17 - Parte II

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A L I S S A

Eu quero ser capaz de correr e não ter a sensação de que vou tropeçar.

Kristen Stewart


– Para onde você está indo? – Daniel pergunta, com ar despreocupado.

Eu levo um tempo para processar que ele está ali, o braço quase raspando no meu, ainda mais próximo do que ontem de manhã, quando tivemos nossa primeira conversa significativa.

– Para a escola – consigo responder, com a voz um pouco entrecortada.

– Ah, é?

Não gosto do jeito como ele pergunta isso, como se estivesse duvidando de mim, então soo um pouco mal-humorada com a próxima resposta.

– É.

Ele ergue uma sobrancelha, ainda com ar de dúvida. Apesar da expressão e do sentido zombeteiro em sua pergunta, sua voz continua neutra, quase indiferente, como se ele estivesse tentando manter um diálogo comigo apenas para fugir do sono.

– Tem certeza? – ele pergunta, a cabeça ligeiramente inclinada para o meu lado, mas os olhos focados na paisagem do lado de fora.

Sério, agora estou mesmo irritada.

– Qual é o seu problema?

Daniel volta-se para mim, percorrendo rapidamente o olhar pelo meu rosto e parando nos meus olhos. É por pouco tempo, ele logo desvia e volta a olhar pela janela.

– Não sou eu quem estou com um problema aqui – ele diz. – Você pegou o ônibus errado.

O quê?

– O quê?

Ele dá de ombros, como se realmente não fosse grande coisa para ele, e não deve ser mesmo. Mas para mim isso não pode ser possível.

– Como assim? Mas você está aqui –tento argumentar, sem me preocupar em esconder o nervosismo.

Daniel ergue as sobrancelhas de novo e mais uma vez seu olhar cruza com o meu, para logo então desviar novamente. Ele não parece nervoso ou preocupado como eu, então esta deve ser algum tipo de mania sua, algo que eu ainda não havia percebido antes.

– E daí? Quem disse que eu vou para a escola? – sua voz é lenta e baixa, ele pronuncia cada palavra com cuidado, o que o impede de parecer grosseiro.

– Você está de uniforme – acuso.

Ele olha para baixo, para a roupa que está usando, quase rendido. Quase.

– Bem, é verdade. Talvez eu vá para a escola. Mas esse ônibus não nos leva até lá.

– E porque você o pegou, então?

– Por que você o pegou? – ele devolve a pergunta, e agora seus olhos se fixam aos meus por uma fração de segundo a mais de tempo.

– Porque eu vi você entrando.

– Estava me seguindo?

– Claro que não! – sinto meu rosto ficar vermelho e preciso desviar o olhar, mesmo que esteja falando a verdade.

Quando olho de novo, vejo os cantos de sua boca levemente erguidos, como se um sorriso pudesse brotar dali a qualquer instante. Ele ainda olha pela janela, mas sei que está se divertindo com a situação.

Sinto meu rosto corar mais ainda, porém desta vez de raiva. Mas, antes que eu possa protestar, Daniel me direciona mais um de seus olhares de esguelha e diz:

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