Capítulo 2

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CAPÍTULO 2

— Como é mesmo o seu nome?

O recepcionista do hotel a analisou com desconfiança, mas ela achou compreensível. O cabelo preso já teve dias melhores. A calça jeans desbotada também não lhe conferia a melhor das aparências. Era uma mochila surrada que pendia do seu ombro, não uma Louis Vitton sofisticada. Nada nela combinava com aquele recinto: um hotel classificado com cinco estrelas quando na verdade merecia uma constelação inteira.

— É Stela Reis. — Repetiu, forçando um sorriso.

— Certo... Encontrei sua reserva. — O homem falou polido, sem tirar os olhos da tela do computador. — Queira nos desculpar por dificultar sua entrada, mas chegamos a pensar que era uma das fãs da banda.

— Sem problemas. — Stela falou, o timbre amigável. Fingiu não se importar por quase ter sido derrubada pelo segurança troglodita do hotel. Não queria fazer uma cena, não perto daquelas madames de cabelos impecáveis e sapatos que valiam mais do que pagava sua bolsa de estudos anualmente.

Lá fora, os seguranças ainda tentavam conter a multidão de garotas e rapazes que ameaçavam invadir o lugar. Eles seguravam pôsteres e capas de CDs contra o peito. Alguns gritavam compulsivamente.

— Aqui está seu cartão, senhorita Reis. O quarto fica no sétimo andar. O café é servido entre seis e dez e meia. Bagagem?

A mão do recepcionista aguardou a poucos centímetros da campanhinha por uma resposta. Tinha unhas incrivelmente polidas para um homem. Em outro ponto da recepção, o mensageiro virou o rosto, em alerta. Era um garoto jovem e usava luvas. Stela achava que só nos filmes eles se vestiam daquela maneira.

— Só essa. — Com um olhar rápido, a garota indicou a mochila. — Mas eu mesma levo, obrigada.

Já era uma piada ela estar naquele saguão que poderia refletir sua áurea de tão brilhante. A piada seria ainda maior se a sua mochila subisse para o quarto em um carregador de malas dourado.

Não mesmo. Melhor evitar.

O recepcionista voltou a mão para trás do balcão e sorriu, os olhos se estreitando por trás de lentes bifocais numa armação arredondada:

— Desejamos uma excelente estada.

Carregava poucas roupas para os dois dias em Praga. Só peças coringas conforme as orientações de um blog para mochileiros. Camisetas de cores sóbrias: uma combinação sensata para os dois pares de calças jeans, um moletom folgado (que logo estaria saindo dos braços e indo direto para o chão acarpetado do quarto). Um par de botas, além dos Converse nos seus pés. Também havia um nécessaire cheio de maquiagem para quando toda aquela história de praticidade começasse a dar no saco.

Deixou a bagagem num canto do quarto. Suas costas agradeceram. Ela fez uma ceninha antes de acender as luzes. Queria ter certeza de que o interior era tão pomposo quanto sugeriam as fotos do Booking.

Não, era muito melhor do que o site de reservas a fez acreditar.

— Caramba, não acredito que fiz essa loucura. — Disse sozinha, mas se perdoando. Afinal, era só uma noite. O preço estava convidativo, uma promoção de última hora. E ela havia economizado tanto naqueles hostels de banheiros coletivos que entendeu a extravagância como uma boa aplicação, um tipo de investimento. Seu corpo todo concordou quando os membros deslizaram pelo lençol acetinado da cama.

Bem... Só se vive uma vez.

Tinha todo o dia pela frente, livre de compromissos do Mestrado. E não queria saber de mais museus, nem de igrejas. Tudo o que queria era conforto. Ficar estirada na cama até que outra ideia surgisse, parecia a melhor opção.

Não Conte aos Paparazzi (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora