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D A N I E L

Meus irmãos me dão força quando eu estou sozinho. Eles me ajudam a seguir em frente com a obscuridade.

(101 WALLA)


Não quero sair, não quero levantar da cama, não quero mover um músculo sequer, nem para falar, nem para respirar. Quero me afundar no colchão e que ele me cubra por inteiro, me engula até que eu sufoque no macio dos panos, elásticos e algodões.

Espero, espero e espero. Não prego o olho a noite inteira. Olho para o relógio incontáveis vezes, e cada vez que olho fico ainda mais impaciente, frustrado. Termino jogando o celular para longe e ele voa pelo quarto, bate na parede e cai no carpete do chão. Não quero saber se trincou a tela, não quero saber se ainda vai funcionar. Sinto raiva, e isso me conforta, pois pelo menos é alguma coisa.

Às 7:30 da manhã, Thomas escancara a porta do meu quarto. Ele está com cara de zero negociações.

– Vamos, levanta – ordena.

Eu apenas o encaro deitado onde estou, sem reação.

– Tô falando sério, cara. Simbora daqui.

– Não vou pra aula – digo, cansado só em ter que falar. Estou faltando aula há mais de uma semana, o que ele espera conseguir vindo até aqui? – Sarah vem me ver no fim da tarde.

Thomas vem até mim e para bem na minha frente, encostando na cama. Uma buzina de carro soa bem perto da minha casa. Provavelmente Helena, incomodada com a demora do meu primo.

– Quem disse que eu tô te chamando pra escola? A gente vai sair.

– Sair pra onde?

Ele ignora minha pergunta. Ao invés disso, me empurra para a frente. Eu me revirei na cama a noite inteira e acabei parando deitado com a cabeça virada para a porta, então agora Thomas empurra meus ombros, fazendo com que meu tronco se erga e eu me sente à força.

– O que você tá fazendo? Para com isso – dou impulso pra trás, mas ele sobe de joelhos na cama e continua me empurrando.

– Você vai levantar dessa cama, vai sair desse quarto – ele diz. Não está simplesmente pedindo, está dando uma ordem, o que me irrita ainda mais.

Porém eu sei que quando Thomas fala desse jeito ele só vai desistir quando conseguir o que deseja.

– Que saco, Thomas. Que inferno!

Sacudo meu ombro, afastando sua mão para longe e me viro para a lateral da cama, longe dele, forçando meus pés a assentarem no chão e ficando de pé. A buzina toca novamente, dessa vez duas vezes seguidas, com mais impaciência.

– Sua mãe tá chamando – digo a Thomas, mas ele me ignora. – É melhor você ir. – Insisto, querendo que ele me deixe em paz.

Ele faz um sinal negativo com a cabeça, mas tira o celular do bolso e checa alguma coisa. Depois aponta para mim com advertência:

– Eu vou lá embaixo, mas eu volto. E quando eu voltar eu quero que você tenha tomado um banho e esteja apresentável. Nós vamos sair.

– Nós quem? – pergunto, mas ele já foi embora.

Ponho minhas duas mãos no rosto, na frente dos olhos, e arrasto-as para baixo com força, gemendo de impaciência e frustração. Que saco.

Faço um esforço enorme para continuar de pé, para andar até o banheiro, abrir a porta, entrar. É como se cada passo pedisse um esforço maior que o normal. Meu corpo está pesado, exausto, e eu passei os últimos dois dias deitado.

SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora