Capítulo 43

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Bom dia pessoal! A sugestão de uma leitora, resolvi fazer um desafio. Se o capítulo alcançar 100 likes eu posto mais um capítulo ainda esta semana. Aproveito para agradecer as meninas que tiraram um tempinho para deixar comentários. Amo ler as impressões de vcs sobre a história. Beijinhos doces e boa leitura!

Se pudessem apontar o lado ruim de ser famoso, fazer o social em eventos tediosos de parcialidade questionável encabeçaria a lista negra dos rapazes da Dark Paradise. Consideravam uma tortura sem fim aguentar longas horas de bajulações quando poderiam estar em casa assistindo a sua série favorita, ou bebendo bons uísques, ou bebendo bons uísques na companhia de belas garotas, ou fazendo qualquer coisa que não incluísse Natalie. Eram esses os pontos de vista de Tommy, Dom, Elijah e Brian, respectivamente.
— Merda de celular! Justo quando eu ia fazer um "divine" na fase 206 essa porra acaba a bateria! — Elijah disse alto o suficiente para fazer com que pescoços virassem em sua direção pedindo silêncio, para os quais o guitarrista devolveu um sinal nada ortodoxo em resposta.
Ingrid e Tommy abaixaram o rosto para conter as risadas. Ao contrário de Nash, a esposa de Morello gostava das premiações. Era uma desculpa para ficar ao lado marido sem se preocupar com temperatura de mamadeiras ou horário certo de crianças estarem na cama. Horas preciosas de descanso graças a uma babá confiável.
— Não sei se aguento muito mais dessa palhaçada agora que estou sem Candy Crush. — O guitarrista lamentou-se depois de guardar o celular já sem utilidade no bolso da calça.
— Eu tenho uma tática para aguentar. — Dominic disse em resposta a Nash.
— Já vem chapado?
— Não, seu idiota. — O baterista franziu o cenho, mas depois deu um sorriso sórdido. — Foco nas cantoras de música pop que vamos encontrar na festa pós-Grammy. De preferência, as que fazem as coreografias mais elásticas nos palcos.
Dominic e Elijah riram da piadinha suja. Ingrid ficou vermelha e Tommy tampou os ouvidos da esposa, protegendo-a das baboseiras que saiam da boca dos colegas de banda. Na outra ponta da fileira, Robert controlava sua paciência, Natalie revirava os olhos, e Brian não demonstrava nenhuma reação...
Porque Brian estava pensando na sequência de eventos mostrada pelas câmeras dos Miller.
E no fato do carro de Natalie não aparecer em nenhuma das imagens na noite em que foi agredida.
— Vocês vão ficar quietos ou vão esperar sermos expulsos do evento? — Robert Barlet cochichou irritado. Estava sentado entre Carter e Nash, usando um paletó azul marinho e gravata combinando, nada das nuances de gosto duvidoso. O empresário estava feliz pelo fato dos garotos não terem boicotado o Grammy Awards daquele ano. Já querer que eles se comportassem, e tivessem a decência de usar trajes finos ao invés das roupas surradas habituais, foi esperar demais.
— Foda-se se nos expulsarem. As pessoas nunca se lembram dos ganhadores mesmo. Lembram-se dos escândalos. Pode até aumentar as vendas do disco. — Dominic observou todo perspicaz. E uma ideia torpe brilhou nos olhos de Elijah.
— Dom, você é um gênio. — O guitarrista disse antes de se virar para Morello. — Ei, Tommy, o que acha de mostrar seu lindo traseiro na hora de pegar o Grammy? Para ajudar com a venda dos discos, hum?
Ingrid riu alto.
— Por que não mostra o seu? — Tommy lançou de volta. — Mas não fique todo animadinho, Nash. Ouvi boatos de que os Losts Revolvers levam o prêmio este ano.
No palco do evento, Kyle Salmon, apresentava o prêmio de cantor revelação utilizando-se de piadinhas pré-decoradas. A plateia riu de cada uma delas, como robozinhos programados.
Losts Revolvers... — Elijah bufou o nome da banda rival com escárnio. — Losts Revolvers podem chupar meu pau.
Morello, Dominic e Ingrid só controlaram as gargalhadas depois que uma cantora de R&B sentada atrás deles pediu silêncio. Robert afundou as mãos na testa, envergonhado. Elijah deu um beijo na bochecha do empresário para tentar fazer o homem relaxar, mas que só teve o efeito de tirá-lo do sério mais um pouco. Depois o guitarrista olhou para Carter e notou que o colega permanecia introspectivo:
— Ei, Brian.
Carter saiu do transe e levantou o queixo para Nash.
— Está muito sério, raio de sol. — Elijah disse. Ele e Brian haviam deixado o episódio de Jeremy Hunter para trás e resolvido suas diferenças. Tudo estava em paz novamente dentro da Dark Paradise e os fãs agradeciam. — Nervoso?
— Hum? Não, eu... estou apenas preparando um discurso mental no caso de sermos ganhadores.
Natalie virou-se para o namorado e apertou-lhe a mão em apoio, Brian controlou a vontade de repuxá-la. Um sorriso de rasgar as bochechas cresceu no rosto de Robert Barlet depois de ouvir o comentário do vocalista.
— Que ótimo, Brian! Muito bem! — O empresário lhe disse, então correu os olhos pelos outros rapazes. — Vocês escutaram? Façam como o vocalista. Cada um de vocês. Preparem algo legal no caso de subirem ao palco, certo?
— Eu já preparei o meu. — Nash respondeu. — Vai ser algo do tipo: não sei o que significa toda essa merda, e pra falar a verdade, não acho que significa alguma coisa.*
Tommy Morello balançou a cabeça e sorriu para Elijah. Dividiam a mesma opinião sobre a premiação ter mais relação com interesses de gravadoras do que com a música em si. Em cima do palco, a vencedora do álbum do ano beijou a estatueta em formato de gramofone depois que terminou seu um milhão de agradecimentos. Durante as palmas, um cinegrafista captou o exato momento em que a concorrente da premiada abriu um bocejo.
— Melhor discurso de todos, Elijah. — Tommy disse em concordância. — Mas aposto cem dólares que você não tem coragem de falar isso no palco.
— Ah, é? Você vai perder.
— Pelo amor de Deus, Thomas, não incentive isso! Não sabe que esse aí é maluco? — Robert Barlet vociferou e Ingrid deu um puxão de orelha no marido em repressão. Os músicos ignoraram e Elijah selou o acordo com Tommy por meio de um aperto de mão:
— Feito, garanhão italiano. Espero que não seja o dinheiro pra comprar o leitinho do menino Matt. — Nash disse.
— Boa. — Dominic também se empolgou com a aposta. — Vamos ver quem faz o melhor lá em cima. Eu vou dizer para os Losts Revolvers se ferrarem. E também mandar um beijo para mamãe e papai, claro.
Os garotos riram e Robert ficou vermelho tentando tirar tudo aquilo de ideia. Brian, ainda incrivelmente concentrado, não falou uma palavra. Olhos verdes perdidos em pensamentos profundos. Conferiu o relógio de pulso. Àquela hora, um de seus contadores já devia estar realizando o acerto de Diego Hernandez sob o fundamento: "você sabe muito bem o porquê, seu cretino de merda".
Provavelmente, o contador pularia a parte dos xingamentos.
Uma nova salva de palmas inundou o lugar enquanto a loirinha cantora-pop descia do palco carregando seu quarto Grammy da noite.
— Céus, seus colegas são uns animais sem modos. — Natalie balbuciou no ouvido do namorado. — Não sabem se vestir, nem se comportar. Ainda bem que você está investindo no cinema e não vai precisar desta banda para se manter no estrelato.
Brian virou o rosto lentamente para a mulher. Então lhe deu o maior dos olhares de desprezo.
— Estes animais sem modos, são a minha família.
Ela arregalou bem os olhos e esboçou um sorrisinho nervoso.
— Brian, eu... — Natalie começou, mas foi interrompida por Robert.
— Ei, escutem, escutem! Vai ser agora! — Robert balançou os braços e ajeitou a gravata que repentinamente parecia querer estrangulá-lo. Ingrid ensinou-lhe a mesma tática de respiração que trabalhava com Matt quando o garoto estava ansioso.
Josh Gold, roqueiro aposentado dos anos oitenta, foi o incumbido de anunciar o prêmio de melhor álbum de rock enquanto as câmeras focavam cada uma das cinco bandas indicadas. Os garotos da Dark Paradise fizeram caras e bocas quando mostrados nos telões. Ingrid entrou na brincadeira, Robert sorriu sem graça e Natalie virou o rosto, constrangida.
Segundos de suspense: na vigésima nona fileira do Staples Center, os corações de Brian, Thomas, Elijah e Dominic estavam na boca antes de Josh Gold falar:
— E o prêmio de melhor álbum de rock vai para... Still of the Night, da Dark Paradise!
Palmas fervorosas fizeram pano de fundo junto ao single mais tocado do último álbum: Your Toxic Love, composição de Brian Carter e Elijah Nash. Os dois funcionavam muito melhor juntos e até os jurados conservadores do Grammy Awards sabiam disso. Os meninos comemoram barulhentos a sua maneira. Elijah, Dom e Tommy levantaram-se depois de receberem cumprimentos de Ingrid e Robert. Brian ainda estava sentado, perplexo. A câmera focou o instante em que Natalie saudou o namorado com um abraço entusiástico.
— Brian, levanta, caralho! — Elijah disse para o vocalista. Antes que Carter o fizesse, Natalie deu-lhe um leve puxão no braço. Ele a encarou de volta.
— Brian, querido, não se esqueça de agradecer a sua namorada quando estiver lá em cima. — Ela disse.
E foi naquele instante que diabinhos travessos sopraram algo no ouvido de Brian Carter.
— Claro que não vou esquecer. — Carter disse, então seguiu os colegas. Robert Barlet permaneceu em seu lugar, acompanhando com lágrimas nos olhos os passos dos garotos. Um pai orgulhoso.
Nas fileiras centrais próximas ao palco, sentado junto com os membros da sua banda, estava Richie Black, vocalista do Lost Revolvers e também desafeto declarado da Dark Paradise, que não perdeu oportunidade quando os rapazes passaram por ele:
— Ei, Brian Carter, quando sai seu próximo filminho idiota? Soube que vai ser algo do tipo Crepúsculo, é verdade?
Brian ignorou, tanto o comentário quanto a gargalhada geral dos colegas de Black, mas Elijah, claro, preferiu devolver a gentileza:
— Olá, Richie. Vai sair no mesmo mês em que vocês fizerem algo melhor do que o lixo que vocês chamam de música. — Deu um aceno de pescoço para a mulher ao lado dele. — Garota bonita. Melhor do que as prostitutas que estava com você no Rainbow semana passada.
Nash, Dom e Tommy tiveram tempo de rir da carranca da modelo e atual namorada de Black antes de seguirem.
— Brian, anime-se, cara! Nosso primeiro Grammy! — Tommy deu uma sacudida nos ombros do amigo, mas ele nem reagiu, continuou andando meio que no piloto automático.
Subiram os degraus da escada luminosa, ainda ovacionados pela plateia. Josh Gold fez as honras: entregou o troféu e o microfone para Brian. Palmas cessaram e luzes de xênon focaram os quatro enquanto o público esperou pelo discurso de Brian Carter. Um minuto, dois...
E o trilar de grilos poderia ser ouvido dos últimos lugares do Staples Center.
Dominic deu uma arqueada de sobrancelhas para o colega, Tommy sussurrou o nome do vocalista, e quando Elijah pensou em lhe tomar o microfone, Brian começou a dizer:
— Bem... este foi um ano especialmente difícil para a Dark Paradise. Não é segredo o que aconteceu comigo e, obviamente, a banda teve que arcar com as consequências disso. Então... eu gostaria de agradecer ao nosso empresário, Robert Barlet, por ser o pai que eu nunca tive, agradecer aos meus colegas que foram extremamente compreensíveis quando precisei me ausentar dos ensaios e adiar a turnê de Still of Night. — Só a banda entendeu e apenas Elijah riu da ironia — Por fim, quero fazer um agradecimento especial a Natalie Wolf, minha bela acompanhante desta noite. — Algum exímio cinegrafista foi ágil o bastante para reproduzir a face da atriz no telão. Um sorriso em câmera lenta tomando seu rosto bonito.
E que Brian fez questão de retirar:
— Que além de ser uma excelente atriz... também é uma filha da puta mentirosa.
Clamor tomou conta do auditório. Os três colegas de Carter entreolharam-se pasmos. O vocalista continuou sem se abalar:
— Mas antes do agradecimento, gostaria de lhes contar uma breve história. Era uma vez uma atriz que não media esforços para conseguir o que queria. Ela possuía tudo: fama, dinheiro, beleza; era o tipo de garota que poderia ter qualquer homem a seus pés... mas ela queria alguém cujo coração já pertencia à outra. Então essa mulher dissimulada, para quem os fins escusos sempre justificam os meios, não aceitando ser preterida, achou que seria uma boa ideia armar para cima desse cara. A melhor forma de conseguir isso? Forjando uma agressão, claro.
Por baixo do batom carmin, os lábios de Natalie perderam a cor. E como se estivessem acabado de assistir ao ápice de um grande truque de mágica, as pessoas emitiram exclamações de surpresa após ouvirem as palavras do grande vencedor da noite.
Mas que porra é essa, Brian? Me dê o microfone. — Dominic tentou puxar o objeto, o vocalista se esquivou.
— Eu ainda não acabei, Dom. — Brian falou para o amigo antes de se voltar para uma plateia atenta de verdade pela primeira vez desde o início da premiação. — Não quero me colocar no papel de vítima, mesmo porque não há vítimas nessa história. E por um lado, até entendo toda a ira da senhorita Wolf e seu desejo de vingança. Eu era um completo idiota à época: alcoólatra, mulherengo, mas preciso deixar claro que nunca fui um agressor de mulheres. Então obrigado por tudo, Natalie. Por ter criado um jogo psicológico baseado em um sentimento de culpa, sobre algo que eu não fiz, só para poder manter um relacionamento de fachada. Obrigado por me proporcionar a experiência de vivenciar um bloqueio criativo que quase me tirou da minha própria banda, tenho certeza de que vou conseguir compor algo bacana sobre isso no futuro. Ah, obrigado também por me fazer estrelar uma merda de comédia romântica sob ameaças de expor uma história falsa que, adivinha só? Vazou de qualquer forma e me fez ser alvo de ódio gratuito enquanto você pagava de santinha para a mídia. É. Muito obrigado por tudo, Natalie. E meu mais sincero: vai se foder.
Quando Brian terminou, um alfinete poderia cair na parte mais afastada do salão que iria doer nos tímpanos.
Mas o alvoroço começou tão logo o vocalista desceu as escadas. As pessoas ainda tentando entender o que de fato tinha acontecido nos últimos instantes. Celebridades agitadas sobre seus assentos, cochichos incoerentes na plateia e o rosto de Natalie exposto nos telões: era essa a cena transmitida ao vivo para toda América e canais filiados ao redor do mundo.
De cima do palco, os colegas observaram Carter caminhando até a saída do evento, passos tranquilos de quem não tinha nada a ver com toda balbúrdia acontecendo ao redor. Seguranças afastaram-se da porta para que ele deixasse o lugar e uma chuva de flashes crepitou sobre o homem quando ele apontou o pé para fora.
De repente música alegre: uma tentativa dos organizadores de apagar os resquícios da cena catastrófica. Aos poucos o ar também foi preenchido pelo barulho de pessoas recompondo-se nos seus lugares.
— Meu Deus, Natalie... — Robert Barlet encarou a atriz com aversão — o que o Brian disse... é verdade?
Natalie Wolf, ainda em estado de choque, demorou um bom tempo para olhar para Robert. Quando o fez, seus olhos estavam embargados, as mãos trêmulas.
— Eu...e-eu... com licença. — A mulher levantou-se, mas manteve a cabeça baixa. Correu em direção à saída tentando ignorar os comentários. Antes de chegar ao hall, tropeçou na calda do vestido verde esmeralda e a humilhação foi completa. Repórteres já a esperavam com uma torrente de perguntas.
O público ainda fervilhava quando Elijah tomou o microfone de volta, bateu os dedos contra a capitação do aparelho, e fez as pessoas protestarem pelo ruído agudo, mas também lhe darem a devida atenção. Então com um sorriso de quem ainda se divertia com o ocorrido, soprou bem o ar antes de dizer:
— Puxa... Definitivamente, nosso vocalista sabe como fazer um bom discurso. E em nome da Dark Paradise, só o que me resta dizer é... que... ahn... que estamos muito felizes com o prêmio. Obrigado.
E quanto à aposta feita: nem Tommy, nem Elijah, nem Dom; ficaram mais ricos aquela noite.

*Nota: Foram mais ou menos essas palavras usadas pelo vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, quando a banda recebeu o Grammy em 1996.


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