22-GUERRA DE NERVOS

12.2K 778 5
                                    

Brasília, 07 se Janeiro de 2016
Às 07:45

By Antônio Rocha

Acelero o carro tanto quanto posso, mas ainda estou longe de São Paulo, meu celular toca:

-Delegado - ouço aquele sotaque maldito, e já sei quem é -Estás atrasado! - Khalid Shall fala.

-Obrigado por me lembrar - falo amargamente - Não faça nada com Anne lhe imploro.

-Depende unicamente de você Delegado! - Khalid fala, seu tom é frio e carregado de raiva reprimida.

-O que eu fiz a você? Já percebi que não é dinheiro o que você quer. O que você quer comigo? Solte Anne e resolvemos apenas nós dois, qualquer pendência que possa haver... - digo-lhe.

-Sua pendência não é comigo Delegado! Te enviarei o endereço por mensagem, e Delegado Rocha, não se esqueça, eu sou muito pontual, você tem exatos quinze minutos!

-DROGA! - grito.

Eu acelero mais o carro, o suor escorre pela minha testa, o celular de Anne está no bolso do meu terno, espero que a polícia chegue na hora certa, não vou me perdoar se Anne morrer.

Vejo a mensagem com o endereço do local do encontro, coloco no GPS, de acordo com o equipamento chegarei ao local às 09:10. Já perdi às contas do quanto rezei pela minha filha durante todo o trajeto, passo por um posto de gasolina e paro, digo que vou tomar um café.

-Delegado você está ferrado, nem se o Alladin passasse por aqui e te levasse no tapete mágico você chegaria no horário, e você ainda quer parar pra tomar café? - Kléber fala, com aquele sorriso que me dá vontade de lhe quebrar todos os dentes.

-Sim, Kléber não consigo andar mais cem metros sequer - respondo mal humorado e vou para a conveniência.

Tomo uma pequena xícara de café, os dois homens me acompanham. Vou em direção ao banheiro, eles vêm atrás de mim.

-Será que posso ter um pouco de privacidade pelo menos para usar o banheiro -falo.

O cara que mal abriu a boca em todo o percurso diz:

-Espero que você não esteja querendo aprontar Delegado, um passo errado que você der e eu aperto esse botãozinho e sua filha morre! - ele diz balançando o celular em minha direção.

Entro no banheiro, pego o celular de Anne no meu bolso e envio a mensagem com o endereço que Khalid me passou, quando saio vejo Kléber falando no telefone, meu coração dispara. E se o celular de Anne também estiver grampeado?

Respiro fundo e sigo para o carro.

O endereço que Khalid passou é uma rua sem saída, olho no relógio já passam das 09:30, mas não tem nada lá, nem um carro sequer. Os dois homens conversam descontraídos no carro, eu pego o meu celular para ligar para o Khalid, mas o mesmo toca instantaneamente, é uma mensagem com um outro endereço, informando para onde eu devo seguir.

Guerra de nervos, sei bem o que é isso, Khalid Shall é um grande jogador, devo admitir, quanto mais nervoso eu ficar, menor a chance de conseguir agir na hora certa.

Conto até dez várias vezes, tentando me acalmar e sigo para o novo endereço, chego a uma estrada com diversos carros passando de um lado e do outro.
Recebo mais uma mensagem.

Khalid - Desça do carro, prossiga a pé, a sua direita têm uma estradinha de terra, há uma trilha, siga pela trilha até o final.

Encosto o carro e sigo as coordenadas que ele me passou, Kléber Trevisan e o outro cara me acompanham com a arma na mão. Como se eu pensasse em fugir, morro, mas não desistirei da minha filha.

No final da trilha há um imenso capão aberto, um helicóptero está pousado quase junto às árvores, sem dúvida uma manobra arriscada, Khalid está de costas para mim a uma distância de 100 metros ou mais. O homem é alto e imponente, posso sentir sua energia pesada da onde estou, ele veste terno e calça clara, quando se vira vejo o seu olhar gelado, ele segura um terço nas mãos, quem diria que o homem é religioso.

-SHALL, ESTOU AQUI, O QUE VOCÊ QUER DE MIM? - grito para que ele me escute.

Atrás dele têm três homens armados com fuzis, e dentro do helicóptero apenas o piloto, olho ao redor, minha Anne não está aqui.

TERRORISTAOnde histórias criam vida. Descubra agora