Capítulo 20

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  CAPÍTULO 20

ALGUNS MESES ANTES

O líquido verde de uma garrafa de absinto acompanhava o andar cambaleante e provavelmente era o motivo pelo qual Brian sentia-se aquecido naquela noite fria. Na outra mão, o músico carregava uma chave. Não uma pequena do tipo que as pessoas vivem perdendo, era uma bem grande e nada comum. Afinal, chaves comuns não tinham a palavra "perigo" gravada no metal.

Pulou a cerca de segurança. (Aparentemente, além da dignidade a fada verde do absinto também retira o juízo das pessoas). Os vãos entre as grades eram distantes o suficiente para que algum desavisado passasse o braço por elas.

Mas Brian fez melhor e destrancou o portão.

Em seguida, disse num sussurro inaudível a ouvidos humanos:

— Martin, amigão. Venha aqui.

Dois pontos brilhantes movimentaram-se com uma agilidade graciosa na escuridão. E quando já não eram metros, mas poucos centímetros, a distância que separava Brian do animal, um focinho sobre duas colunas de presas mortais também se tornaram visíveis. O felino caminhou tranquilo para o lado de fora. Brian gargalhou ébrio quando o tigre o lambeu com sua língua áspera e o sufocou com o bafo de felino.

— Ei, Martin, acredita que... a professorinha quis dar um tempo? — O músico disse com a voz enrolada para seu interlocutor atípico — Que somos muitos diferentes e mais um tanto de baboseira? Rá. Quem ela pensa que é? — Bufou e riu debochado.

Mas depois, começou a chorar.

A resposta de Martin foi um bocejo que colocou a mostra todos os dentes afiados. Assunto cansativo de bêbado para um tigre ouvir àquela hora da noite. A piscina era algo muito mais interessante e o bicho não fez cerimônia: pulou executando o nado cachorrinho. Nome afrontoso para definir a performance aquática de um tigre, mas foi isso mesmo. E Brian bateu palmas, orgulhoso.

Na casa anexa à mansão, a luz fraca de um abajur se acendeu, só que foi apagada segundos depois. Carter nem notou, estava ocupado relendo a última mensagem recebida de Stela. Tentando, pela enésima vez, entender o que tinha feito de errado.

[Stela]: Querido Brian, você me perguntou porque eu estava estranha quando saímos da casa dos meus pais. Eu disse que não era nada. Mas a verdade... As coisas aconteceram a um ritmo muito acelerado: num dia você chega aqui, no Rio de Janeiro, bate a minha porta, no outro você está fazendo um show para milhares de pessoas... e eu... bem, minha vida é linear, já a sua tem muitas variáveis. Sinceramente, não sei se tudo isso está me fazendo bem... Acho que preciso de um tempo.

Precisa de um tempo. Rá.

Martin saiu da piscina, chacoalhou seu corpanzil listrado e fez gotículas de água voarem ao entorno. Carter precisou sorver só mais um gole de bebida antes de levantar-se, decidido:

— Quer saber? Relacionamento é uma droga. Pro inferno, ela e todas as mulheres.

Apontou para o tigre.

— Acho que tanto eu quanto você, merecemos ser livres, meu caro amigo.

***

A conversa atravessava a porta.

Eram duas pessoas. Uma sussurrando em resposta aos berros da outra. Brian reconheceu a voz pertencente ao gritador: Robert Barlet, claro. O tom pesado do empresário repercutia pela alvenaria:

— Não me interessa se ele está dormindo ou se há dez garotas nuas aí dentro, pelo amor de Deus! Você não viu o tanto de repórter lá fora?

— O senhor Carter não vai gostar nada de ser incomodado. — Eva Hernandez falou com seu sotaque carregado, tentando domar um irredutível Robert.

Não Conte aos Paparazzi (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora