Capítulo 18

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 CAPÍTULO 18

A estrada até Vassouras não deveria causar grandes emoções. Afinal, aquele caminho sinuoso fora feito a exaustão nos últimos meses. Mas um misto de sensações corroíam as entranhas de Stela, como o frio na barriga: cujo agente causador encontrava-se impecavelmente vestido, perfumado e sentado ao seu lado, no banco do carona.

O músico havia se esforçado para causar uma boa impressão. Escolheu uma camisa social cinza que escondia as tatuagens e não economizou tempo para deixar seu belo cabelo no lugar. Brian agora tinha um topete e parecia uma versão moderna do Elvis Presley. (E ao menos o pai de Stela era fã do rei do rock). Ele também poderia ter tirado os brincos, mas Stela realmente não iria pedir isso quando o rapaz já havia feito tanto por ela. A nova versão de Carter era o suficiente para que o conservador senhor Reis apenas torcesse o nariz ao invés de confundir o astro com um traficante de drogas.

Stela mantinha os olhos fixos na estrada enquanto Brian ajustava a altura do som. MPB, claro. Seu carro, suas regras.

—Você está nervosa? — Ele perguntou na terceira vez em que em notou a garota mordendo o lábio.

Sim, claro que ela estava nervosa.

— Não. Você está?

— Não... — Carter respondeu hesitante. — Afinal, não é um show para cinquenta mil pessoas, são apenas seus pais, certo?

— Sim, são apenas meus pais. E você é só um amigo que estou levando para jantar com eles.

Os dedos de Brian que batucavam os acordes de Sampa no painel de plástico do Fiat Uno pararam de repente.

— E eles acreditaram nisso? Que eu sou apenas um amigo?

Stela acionou o lavador do para-brisa na esperança de tirar uma manchinha do seu campo de visão antes de contrapor:

— E por que não acreditariam?

— Porque não acho que seus pais sejam bobos, Stela. Alguém que vem de fora para um jantar certamente não iria querer ser apenas um "amigo" da filha deles.

— Oh, bem... — Ela se atrapalhou para dizer, rejeitando o corpo no banco do motorista. — Você não veio apenas para conhecê-los, na verdade foi mais um acidente de percurso.

— Certo.

Um carro os ultrapassou. A garota mantinha a velocidade comedida, precisava ganhar tempo para se tranquilizar. Depois de um silêncio curto, Brian disse:

— Me fale mais sobre o senhor e a senhora Reis. Quero me preparar para não fazer feio.

Stela sorriu, o gesto funcionando como um remédio dissipando a tensão no veículo.

— Bem... Íris é professora de inglês no estado. E também pintora. Era um hobby, mas ela realmente está se dando bem. Tem página na internet e tudo mais. Meu irmão costuma dizer que as telas são de gosto duvidoso, mas eu acho o estilo muito legal.

— Ah, uma artista. — Carter suspirou um pouco aliviado, como se aquilo significasse alguma vantagem para ele. Pintores, músicos e loucos deviam ter algum código de conduta que os faziam ser legais uns com os outros. — Ok. E seu pai?

— Papai é coronel da polícia. — Stela fez uma pausa proposital para esperar a reação de Brian.

A expressão dele variou da surpresa ao terror.

— É. — Ela continuou. — Os garotos sempre faziam essa cara. E talvez seja por isso que eu nunca levei ninguém à minha casa.

O homem expirou sofrido. O desespero nos olhos dele quase fez Stela gargalhar.

Não Conte aos Paparazzi (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora