Capítulo 17

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 CAPÍTULO 17

—Você quer ficar na fossa, eu respeito, mas se esta música tocar mais uma vez eu juro, vou quebrar este aparelho.

A música era Love Hurts do Nazareth e Stela já estava quase decorando o refrão antes de Josi desligá-la. O quarto tinha o cheiro abafado de alguém que não saía da cama há um bom tempo.

— Hum... — Stela grunhiu. — Como você entrou aqui?

— Fiquei com uma cópia da sua chave quando me pediu para cuidar da sua planta, lembra? — A garota de cabelos cacheados deu um sorriso de lado para Stela. Usava maquiagem, mas nada exagerado para aquela hora do dia. Os lábios em formato de coração receberam uma camada grudenta de gloss e havia blush nas bochechas, bem de leve. — E o que são todos esses potes de sorvete? Acha que está gravando uma sequência de Bridget Jones?

Josi esgueirou-se por entre as roupas espalhadas no chão do quarto, alcançando as cortinas. A luminosidade contraiu as pupilas de Stela e ela pestanejou mais uma vez.

— Me deixe em paz, Josiane. — Pediu com a voz afetada. — E feche esta droga.

— Chega de se empanturrar com isso. — Josi levantou o pote vazio com cara de nojo. — Você precisa é de um drinque bem forte... E de um banho.

Stela cheirou a própria pele e torceu o nariz. Josi continuou encarando a professora, e também melhor amiga, com ar de reprovação, mas também benevolência. A garota de dezessete anos já ficara em situação bem pior depois de levar um fora e sabia que aquilo era doloroso.

— É muito cedo para beber, Josi. E também tenho que trabalhar mais tarde. Que horas são, afinal?

— Quase três, mas seu caso é uma emergência. Então não é cedo demais para beber. E... eu te consegui isso. — Josiane entregou-lhe um papel pequeno, cuidadosamente dobrado. — Não precisa se preocupar com trabalho até amanhã.

A professora endireitou-se na cama e sentiu o corpo doer: ficar na mesma posição horas seguidas resultava nisso. Desdobrou o papel. Era um atestado médico falso com uma CID de virose.

—Josiane! — Stela exclamou horrorizada.

— De nada. — Josi replicou com um sorriso meio maníaco. Os grandes olhos castanhos maliciosos. Stela se perguntou quantas vezes ela já deve ter apresentado documentos daquele tipo para justificar faltas à escola. — Agora levante. Vou preparar algo para bebermos enquanto você toma um banho. Você está fedendo.

Stela gemeu contrariada, mas arrastou-se até o banheiro. Teria que sair da cama algum dia mesmo, então que fosse naquele instante. Conferiu seu reflexo no espelho da pia: olheiras profundas devido aos últimos dias derramados em prantos. Um banho seria bom. Ligou o chuveiro e a água quente fez o efeito relaxante esperado. Melhor remédio de todos. Só quando a pele começou a formar manchas vermelhas foi que ela fechou a torneira. Colocou sua roupa mais confortável, (que por sinal também tinha furos suficientes para pertencer a uma vítima de um paredão do fuzilamento) e foi até a cozinha.

Josi havia lavado morangos. Ela própria os trouxera, claro, já que Stela jamais abastecia o apartamento com frutas, verduras ou qualquer tipo de comida que não tinha mais de uma etapa em seu processo de fabricação.

A péssima dona de casa cruzou os braços e recostou-se na bancada da pia.

— Você é menor de idade, eu sou sua professora e você está me preparando bebidas alcoólicas no meu apartamento. — Stela falou como uma adulta responsável. Ao menos a única existente no lugar de setenta metros quadrados. —Preciso dizer que isso é ruim?

Não Conte aos Paparazzi (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora