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D A N I E L

Permitam que eu seja franco desde o início: vocês não gostarão de mim.

Stephen Jeffreys


Faltam 40 minutos para o primeiro intervalo quando eu peço licença para sair da sala de literatura. Sarah, a professora desta disciplina e tutora da nossa turma do segundo ano, me libera com um aceno, mas não pergunta onde eu pretendo ir; não precisa - a não ser que eu esteja passando mal e tenha que ir mais cedo para casa, ninguém se importa realmente para onde vou.

Há uma enorme confiança nos alunos por aqui, o que deixa todo mundo seguro para sair de sala e ir à cantina conversar ou usar o laboratório de informática, mas com bom senso o suficiente para não descumprir nenhuma regra mais séria como ir para casa sem permissão durante o expediente de aulas ou depredar o patrimônio escolar.

Eu prefiro andar, mesmo que para nenhum lugar específico. Apenas caminho por toda a escola, passando pelo prédio da diretoria, caminhando pelo segundo andar, depois até a praça e pelos espaços de convivência, então pela cantina e a quadra esportiva. Paro quando chego na área de lazer, perto das piscinas. Não entro realmente lá. Apenas me encosto na grade de proteção, apoiando meus braços sobre ela, e observo a água.

Este é meu terceiro lugar preferido na escola depois do ginásio e do banco perto da fonte na Praça de Convivência. Eu tenho muita experiência em perambular pela escola e selecionar santuários para passar o tempo pensando e ouvindo música, então já sei os horários em que esses lugares estão sendo usados por outras turmas, inclusive sei também que daqui a menos de trinta minutos a turma do primeiro ano vai vir aqui fazer natação.

Sempre gostei de ficar sozinho, mas isso nunca atrapalhou com a escola antes, nunca chegou ao ponto onde eu começo a evitar assistir aula. Faz algum tempo que venho saindo de sala diversas vezes em um mesmo dia, e às vezes eu queria que meu colégio não fosse tão permissivo de modo que os professores quase nunca perguntam onde vou.

Não sei, gosto de pensar sobre o que eles achariam de um aluno que apenas sai para olhar o fundo de uma piscina. Não tem nada de mais em fazer isso, tem? Então por que eu sinto que há algo errado?

De repente tudo fica escuro. Duas mãos vindas por trás de mim cobrem os meus olhos.

– Oi, Bianca. – Digo e imediatamente subo minhas mãos de encontro as dela.

Minha intenção é apenas afastá-las do meu rosto, mas ela mantém nossas mãos unidas e vira-me de frente para ela.

– Sabia que ia te encontrar aqui.

Estamos ficando há dois meses, mas eu não diria que posso chamar isso de namoro. Nossos encontros se resumem a pouca conversa e muitos beijos. Na verdade, estou reunindo coragem para terminar. Pode parecer cruel, mas, para ser sincero, acho que não a mereço. Ou talvez apenas não goste dela tanto quanto achei que gostasse no início.

Bianca puxa um dos fones que estou usando e põe em seu próprio ouvido. Detesto quem faz isso. Se eu quisesse compartilhar minha música com alguém, não usaria os dois fones de uma vez.

– O que você está ouvindo? – Ela pergunta, mesmo que não esteja realmente interessada.

– Bach.

Estou esperando que Bianca desista e me devolva o fone, mas ao invés disso, ela sorri.

– Isso parece coisa que alguém inteligente ouviria.

SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora