16-ESTRANGEIRO CHEIROSO

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By Anne Rocha

Lá vem o cara com algema e venda de novo. Meu corpo está tão dolorido que eu apenas coloco os braços para trás, para que ele coloque a algema, mas continuo deitada, sem ânimo algum pra me mover.

O estrangeiro cheiroso entra no quarto, mesmo sem vê-lo reconheço pelo perfume, é um cheiro bom, desses que dá vontade de grudar no cangote do cara e ficar cheirando, minha diabinha interior deseja ver o estrangeiro cheiroso, pra saber se ele é gostoso como o perfume. Já a minha anjinha interior está me xingando (santamente), porque eu deveria está preocupada com o meu pai, ao invés de querer cheirar cangote de bandido. Dessa vez, eu tenho que concordar com ela!

O estrangeiro cheiroso me perguntou se eu estou bem, piada de mal gosto, mas respondo educadamente que sim, pois tenho um plano em mente. Capricho na minha melhor vozinha de gata manhosa e peço para ele tirar a venda dos meus olhos, mas... não colou.

-Senhorita quando perdemos um dos cinco sentidos, despertamos em nós o sexto sentido! Poderia aproveitar a situação para aguçar o seu sexto sentido...

De repente sinto os seus dedos tocarem o meu braço e o meu corpo traidor reage à ele, o toque é suave, porém as sensações se espalham por todo o meu corpo, se concentrando lá, aonde eu mais almejo ser tocada.

Ele me pergunta se dói, digo não, mas também pode ser sim. Seus dedos acariciando o meu braço não dói nada, mas dói quando ele pára, porque quero mais das suas mãos. E dói mais ainda, sentir esse desejo por alguém que me faz prisioneira e quer matar o meu pai.

Ouço o som do celular tocar, e ele diz que vai me deixar sozinha. O que é ótimo, preciso colocar o meu sexto, sétimo, oitavo sentido enfim, minha cabeça para funcionar, porque do jeito que estou, vou acabar abrindo as pernas para um bandido, vindo de um país que eu não sei qual, cheiroso porém que eu nunca vi, que me algema e pergunta se estou bem, e que pretende matar o meu pai e com certeza me matar também!

-Anne, virá um rapaz soltá-la e tirar a venda, vista a blusa de frio, até que eu mande alguém trazer... hãm... roupas melhores - sua voz é firme e fria, como quem dá uma ordem que não pode jamais ser desacatada.

Só agora me dou conta que não estou usando roupas íntimas, posso me sentir corando dos pés até o meu último fio de cabelo. Suas palavras ficam ecoando em minha mente. Senhorita? Quem nos dias de hoje usa esse termo? A imagem do Marcelo Augusto me vêm à mente. O estrangeiro cheiroso é tão mandão quanto o Marcelo nas mensagens, eu realmente estou ficando louca!

Ficar presa aqui já está me deixando com os nervos à flor da pele.

By Antônio Rocha

-Aonde está a minha filha? - pergunto e dou mais um soco em Kléber Trevisan, que se contorce no chão gemendo.
-Eu não sei, o cara para quem eu liguei a pegou, mas eu não sei para onde ele a levou.

-Qual o nome do cara que levou minha filha? - grito com homem, o puxando para que fique de pé.

-Não posso falar Delegado, ele me mata!

-Se você não falar, EU te mato!

O homem estremece, e eu lhe dou mais um soco, ele cai no chão.

-Nem que eu tenha que quebrar todos os ossos desse seu corpo maldito, você vai me levar até a minha filha! LIGA DE NOVO!

-Ele não vai atender... seu Delegado, a essa hora... já deve saber... que fui pego - o homem fala entre um gemido e outro.

-Kléber Trevisan se daqui a 30 minutos, eu não falar com a minha filha, você morre! Ligue até para o Papa se precisar - olho no relógio e completo - 19:15 estarei de volta, faça-se útil ou te despacho para junto do seu amigo Francisco.

O homem coloca as duas mãos no rosto, eu saio da sala e ordeno para que um policial fique de guarda.

Preciso de cafeína, me sinto esgotado, morto, derrotado, impotente, sem saber aonde está minha filha, se ela está bem ou... um pensamento sombrio me vêm à mente, eu o afasto imediatamente, ela está viva, eu sei que está, eu sinto no meu coração de pai, que a minha menina está viva. Encosto na parede próxima à entrada da delegacia, e deixo o meu corpo escorregar para o chão.

-De novo não meu Deus, por favor, de novo não!

A chuva cai, e eu aproveito para derramar as lágrimas que guardo dentro de mim, choro por Estela, choro por Anne, choro por ser quem sou.

TERRORISTAOnde histórias criam vida. Descubra agora