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D A N I E L

Não estou triste, mas devo admitir que de vez em quando sinto preguiça de existir.

Sean Wilhelm


Quando a maioria das pessoas ouve a palavra suicídio elas pensam em loucura. Eu pensava o mesmo. Mas quando essas ideias começaram a surgir na minha cabeça, eu senti dúvidas. Não parecia loucura, parecia a coisa certa a fazer. Agora eu tenho certeza: é loucura. Mas continua sendo a coisa certa a fazer.


≈ ≈ ≈


Eu tenho uma irritante mania de pensar e refletir muito sobre tudo.

Na verdade, é um defeito, um grande defeito.

Quando eu tinha 12 anos li em algum lugar que algum figurão esperto falou que a sabedoria pode entristecer o homem. Eu não concordei no primeiro momento, sempre achei que saber de tudo fosse a coisa mais legal do mundo. Depois percebi que ele tinha razão. Quando você sabe de tudo, você sabe de tudo.

Quero dizer, existem coisas boas e coisas ruins, nós tomamos decisões boas e ruins, pensamos e agimos com bondade e maldade. Não muito raro nós agimos do jeito errado pensando em fazer o certo. Mas, quando sabemos de tudo, isso muda completamente. Nós possuímos o conhecimento da coisa, sabemos se é certo ou errado e mesmo assim podemos ter a opção de continuar fazendo.

Isso é algo que pode ser destrutivo, porque quando agimos terrivelmente mal sem ter a consciência do nosso erro está tudo bem, há chance de perdão - você ainda pode tentar se redimir-, mas quando agimos terrivelmente mal, sabendo que é errado, sabendo que queremos o errado e, principalmente, que não vamos parar, não há salvação.

Acho que ainda está complexo, mas grande parte de mim é complexa. Desde que comecei a pensar sobre isso, por volta dos doze anos, passei os últimos quatro anos reformulando essa teoria e ainda não cheguei a uma conclusão favorável para mim.

Na verdade, quanto mais descubro sobre o mundo, mais triste sobre ele eu fico. Sobre mim, também, por ser uma parte desse mundo. Então sei que o figurão esperto estava mesmo certo sobre a felicidade e as pessoas sábias. E ele devia ser outro infeliz.

Não sei bem aonde quis chegar falando isso tudo. Não sei onde quero chegar com metade das coisas que faço. Não posso afirmar que sou distraído, geralmente eu sei o que estou fazendo. O problema é que eu penso demais, penso sobre tudo, e quanto mais penso mais acredito que nada disso vale a pena.

Veja bem, vivemos pra morrer. Não importa se eu crescer na vida, for feliz, rico e realizado, morrerei de qualquer forma. Do pó viemos, ao pó retornaremos. Que diferença faz encurtar esse espaço de tempo entre o início e o fim da minha vida? Se a morte é a nossa única certeza, qual o sentido em continuar vivendo?

Quando eu era criança, costumava me achar especial. Minha mãe me fazia sentir especial. Ela fazia tudo parecer fácil e divertido. Mesmo quando as coisas estavam caminhando para o mal caminho, ela descobria um jeito de enxergar tudo pela melhor perspectiva e me ensinava a ver assim também. Ela me fazia acreditar que eu era capaz de fazer tudo.

Gosto de pensar que naquela época eu era feliz. Eu não tinha preocupações, eu não sofria por antecipação, eu não pensava no futuro. Meu maior medo era o escuro, e agora é como se a escuridão tivesse decidido se hospedar diretamente em meu peito.

SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora