44 - Parte II

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A L I S S A

  O veneno acabou, a festa esvaziou. O tempo da inocência terminou.

(Eu Sou A Maré Viva  – FRESNO)


A primeira coisa que noto sobre Nathan estar conosco é que ele está ali, mas não está totalmente presente. Vejo que ele tenta e realmente se esforça para participar e se conectar ao momento em família, mas sem muito resultado a julgar pelas poucas palavras e o olhar distante. 

Tento me aproximar, mas ele se esquiva do jeito que pode. Para começar, sentou num canto da mesa oposto ao meu e evita me olhar todas às vezes em que tento chamar sua atenção.

Todo mundo está alegre e é um momento para descontrair, mas pensando nas reações enigmáticas de Daniel enquanto assistia ao vídeo e tendo meu irmão me ignorando a todo custo, começo a perder o ânimo.

– Que sabor você vai querer, homenageada da noite? – meu pai pergunta, começando sua sessão de mimos.

Desde que saímos da escola ele e minha mãe só se referem a mim se for desta forma. Estava engraçado no início, mas agora nem tanto. O rosto de Nathan se contorce um pouco quando papai diz isso. Dou de ombros.

– Não sei, eu gosto de todos.

Gabriel e Lucas estão mexendo no celular, mas se esticam em suas cadeiras quando escutam isso. Gabe sugere um sabor e Luke fala por cima, assim iniciando uma disputa sobre qual deles fala mais alto e é atendido.

– Mussarela.

– 5 queijos!

– Camarão com catupiry.

– Chocolate!

Nossa mãe puxa o cardápio da mão de Luke, que estava tentando mantê-lo o mais afastado de Gabe. Gabe ri, mas Luke faz uma cara indignada.

– Que falta de educação, senhora dona mãe. Eu estava lendo isso.

– Não estava nada – ela põe o cardápio quase no centro da mesa, mas a uma distância segura dos meninos e perto o suficiente do seu alcance para o caso de algum deles tentar alguma gracinha. – Vamos escolher uma pizza de dois sabores.

– Não pode ser de quatro?

Nathan solta um riso engasgado quando Luke pergunta isso, recebendo um olhar de repreensão de nossa mãe. Demoro um segundo a mais que os outros para entender, mas Gabriel já está se mordendo de rir da cara de Luke ao meu lado.

– Eu não quis dizer nesse sentido – Luke reclama, ofendido.

Nosso pai olha feio para Nathan.

– Tudo bem, nós entendemos.

– O quê? – Nathan questiona, incomodado com o olhar do nosso pai. – Eu não disse nada demais.

– Não precisou dizer.

– Certo, não posso mais rir. Anotado.

– Nathan, não seja cínico.

Nossa mãe põe a mão sobre o braço do nosso pai, que está visivelmente aborrecido. É o bastante para acalmá-lo. Para minha surpresa, apesar de estar evitando falar diretamente comigo, Nathan ainda aceita meu pedido silencioso de paz e relaxa a postura em sua cadeira, se jogando para trás com uma careta de irritação, mas sem dizer mais nenhuma palavra.

Quando meus irmãos mais novos e meu pai retomam a discussão sobre qual sabor de pizza pedir, insisto que, qualquer que seja o sabor, uma das metades contenha presunto, pois sei que Nate ama presunto e quero agradá-lo como puder. Ele me agradece com o olhar e eu tento sorrir, mas ele vira para outra direção na mesma hora.

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