Capítulo 23

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CAPÍTULO 23

Brian passou a se exercitar com maior frequência desde que parou de beber. Gostava de correr no meio manhã, quando as chances de esbarrar com seus vizinhos reduzia significativamente. Afinal, empresários bem sucedidos tinham coisas mais importantes para fazer àquele horário, como analisar os passivos das empresas ou exigir que as secretárias acertassem a dosagem dos seus expressos longos.

Por um espaço entre cercas-vivas, Brian avistou o garoto puxando um filhote de Border Collie. A cerca, o menino, o cão: tudo parecia a cena onírica de um conto de fadas. O jovem tinha cabelos cor de areia e pele apagada, como se aquela fosse a primeira vez que saísse durante o dia. Ele sorriu e deu um aceno quando viu Carter.

Keith Miller, dezessete anos, o vizinho de frente de Brian. Filho único de um casal de cirurgiões plásticos famosos. Os Miller gastaram boa parte da fortuna em tratamentos para que o pequeno Keith fosse concebido e hoje estivesse por aí, circulando nas redondezas e vendendo "doce" em raves para adolescentes tão ricos quanto ele.

Era um garoto legal, e que também não tinha balanços empresariais com os quais se ocupar em plena manhã.

Brian tirou os fones de ouvido, ele e Keith trocaram o cumprimento cordial esperado entre duas pessoas que não se viam há tempos.

— Keith. Quanto tempo. — Brian disse.

— Pois é. Quase um ano de reabilitação. — O jovem contou enquanto evitava os dentinhos do cão na canela fina. Não tinha nenhum pingo de suor na pele, mesmo com aquelas roupas pretas. — Meus pais andaram dizendo que fui para um colégio interno, mas não é a verdade.

— Disseram, é? Não pra mim.

— Já esteve na reabilitação?

— Bem, não.

— Ah, sério? — Keith sorriu com admiração. — Achei que fosse algo meio que obrigatório para astros do rock.

Agora eles estavam andando um ao lado do outro, no ritmo do cachorrinho que queria conhecer tudo a sua volta: bem devagar. Um Porshe passou acelerando na rua. Havia uma placa, duas esquinas acima, indicando aos motoristas o limite de velocidade compatível com o ideal de segurança que bairros ricos buscam. Brian já teria passado por ela se estivesse sozinho.

— Mas frequento o AA. — Carter achou por bem tentar atender às expectativas do garoto sobre celebridades e uso abusivo de entorpecentes. — Duas vezes por semana.

— Hum. Falar sobre seus problemas para um monte de gente com problemas piores. Uma merda. A gente tinha que fazer isso na reabilitação também.

Brian ficou pensando um pouco, depois apontou para o cachorro quando achou que o assunto "drogas, álcool e reabilitação" pudesse ter acabado.

— E esse carinha aí?

Keith deu uma olhada para o bicho, o focinho fez um gesto parecido com um sorriso.

—É a Portia. Meus pais disseram que eu precisava me socializar.

— E você é daqueles que preferem animais a pessoas.

— É mais questão de pretexto. Cachorros precisam sair para passear. Eu preciso fumar. A Portia é minha desculpa. Saio com ela duas vezes ao dia, fumo de três a cinco cigarros em cada volta. É melhor do que nada.

— Seus pais não sabem que está fumando?

— Meus pais não sabem nem em que ano estamos.

Portia ficou irrequieta de repente e começou a choramingar, exigindo que o dono acelerasse. Keith fez uma expressão de sofrimento e arquejou. Finalmente começou a transpirar e até um pouco de cor surgiu em suas bochechas. Ele tirou um cigarro do bolso, mas ficou só segurando. Fumar naquela subida não parecia mesmo uma boa ideia.

Não Conte aos Paparazzi (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora