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⁠⁠⁠D A N I E L

Não chame isso de luta se você sabe que é uma guerra.

The City – The 1975

Na terça, pego carona com Thomas para ir a escola. Tive uma péssima noite de sono e não me sinto disposto a pegar ônibus. Estou indo para o ginásio quando, no último segundo, dou meia volta e vou para a sala de monitoria. Talvez eu queira assistir aula.

A equipe não está completa. Apenas eu, Thomas e Anna ocupamos a mesa redonda no canto mais afastado da sala. Tenho vontade de perguntar onde está Alissa, mas, considerando que vim o caminho todo no carro em silêncio com Thomas e sequer desejei um mero bom-dia para Anna, resolvo ficar calado. No fim das contas Alissa acaba aparecendo na metade do período. Está com as bochechas coradas, então presumo que tenha se apressado pelos corredores para chegar a tempo na sala.

Quero perguntar se ela se atrasou porque veio de ônibus, mas ela mesma se explica assim que se junta a nós. Anna e Thomas se limitam a dar um sorriso e alguns múrmurios de "bacana" e eu me sinto incomodado porque eles não fazem ideia do quanto ela está feliz por este pequeno feito.

Estou pensando em algo legal para dizer quando Alissa olha para mim e seu sorriso é tão resplandecente que qualquer coisa que pudesse estar passando pela minha cabeça imediatamente some. Pergunto-me como ela consegue ser da forma que é, tão calma e suave e sempre encantar a todos.

Quero dizer, todo mundo fica sem palavras com esse sorriso, não fica? Não pode ter sido só eu, parece até que ela roubou toda a luz do mundo e colocou em seu sorriso. Eu preciso olhar para outro lado se não quiser ser pego também.

Na aula de história, usamos um dos laptops para fazer o trabalho de história sobre Revolução Industrial que Thomas e Alissa haviam mencionado há um tempo. Anna está fazendo uma introdução com sua letra impecável numa cartolina branca, Thomas recorta figuras de uma revista de história e eu estou lendo alguns textos sobre o assunto na internet. Alissa está sentada ao meu lado, tentando acompanhar o que leio. Tento ser o mais lento que posso, porque descobri da pior forma que nem todo mundo consegue ler tão rápido quanto eu.

Em um determinado momento, Alissa arqueja e se inclina na minha direção, passando um braço na minha frente e tocando a tela do notebook com o dedo.

– Abre essa página aqui, ela é bem explicativa – ela pede.

Eu me esquivo do seu braço, surpreso com o movimento repentino.

– Você quer fazer a pesquisa? – minha voz sai meio rouca, talvez porque eu tenha falado o mínimo desde que acordei, e Alissa estremece ao meu lado, o que me faz concluir que a pergunta soou rude, então eu tento consertar: – Nada contra, é que você parece interessada e eu não estou nem um pouco, para falar a verdade.

– Não gosta do tema? – ela pergunta, completamente alheia ao meu desconforto.

– Nem é por isso, eu só não estou no clima.

Sem esperar resposta, empurro a cadeira para trás e me levanto, fazendo um gesto para que ela assuma meu lugar. Alissa está hesitante e desconfiada, mas troca de assento e eu vou para a cadeira em que ela esteve sentada, um pouco mais afastado do que ela estava anteriormente. Deixo que ela guie o resto da pesquisa e cruzo meus braços sobre a mesa, apoiando minha cabeça sobre eles.

A próxima coisa que sei é que há um toque delicado em meu ombro e, quando abro os olhos, a primeira coisa que vejo é um par de olhos escuros olhando bem fundo nos meus. E, pela segunda vez no dia, fico sem palavras, então preciso me concentrar bastante para saber onde estou e porque Alissa está me olhando tão preocupada e profundamente.

Concluo que devo ter cochilado e agora a aula acabou, mas isso não me deixa menos desconfortável com aqueles olhos enormes me fitando.

– A gente tá indo pra biblioteca – ela diz, com a voz hesitante. – Você vem?

Eu não respondo. Ainda estou pensando no significado daquelas palavras. Não lembro de ter batido a cabeça em nenhum lugar, não há nenhuma explicação lógica para que eu esteja tão lerdo.

– Vem, você pode dormir lá em cima de alguma mesa – ouço a voz de Thomas e percebo que ele está de pé atrás dela.

Não há nenhum sinal de Anna.

Então, lentamente, eu ergo minha cabeça e pisco, porque ainda me sinto confuso e preciso me certificar de que está tudo ok com minha cabeça. Quando olho ao redor, estou me sentindo melhor, mas cruzo o olhar com o de Alissa novamente e sua expressão curiosa e preocupada é a mesma, então meu mundo gira, minha mente se confunde e eu acho que isso é demais para que eu consiga lidar por um dia.

Eu me levanto e o pensamento mais claro e certo que tenho é o de que preciso falar com Bianca.

SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora