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D A N I E L

Sleepwalking Bring Me The Horizon


É no mínimo curioso que eu esteja, numa madrugada chuvosa, deitado em minha cama ouvindo Somewhere Only We Know e pensando em Alissa. E nunca antes esta canção fez tanto sentido para mim.

Estou pensando na praia, quando eu a beijei. É estranho para mim pensar nisso, que eu tomei a iniciativa. Me sinto um idiota. Eu terminei com Bianca achando que iria ficar sozinho, sem mais ninguém para me prender em lugar nenhum. E mesmo que eu ainda esteja tão solto, tão livre, não consigo deter o impulso de me agarrar a ela, me envolver e nunca mais soltar.

Eu rolo na cama e aumento o volume da música. Fecho os olhos. Lembro de cada pedaço de momento do que aconteceu ontem a tarde. Eu fiz mesmo aquilo? Fiz. Poderia fazer mil vezes se ela permitisse. E tenho a impressão de que ela permitiria.

Mas, ainda assim, porque eu sinto como se algo não estivesse certo?


≈ ≈ ≈


Ainda estou largado sobre a cama, ouvindo uma das minhas playlist, quando meu celular toca novamente. Quatro chamadas seguidas. Qualquer pessoa acharia que algo muito sério teria acontecido, mas eu não. Eu sei que eu sou o algo sério. 

– Qual seu problema, porra? – Thomas praticamente berra do outro lado da linha quando eu finalmente resolvo atender. – Seu pai não tá em casa, tudo tá fechado, e quando Karen aparece ela mente e diz que você saiu. Eu sei que você não saiu. Nenhum fantasma que possa viver na sua casa teria um gosto musical tão ruim quanto o seu. – Ele tenta aliviar o aborrecimento com uma piada.

Não sou burro por deixar a música correr pelas caixas de som do notebook ao invés do meu fone. Só não ligo se souberem que estou aqui. Ou talvez eu queira que saibam que estou aqui. Ei, pessoal, ainda estou vivo! Só queria um tempo pra pensar em quando não estiver mais.  Quem sabe algo melhor do que isso. A quem interessar possa, estou bem aqui.

Me viro de lado na cama, deixando o celular deitado em cima da minha cabeça, encostando na bochecha. Olho para as persianas fechadas, posso ver rastros do sol que eu expulsei tentando transpassá-las. Sei o momento exato em que Thomas percebe que não é uma boa hora para brincadeiras. É logo depois de passarmos esse longo minuto em silêncio, apenas ouvindo a respiração um do outro. Eu odeio telefonemas.  Se não tiver algo realmente importante a dizer, prefiro desligar. Thomas sabe disso.

  –  O que aconteceu, cara? –  Ele pergunta, cedendo. 

Eu não respondo de imediato. Não sei o que dizer. Não sei como explicar as noites de sono mal dormidas, as lembranças boas e ruins, velhas e novas, a parte de mim que quer a todo custo continuar resistindo e a outra, aparentemente mais forte, que me mantém preso a esta cama, como o moribundo amargurado que talvez, no fim das contas, eu seja mesmo.

– Você poderia.. –  Começo, minha voz saindo fraca e automática, como se eu não estivesse ciente das minhas próprias palavras, então reformulo:   – Você pode vir aqui?

Thomas não responde de imediato. Como eu, ele também espera, avalia a situação, se pergunta se é mais um caso do Daniel preguiçoso-não-quer-nada-com-a-vida-e-não-sabe-o-que-fazer ou do Daniel problemático-não-quer-nada-com-a-vida-literalmente, aquele que aparece ocasionalmente e fode a rotina de todo mundo.

SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora