CAPÍTULO 6
TRÊS MESES DEPOIS...
Morava ali há mais de três semanas e ainda não sabia dizer com certeza a cor da fachada do prédio. Era como se uma chuva ácida tivesse caído torrencialmente sobre a construção, mas poupado seus vizinhos, até deixar o edifício "Rio das Ostras" com a mesma nuance de um portador de icterícia.
Stela queria poder dizer "por dentro é legal", mas isso também não seria verdade. Os eletrodomésticos e móveis do dono anterior haviam deixado contornos exatos no chão e nas paredes, como sinalizações policiais da ocorrência de uma chacina. A única suíte tinha uma vista para o apartamento dos outros: o quarto de uma garotinha que possuía um exército de bonecas loiras e pôsteres do garoto mais popular de uma boy band. De qualquer forma, o lugar era um combo funcional para uma jovem de vinte e um anos que resolve morar sozinha: preço; mais, proximidade da universidade; mais, um chuveiro que funcionava bem.
Resumindo, ela amava o lugar.
As telas decorativas na parede, as roupas de cama combinando e o conjunto de bibelôs sob a mesinha de centro: tudo era mão de Íris. Stela não reclamou, nem mesmo pelo fato de que as folhas opulentas da zamioculca agora estarem ocupando o espaço onde planejara colocar a coleção de vinis antigos, pois confiava no bom gosto da mãe. Além do que, seria bom ser responsável por outra vida. (Ainda que plantas não pudessem reclamar de quem se esquece das suas necessidades vitais).
Stela ministrava aulas durante o dia para o ensino médio, mas passava a outra parte do tempo na Universidade Federal do Rio de Janeiro finalizando o projeto de pesquisa do seu mestrado. Não porque queria ser considerada aluna exemplar (longe dela ser a garota nova a competir com todos aqueles professores de egos colossais), mas porque não podia se dar ao luxo de passar mais do que duas horas no escritório mofado do apartamento sem ter uma crise respiratória.
Nos finais de semana, se permitia ouvir música enquanto ajeitava o apartamento. E quando o rock intruso da Dark Paradise surgia entre a sequência aleatória de MPBs, era inevitável: seu coração sempre apertava um pouquinho.
O cartão com o número de Brian ainda estava na parte mais segura da carteira, já amassado nas pontas. Não foram poucas às vezes que pensou em enviar uma mensagem de texto para o rapaz. Geralmente a ideia surgia depois de algumas batidas feitas com vodka barata. Mas não saberia lidar com a decepção caso não fosse respondida, por isso escondia o cartão sempre que a vontade ficava mais forte do que seu juízo.
Talvez fosse melhor nunca tê-lo conhecido, afinal, o homem fez com que todos os garotos que Stela conheceu dali em diante se tornassem menininhos incipientes nas artes de sedução. Claro. Quem experimenta do fruto proibido, não se satisfará mais com a previsibilidade do paraíso.
E o mais triste, não era pensar que o tempo iria desvanecer suas recordações daquela noite...
Mas saber que ela seria ainda mais turva nas lembranças dele.
***
Eram apenas duas horas até Vassouras e daquela vez Stela saiu cedo. Queria chegar a tempo de tomar o café da manhã com sua família. Sentia falta disso: os quatro juntos na mesa, o cheiro de pão fresquinho acompanhado das atualizações de Charles sobre acontecimentos políticos do mundo, e também as últimas fofocas sobre os vizinhos. Esta última parte, cortesia de Íris.
Encontrou a porta já destrancada, (sua mãe sofria da mesma fé cega ensinada a moradores de cidades interioranas de achar que locais menos povoados estão alheios aos males do mundo). A casa tinha cheiro de alvejante e tinta a óleo. Notou o quadro novo na parede da sala, uma reprodução da praça matriz. O verde da grama mais pastel do que a realidade. Íris provavelmente alterara o tom a fim de combinar melhor com a decoração da sala.
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Não Conte aos Paparazzi (concluída)
RomanceModelos, atrizes famosas, ou ambas numa mesma noite: Brian Carter não se importa com sua má fama de mulherengo e tampouco estava disposto a abrir mão da liberdade quando conheceu Stela Reis. Achando se tratar de mais uma fã que cairia fácil no seu c...