11-MANCHETE

13.8K 980 21
                                    

By Anne Rocha

Abro os olhos com grande dificuldade,
minha cabeça dói absurdamente. Aonde estou? Me pergunto atordoada, o corpo está todo dolorido, me sinto pior do que quando meu pai me bate de cinto.

Meus punhos estão amarrados e suspenso, numa corda que pende do teto, de forma que estou com os braços esticados acima da cabeça.

Acho melhor chamar por alguém, de repente consigo negociar uma posição mais confortável, pois os meus ombros, braços e punho estão doendo muito.

-Socorro, têm alguém aí? - grito.

A porta se abre instantaneamente.

-Acordou anjinha? - um homem barbudo fala comigo.

-Por favor, me tira daqui! Meus braços estão doendo -peço em tom de súplica.

-Sim minha anjinha, eu vou te tirar daí. Mas, primeiro você precisa me fazer um favor...

-O que você quer? - pergunto.

-Primeiro o número do celular particular do seu pai. Segundo, você vai fazer uma ligação bem tranquila dizendo para ele vir te buscar. Viu que simples!

Entendi tudo! Eles querem pegar o meu pai e eu sou a isca.

-Você vai matar o meu pai? - falo receosa, com medo de ouvir a resposta.

-Sim! - o barbudo fala e ri. - Agora, seja boazinha e me fale o número.

-Nunca - grito em resposta.

-Então você vai ficar pendurada aí, até resolver cooperar comigo. Sabe - o barbudo prossegue falando e me rodeando - você é um pedaço de mal caminho e eu vou adorar me perder em você.

Ele dá gargalhadas, e eu congelo por dentro.

O homem sai do cômodo, e apaga a luz me deixando sozinha novamente, o tempo parece se arrastar e eu espero desesperadamente pelo momento em que o meu pai vai abrir aquela porta e me salvar.

A posição em que estou é extremamente desconfortável, mas eu não vou ceder, não vou deixar o meu pai morrer nas mãos desses monstros.

Ele virá me salvar, eu tenho certeza.
Muito tempo depois, o barbudo entra novamente no cômodo, agora parece mais impaciente do que antes.

-Olha só gracinha, o seu tempo esgotou. Você vai ligar e vai dizer o que eu mandar.

-Nunca! Não vou entregá-lo! - o desespero começa a me dominar e a minha voz sai como um miado.

-Então você irá apodrecer aí, sem comida e sem água, vamos ver quanto tempo aguenta!

-Ele vai vim me buscar, e vai matar todos vocês! - as palavras mal saem da minha boca, e um tapa machuca o meu rosto.

-Você está enganada querida, ele não virá te salvar, assim como ele não pôde salvar sua bela mamãe...

-Ele não teve como salvar mãe, ela estava muito doente, nenhum médico descobriu o que ela tinha, ele fez tudo o que pode - falei mais para eu mesma do que pra ele.

-Psiu! - o barbudo põe a mão sobre a minha boca para que eu me cale. - Seu pai mentiu pra você gracinha, ele é o único responsável pela morte da sua mãe!

-Mentira! - grito e cuspo na cara do barbudo nojento.

Outro tapa, faz minha visão perder o foco e voltar.

-Se comporta menina, antes que eu acabe com a sua raça! - o barbudo fala entre os dentes e sai mais uma vez do cômodo, porém a luz fica acesa.

Poucos minutos depois, ele volta, com mais dois homens.

-Tirem ela daí! - o barbudo fala.

Rapidamente os homens desatam os nós, e tenho que me apoiar em um deles para não desabar no chão, eles me arrastam até um outro cômodo, neste tem duas cadeiras de plástico e uma mesa também de plástico.

-Sente-se! - o barbudo ordena.

E eu me sento, aliás tudo o que eu quero é me sentar.

-Qualquer gracinha e eu meto uma bala na sua cabeça - ele agita a arma na minha direção.

Eu apenas balanço a cabeça apavorada.

O barbudo puxa a mesa para perto de mim e coloca um notebook sobre ela, ele digita algo, sorri e vira à tela para que eu possa ver.

-A senhora Estela Rocha foi manchete nos jornais por vários dias, veja o vídeo...

"Foi encontrado hoje o corpo da esposa do Delegado Rocha. Estela Rocha foi estuprada e torturada até a morte por cinco bandidos, um deles Roberto Pinheiro já se entregou, os outros quatros continuam foragidos. Fontes afirmam que o Delegado Rocha teria um relacionamento extra conjugal com a babá da filha do casal, e que descobrindo a traição Estela Rocha teria saído da casa tarde da noite e bebido muito, tornando-se assim alvo fácil para os bandidos."

-Desliga isso! - grito, empurrando o notebook. -É mentira! É mentira! É mentira!!! Seus mentirosos de uma figa! - as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

Minha mente está confusa. Eu preciso muito ficar sozinha, chorar todas as lágrimas a qual tenho direito.

-Entendeu gracinha? O seu pai não é um herói, ele é o ban-di-do. - o barbudo fala frisando a palavra bandido.

Chuto o barbudo com toda a minha força, ele grita e manda me amarrarem de novo, com os braços para cima.

Sozinha naquele cômodo escuro, começo a entender algumas coisas, a preocupação exagerada do meu pai comigo, apenas remorso."Os homens são uns animais", sim, os assassinos da minha mãe e ele próprio, se não fosse por ele, ela estaria viva, cuidando de mim. Choro, um choro angustiante, de raiva, de ódio, me sinto traída, enganada e acima de tudo, sozinha.

TERRORISTAOnde histórias criam vida. Descubra agora