16 - Parte II

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A L I S S A

A tempestade que chega é da cor dos seus olhos castanhos.

Tempo Perdido (Legião Urbana)


– Você tem um estúdio? – pergunto, realmente surpresa.

– Meus pais eram músicos – ele explica, e quase posso ver uma sombra de dor surgir em seu olhar quando ele diz isso. – Construíram uma espécie de estúdio no subsolo da casa, com paredes à prova de som e essas coisas, onde pudessem estudar e treinar sua música sem incomodar os vizinhos. É lá que está minha bateria e alguns outros instrumentos que acho que podem interessar a seus irmãos. Eu e meu pai não usamos nenhum deles há um tempo.

Luke dá um arquejo, os olhos quase saltando das órbitas, tamanha a sua surpresa. Depois para um segundo para questionar:

– Espera, isso foi só pra ele?

– Foi para os dois. E sua irmã, se ela também fizer parte de uma banda. Ou se apenas estiver interessada em vir.

– Ela não está.

– Talvez eu esteja.

– Tá ou não tá? – Daniel e Gabe perguntam ao mesmo tempo.

Eu não quero dizer que sim e entrar na casa de Daniel. Sei lá, parece algo íntimo demais para se fazer, mesmo que meus irmãos estejam conosco. Mas também não quero dizer que não e perder essa chance de saber mais a respeito dele.

– Alguém já pensou em avisar a nossa mãe?

Lucas revira os olhos, mas Gabriel concorda comigo.

– Ela tá certa. A mamãe vai surtar se a gente for pra casa de qualquer pessoa sem a permissão dela.

– Mas ela saiu com o nosso pai e não vai voltar tão cedo. Ela nem vai saber.

– Ela vai saber – dessa vez somos eu e Gabriel quem falamos ao mesmo tempo. E depois eu acrescento, para reafirmar meu papel de responsabilidade: – E nós ainda temos que jantar.

Daniel nos encara por um longo minuto, esperando que tomemos uma decisão. Não quero estragar tudo pois, mais do que eu quero conhecer a casa dele, meus irmãos também querem. Importa mais para eles do que para mim. Luke vem falando sobre sua vontade de fazer amizade com nosso vizinho e ver a bateria dele desde que nos mudamos, há um mês.

– Tudo bem – Daniel fala, por fim. – Podemos fazer isso amanhã. Aí vocês vão poder falar com sua mãe e eu vou ter tempo de dar uma organizada no estúdio, ele deve estar meio sujo com o tempo que passei sem entrar lá.

– De que horas você acorda? – Luke pergunta e eu sinto o ímpeto de dar-lhe um beliscão para que ele deixe de ser tão descarado, mas Daniel não parece incomodado.

– Cedo – ele responde vagamente.

Eu me sinto um pouco sem jeito por estar tendo essa conversa, e acho que meus irmãos também se sentem assim, apesar de eles não serem apaixonados por Daniel e nem sonharem sobre as borboletas que sinto voarem pelo meu estômago toda vez que estou perto dele.

Então eu quebro a tensão com uma despedida desajeitada:

– Bom, então está certo. Agora vamos pra casa.

E, sem esperar por resposta, puxo meus irmãos pelo braço e atravesso o gramado de volta até nossa casa. Nem fui até a casa de Thomas, no fim das contas, nem saí sozinha, mas tudo bem.

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