TERRORISTA

27-DOSE DUPLA

Brasília, 07 de Janeiro de 2016
às 11:30

By Anne Rocha

Não consigo contabilizar por quantas horas caminhei, achei que a qualquer momento seria pega, andei a maior parte do tempo pelo matagal.

Chorei e parei de chorar diversas vezes, só queria encontrar alguém para pedir socorro.

Minhas preces foram atendidas e uma caminhonete passou por mim, me joguei na frente do carro e implorei:

-Por favor, me tirem daqui eu não quero morrer!

Eram dois senhores velhos que levaram um baita susto, não sei se por eu atropelar o carro, pelo meu estado, ou pelo meu apelo.

Mesmo assim me levaram até a cidade, aonde peguei um táxi para casa, a rádio passava notícias sobre a política no Brasil entre outros assuntos, de repente ouço o nome do meu pai, peço para o motorista aumentar o volume.

"É preso hoje pela manhã em São Paulo o famoso Delegado Antônio Rocha, acusado de assassinar Kléber Trevisan e Thiago Dominique, sabe-se que Kléber Trevisan havia sido responsável pelo sequestro mal sucedido do Deputado Juarez e que em uma grande operação, o Delegado haveria o conduzido para a delegacia. Segundo informações o Delegado Rocha ainda não prestou depoimento, pois encontra-se em estado de choque."

A notícia de certa forma me deixou aliviada, porque antes preso, do que morto. E eu tenho certeza que o meu pai é inocente, ele nunca faria mal a alguém que não merecesse.

Eu preciso ligar para ele, ele têm que saber que eu estou bem, já será uma preocupação à menos, ele conseguirá provar que é inocente e voltará para casa.

Ao chegar em casa, Selma não sabe se me abraça, me beija ou me aperta para ter certeza que estou ali.

Também estou muito feliz em vê-la, como se tivesse ficado um ano longe de casa.

Pago o taxista e Selma me escolta para dentro da casa, digo à ela que preciso falar com o meu pai, mas ela nega:

-Primeiro você vai tomar um banho, porque você está imunda, parece que… parece que andou pulando o muro…

-Quase isso Selminha! - respondo.

-Enquanto você toma um banho bem quentinho vou preparar aquelas panquecas que você adora, que tal?

Enquanto subo as escadas grito para ela:

-FAZ TUDO EM DOSE DUPLA, PORQUE ESTOU ESGANADA DE FOME!

-Farei minha princesa, e você vai me contar tudinho o que andou aprontando…

By Antônio Rocha

-É Delegado está difícil entender essa história, o Sr. pegou Kléber Trevisan no apartamento da dona Beatriz, o conduziu para a delegacia, depois partiu com ele para São Paulo, porque um tal árabe disse que estava com a sua filha, e trocariam o Kléber Trevisan pela sua filha. Mas, chegando lá encontro dois corpos que foram baleados pela sua arma, e nenhum árabe. Está realmente difícil acreditar nessa história. Por que o árabe mataria o parceiro, se ele fez você carregá-lo de Brasília até São Paulo? Eu entenderia se fosse para que o homem não desse com a língua nos dentes, mas se o próprio árabe revelou a identidade para o Sr. , não faz o menor sentido!

-Mas, é a verdade Dr. Martins! Eu não atirei naqueles homens, se eu fosse fazer isso não chamaria a polícia!

-Só me explique porque o tal árabe sumiu assim que chegamos, com todo o respeito que tenho pelo Sr. Delegado, arrume uma história melhor, a corregedoria não vai acreditar nisso…

-Me deixe ir embora, enquanto estamos aqui discutindo Khalid Shall está com a minha filha!

-Ah o árabe é o lendário Khalid Shall, são tantas histórias envolvendo esse nome, que para mim não passam de lendas urbanas…

-EU ESTIVE COM ELE! - grito.

-Ah é? E como ele é?

Pego o celular de Anne, que ainda está no bolso do meu terno, e mostro para o Dr. Martins, apontando:

-É esse cara no fundo da tela!

-E o Sr. anda com a imagem do árabe como papel de parede do seu celular??? Delegado Rocha o enviarei para Brasília, para que os seus superiores o interroguem, pois a minha paciência e o meu tempo acabaram.

-Dr. Martins? - uma loira entra na sala. -Tem uma moça no telefone, ela quer falar com o Delegado Rocha…

-Quem é a moça Sarah? - Dr. Martins pergunta.

-Anne Rocha, a filha do Delegado.