Capítulo 24

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– Por que está tão nervosa? – Peeta perguntou.

Meus olhos estavam agitados, sem conseguir realmente focar em alguma coisa. Os quinze dias de licença haviam acabado, e eu precisava retornar ao trabalho. Eu não tinha vontade de sair de casa, mesmo que Peeta tenha tentado algumas vezes. Porém na noite passada, ele havia me convencido de que era bom para minha cabeça se manter ocupada, por isso eu havia decidido seguir seu conselho.

Como prometido, todos se enfiaram em meu apartamento para jantarmos durante os nove dias que se seguiram. Nos distraíamos depois com algum filme bobo ou algum jogo de tabuleiro. Minha convivência com os quatro parecia melhorar, conforme eu conversava mais com Peeta, contando um pouco mais sobre mim e algumas lembranças de infância. Cheguei a dizer que ele havia se tornado meu terapeuta, o que o fez rir, e dizer que qualquer dia cobraria as sessões.

Peeta começou a passar bastante tempo em meu apartamento, quando não estava dando aula, e vez ou outra acabava dormindo em meu sofá. Talvez ele tivesse medo de me deixar sozinha ou simplesmente sentia necessidade de me fazer companhia. O que não importava, já que nos dias em que ele passava a noite em minha sala, eu acabava adormecendo em seus braços, depois de assistirmos televisão até tarde, sem precisar me preocupar com minha cabeça que vivia me pregando peças.

Eu estava assustada com a facilidade que eu começava a ter para contar tudo pra ele, com a facilidade que eu tinha em deitar sobre seu peito, com a facilidade que eu tinha em dormir em seus braços. Porém eu havia decidido enterrar toda a insegurança em algum canto, onde não me atrapalhasse. Peeta estava cuidando de mim, e era só isso que eu permitia que minha cabeça lembrasse.

– Katniss? – me chamou, segurando meu rosto com as duas mãos. – Olha pra mim, pequena.

Pisquei algumas vezes, e foquei em seus olhos azuis.

– Qual é o problema? – perguntou.

– Eu sinto como se hoje fosse meu primeiro dia. – murmurei.

Peeta sorrio, antes de soltar meu rosto.

– Não precisa se preocupar. Qualquer coisa, eu bato em meia dúzia de alunos. – piscou pra mim.

Acabei rindo, e balancei a cabeça.

Havíamos acabado de descer do carro dele, e estávamos parados no estacionamento, enquanto eu tentava tomar coragem para entrar no colégio.

– Vai dar tudo certo. Vem. – me chamou, andando a minha frente.

Respirei fundo antes de alcança-lo. Andamos lado a lado pelos corredores, até parar em frente a sala do segundo ano.

– Acho que vou desmaiar. – falei baixinho, ouvindo a algazarra do lado de dentro.

– Quer que eu entre com você? – perguntou me observando.

– Não. – dei um sorrisinho. – Eu... Eu consigo. – afirmei.

– Então vai. – Peeta se aproximou, beijando minha testa.

Afirmei com a cabeça e lhe dei as costas, abrindo a porta da sala.

~||~

– Por que esse silêncio todo? – Peeta perguntou parando ao meu lado, enquanto eu me concentrava na panela a minha frente.

– Porque você acabou de chegar, e eu estava sozinha até agora. – respondi, tentando soar amigável, mas algo me dizia que eu tinha dito a frase com sarcasmo.

– O que aconteceu? – ele questionou. – Você veio embora de ônibus ao invés de me esperar, e preferiu me avisar por mensagem.

– Se eu te esperasse, demoraria demais para sair daquele inferno. – ao soltar a frase senti meu nariz arder e meus olhos se encherem com lágrimas.

O Sol em meio à tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora