Capítulo 67

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Gale

- Você fez o quê? - Madge perguntou, incrédula.

Cocei a parte de trás da cabeça, e suspirei.

- Eu peguei o número deles na agenda do seu celular, há algumas semanas - ela elevou a sobrancelha esquerda -, mas só hoje tive coragem de fazer a ligação.

Madge soltou a minha mão, de supetão, e acertou um tapa ardido em meu braço.

- Ai - resmunguei, colocando a mão no local atingido, para esfregar. - Por que fez isso?

Ela estreitou os olhos, e acertou outro tapa, dessa vez no outro braço.

- Ai, Mad - reclamei, dando um passo pra longe da cama.

- Doeu, é? - perguntou, com sarcasmo. - Tenha contrações, pra descobrir o que é dor de verdade, seu babaca. Pior ainda. Tenha contrações, e no intervalo entre elas, ouça seu noivo dizendo que ligou para seus pais relapsos, e que eles estão vindo para o parto. Isso sim é uma puta de uma dor.

- Desculpa? - disse, duvidoso.

- Espera o bebê nascer, pra você ver se eu não vou te acertar de verdade - soltou entre dentes, ignorando minha fala, enquanto fazia uma careta de dor.

Suas mãos agarraram o lençol, e ela fechou os olhos. Me aproximei, apreensivo, e estendi a mão pra Madge, mas, ao invés de segura-la, em meio a contração, Mad acertou um tapa bem dado nela, mesmo de olhos fechados, o que me fez abaixa-la, frustrado.

- Você só pode estar de brincadeira comigo - rosnou, com o maxilar travado.

Eu estava completamente paralisado, assistindo a cena, sem saber o que realmente devia fazer.

Por conta própria, Madge foi se acalmando, restando apenas sua respiração ofegante.

- Não acha que... Eles merecem a chance de conhecer o Matthew? - perguntei, inquieto, fazendo com que ela abrisse os olhos e me encarasse. - Talvez tentarem ser pra ele, o que não foram pra você, ou...

- Eles odeiam você - Mad me interrompeu, enquanto abria as mãos, e soltava o lençol devagar.

- Como assim? - questionei, franzindo a testa.

- Meus pais te odeiam, Gale - falou, depois de dar um longo suspiro. - Os dois odeiam sua profissão, suas roupas, seu corte de cabelo, sua barba por fazer, e até o seu nome. Por isso te levei apenas uma vez até a casa deles - explicou.

- Então... Esse é o motivo de você preferir esconder a gravidez e o noivado? - perguntei.

- Sim - respondeu, fazendo uma nova careta. - Droga, Matthew. É só sair... - resmungou, e dessa vez, ela aceitou a minha mão para apertar.

Meus sogros me odiavam? Gratuito assim?

- Respira, Madge - aconselhei, sentindo-me levemente atordoado.

- Meu Deus - ela estava mais ofegante, quando pareceu relaxar. - Espero que esse seja o sinal de que ele está pra nascer - resmungou, recostando-se nos travesseiros. - E não se sinta mal por eles odiarem você - disse, como se tentasse me confortar. - A verdade é que eles mal gostam de mim - Madge deu um sorriso fraco.

- Vocês não se dão bem mesmo, né? - perguntei, ainda com a mão na dela.

- Não... Desde pequena, eu me rebelei contra a vontade dos dois, simplesmente pelo fato de perceber que não importava se eu fazia o que eles queriam, eu nunca chegaria a perfeição que ambos esperavam de mim - ela voltou a apertar a minha mão, e fez outra careta. - E olha que eu não tinha um irmão ou uma irmã, para que eles pudessem comparar - Mad esboçou um sorriso, enquanto falava com esforço.

O Sol em meio à tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora