Capítulo 30

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 CAPÍTULO BÔNUS

Aquele lugar não combinava com Los Angeles. Deveria ser riscado do mapa, suas casas de estruturas mal-acabadas terem as vigas arrancadas do chão e transportadas para alguma outra cidade desprezível que compartilhava do mesmo tom monocromático de concreto, repetido incessantemente das alamedas sujas ao céu poluído.

"Recalculando rota"

— Inferno! — Natalie cravou as unhas no volante e balbuciou mais uma sequência de palavrões. Como poderia ser estúpida e errar o caminho? Como poderia ser tão estúpida a ponto de errar o caminho três vezes? Talvez fosse a falta de hábito em se sentar do lado do condutor. Estava tão acostumada a ter as necessidades atendidas pelos outros que se esquecera de como é ter que se virar por conta própria às vezes.

Um motorista seria uma boa opção, mas o número do único aceitável para o encargo era sempre atendido pela mesma voz feminina e inexpressiva similar à do GPS: "Não foi possível completar sua chamada." Um motorista cuja casa insistia em desaparecer pelos trajetos mal desenhados do aplicativo de localização. Aquelas duas mulheres de fala robótica só poderiam ter armado um complô contra ela, com certeza.

Chegou a uma avenida sem as bifurcações que lhe confundiam os sentidos. "Você alcançou o seu destino". Disse a voz apática e Natalie finalmente sentiu-se em trégua com o aparelho, perdoando-o dos erros cometidos por ela própria.

Estacionou a BMW a uma distância de alguns metros, estudando o local. Olhou-se mais uma vez no espelho retrovisor. Ultimamente não tinha tanto prazer em encontrar o próprio reflexo. Para tentar fugir da imprensa, os fios loiros haviam sido cobertos por uma tinta castanha que não a favorecia. O nome da cor remetia a um tipo especial de chocolate e criava uma expectativa frustrada em quem esperava bem mais do que um resultado medíocre.

Um cachorro franzino ladrou por trás de um muro torto quando ela desceu do veículo. Borrões alaranjados pintavam o céu misturando-se à fumaça vinda de uma fábrica próxima: fim de tarde. No ar havia um cheiro de carne assada que combinava com sua visão estereotipada de que moradores do subúrbio faziam churrascos aos domingos. Trancou o carro no mesmo instante em que duas garotinhas saíram da casa apontada como seu destino.

As meninas não tinham mais do que seis anos. Bochechas rosadas e risadas melodiosas denunciavam o momento posterior a alguma travessura. Deduziu que ambas fossem irmãs pela forma como os cabelos estavam presos: exatamente a mesma trança mal feita. A mãe não devia ser do tipo paciente.

A menor foi quem viu Natalie primeiro, seus olhos graúdos tinham a curiosidade de um gatinho. Era o mesmo olhar de Diego: os mesmos cílios longos e naturalmente curvados, a mesma profundidade desconcertante nas íris castanhas. Uma herança genética dos Hernandez. A atriz não levantou os óculos, mas ensaiou seu melhor sorriso.

— Oi, gracinhas! — Não que soubesse lidar com crianças, mas sabia que qualquer expressão alegre, aliada à conveniência de ter um rosto feérico, soaria persuasiva à inocência infantil. — O Diego está?

Suas boquinhas não se mexeram. Elas continuaram a encarar Natalie por alguns segundos (um jogo que Wolf não tinha paciência em jogar). Depois dispararam até o portão chapiscado de amassados laterais que se encaixavam perfeitamente ao formato de chutes, e a maior cantarolou acompanhada da mais nova:

— És lá chica loca!

Fora um ou outro apelido carinhoso que gravara pela repetição de Diego, Natalie não falava espanhol.

Para sorte delas.

Depois Natalie escutou passos arrastados vindos do corredor e seu coração expandiu-se. O músculo não era de pedra, afinal.

Não Conte aos Paparazzi (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora