Epílogo - Parte I

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A L I S S A

Aguente firme, minha querida.
Essa bagunça era sua, agora sua bagunça é minha (também).

(Mess Is Mine – Vance Joy)


– Você acha que é muito precipitado da minha parte em dizer "eu te amo'?

– Para mim, sim. Para você, nem tanto.

Aperto o cabo da vassoura que estou segurando com mais força, deixando-o reto na minha frente e usando-o como apoio enquanto espero pacientemente que Anna continue. Ela passa a mão na testa, limpando o suor.

Estamos arrumando a bagunça que fizemos ontem na escola com as apresentações. O chão está repleto de papel confeti, glitter e alguns pedaços de cartolina. Victor e os outros também estão varrendo e limpando, tendo o cuidado na hora de remover os cartazes das paredes para não danificar nem o papel nem a parede. Os cartazes serão guardados pela diretoria da escola, sabe-se lá para quê.

Anna suspira pesadamente e eu logo sei que ela não gostaria de estar tendo esse tipo de conversa a essa hora da manhã, mas estou muito nervosa e insegura e ela é a única pessoa que pode me dizer a verdade de um jeito que não vai me magoar.

– Eu e o Victor nos enrolamos durante quase um ano até assumirmos alguma coisa, e até hoje vivemos como gato e rato. Às vezes eu quero que ele suma da minha vida e às vezes acho que não consigo viver sem ele. – Ela fala com calma, seu olhar entediado aos poucos sendo substituído por um olhar mais concentrado, como se ela estivesse indo fundo em tudo o que diz. – Já você é do tipo de pessoa que olha pra alguém e já sabe se esse alguém merece fazer parte da sua vida. Foi assim com o Daniel, vocês não levaram mais do que algumas semanas para descobrir que podiam dar certo. E conhecendo ele como eu conheço, por mais que ele seja mais fechado e fale pouco sobre sentimentos, eu sei que ele é intenso também.

– Ele é.. – Por mais que seja bom o fato de Daniel ser intenso, também pode ser incômodo quando levado em conta que ele é intenso para absolutamente tudo, desde o que diz até o que sente. E como ele sente.

Anna continua, absorta em suas próprias reflexões:

– Ele é como você e ao mesmo tempo não é. Você olha e sabe na hora. Ele olha e deixa quieto, vai descobrindo devagar até se sentir seguro e ganhar terreno. Então, quando isso acontece, ele dá um jeito de fazer valer a pena.

Sorrio quando ela diz isso, pois quero que valha a pena. Tenho certeza de que vai. Pode ter alguns buracos e pedras no caminho, mas nada que eu não consiga ultrapassar. O mais difícil eu já consegui.

– Isso quer dizer que você acha que não estou sendo exagerada e precipitada? – retomo a pergunta, ansiosa pela resposta que espero ouvir.

– Isso quer dizer que as pessoas são diferentes umas das outras – Anna dá de ombros, com um meio sorriso no rosto. Ela está contente em não dar uma resposta exata e me deixar matutando sobre o que quer realmente dizer. – Você pode estar cegamente apaixonada e achar que tudo é para sempre ou ele pode ser o amor da sua vida. Independente do que seja, vou estar aqui pra te dar apoio.

Dou um muxoxo desanimado e estou prestes a me virar para continuar a varrer do outro lado da sala quando noto, pela visão periférica, alguém parado na porta.

Daniel está ali, estático, olhando diretamente para mim de uma maneira tão intensa que eu sinto meu corpo inteiro arrepiar ao mesmo tempo em que uma sensação de mal estar vai se instalando aos poucos em meu estômago.

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