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 D A N I E L

Moondust Jaymes Young

Minha mãe está morta.

Às vezes, quando penso nisso, tenho vontade de falar em voz alta. Não como um tipo de reafirmação, mas apenas para testar o som das palavras.

Não sou como aquelas pessoas que perderam alguém recentemente, aí pensam em algo interessante e vão compartilhar com o ente querido até que lembram que isso é impossível porque ele se foi. Eu tenho consciência de que vou voltar para casa e minha mãe não estará lá. Eu sei que ela está morta. Eu sei disso desde o dia em que ela morreu. Sei o tempo todo, não consigo esquecer. Não quero esquecer. Nem posso. E de vez em quando este pensamento vem à tona: ela está morta. Debaixo da terra. Há muito devorada por vermes. Nunca mais vou vê-la.

Não fico triste quando penso nisso. Sinto raiva.

Pergunto-me como é morrer, como é perder todos os sentidos, se a pessoa sabe quando morre. Pergunto-me como foi para ela, se ainda está sendo. Se existe o Outro Lado, será que ela conseguiu chegar até lá ou será que ainda está procurando? Ela pode ter ido para o Lado Ruim da coisa, tenho certeza de que ela achava que iria. Eu também acho, mas espero que não. 

Torço para que ela tenha encontrado a sua paz, para que ela esteja tão serena quanto devia estar dentro do caixão, no dia do seu enterro. O enterro que eu não fui.

Não gosto de enterros. Não que eu tenha medo, mas eu levo esse tipo de coisa a outro nível. E, no dia, eu estava meio em choque. Me recusei a sair do quarto durante quase toda a primeira semana após sua morte.

Desde que ela se foi, é como se a morte finalmente tivesse ganhado um significado para mim. Antes era mais algo que eu via acontecer com outras pessoas, nunca havia me atingido diretamente. Agora minha mãe está morta e eu me pergunto como será para mim quando chegar a minha vez, se eu estarei preparado quando chegar a hora, por quanto tempo eu vou ficar adiando.

Uma bolinha de papel me atinge, me trazendo de volta a realidade. É Thomas, claro. Ele se senta lá na frente, perto do quadro, enquanto eu sento perto das janelas, numa mesa nem muito atrás nem muito na frente, exatamente no meio da fileira.

Thomas olha para mim de onde está e seus lábios se movem numa pergunta silenciosa. Ele quer saber se está tudo ok. As palavras exatas foram "o que foi?", e suas sobrancelhas estão cerradas de forma questionadora. Não gosto de deixá-lo preocupado, mas ele já se tornou expert em descobrir quando estou tendo ideias.

Aceno com a cabeça, fazendo que não. É meu modo de dizer que está tudo bem, mas é meu modo de dizer que está tudo bem quando na verdade não está. Thomas também sabe disso. Ele faz um sinal com a mão me convidando para sair da sala. Eu nego novamente.

Não quero ter que explicar nada, é inútil. E o que eu diria? Minha mãe morreu há dez meses e eu ainda penso sobre isso o tempo todo quando ninguém mais parece sequer lembrar que aconteceu. Não acho que ainda possa ser considerado normal um luto tão longo quanto esse.

Para tranquilizar Thomas, eu abro meu caderno. O caderno da escola, e não o meu outro caderno – o pessoal, onde eu costumo escrever. Estamos no fim da aula de física e essa é uma matéria em que eu costumo me dar bem. Não gosto muito de números, mas prefiro física a matemática, pois considero mais fácil de usar a lógica e menos complicado para decorar fórmulas. Sou péssimo com essa coisa de decorar o que quer que seja.

Dou uma olhada rápida em Thomas, para checar se ele ainda está me encarando, e ele não está, então fico mais tranquilo para voltar a me sentir mal.

SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora