas optei por não dizer nada, não vou dar esse gostinho a ninguém, de me ver implorando!

Ouço ele se afastar e trancar a porta, eu dou risada. Bem desnecessário trancar a porta, como vou fugir se estou algemada e ainda por cima não posso ver nada.

Me levanto da onde estou sentada, dou uns dois ou três passos, e caio de cara no chão.

-Ai! - contenho o grito e me sento no chão, lembro do homem ter dito algo sobre não se levantar, pra eu não me machucar, mas eu sou muito burra mesmo.

O cara do sotaque estrangeiro disse que voltaria para me soltar, mas foi outro que veio no lugar dele, tirou a venda e a algema, e me trouxe uma bandeja com pães, biscoitos, ovos, café, leite, chá, geléia, manteiga e queijo fresco.

Olho ao redor, estou em um quarto grande, tem uma cama de casal, com lençóis brancos, um criado mudo, que foi na onde eu tropecei, uma escrivaninha com uma cadeira dessas de escritório, um guarda roupa contendo roupa de cama e toalhas de banho, ao lado do guarda roupa há uma porta que dá acesso ao banheiro.

Ual! Esses caras estão sendo civilizados pelo menos, o barbudo não me deu um copo com água quando cheguei. Deve ter acabado o plantão dele, sorrio e como tudo o que veio na bandeja, porque quando o barbudo voltar já sei que acaba a mordomia.

TERRORISTAOnde histórias criam vida. Descubra agora