Submersos

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A L I S S A

Fantasy - MS MR

- Por quanto tempo você pretende ficar aí parada olhando pra esse prato de comida? - Luke surge de repente na porta da cozinha.

Seu cabelo castanho claro está desarrumado e suor escorre pela sua testa. Ele estava jogando bola, tenho certeza. Gabriel surge logo atrás, como sempre. Eles passam tanto tempo juntos que eu até esqueço que eles não nasceram juntos ou sequer da mesma mãe.

Olho para o prato quase intacto na mesa a minha frente. Faço uma careta para a salada de legumes, nem um pouco entusiasmada com sua aparência.

- Quanto você vai me pagar pra eu não contar pra mãe que você não almoçou tudo? - Luke propõe, interesseiro.

- Eu não tenho dinheiro.

- Eu sei. Por isso eu quero que você convença a mãe a me deixar comprar uma bateria.

- Pra quê você quer uma bateria e com que dinheiro você compraria uma bateria?

- Tá, a mãe que vai comprar a bateria. Dá na mesma. E é claro que eu quero pra tocar. Pra que mais seria?

- E você ao menos sabe tocar?

- Posso aprender - ele revira os olhos. - Nosso vizinho sabe.

Sinto-me eriçar na cadeira.

- Que vizinho? - E continuo, sem esperar resposta: - E desde quando vocês são amigos?

- Não somos ainda. Isso também está nos meus planos, mas uma coisa de cada vez.

Não posso deixar de rir da engenhosidade do meu irmãozinho. Luke provavelmente será um arrasador de corações. Ele tem a beleza e o charme ideal para isso. Talvez falte um pouco de humildade, mas ainda dá tempo de providenciar um pouco disso. Gabriel será um daqueles garotos de aparência meio nerd, superfofos e que conseguem conquistar com o carisma e a inteligência.

- Feito. - Firmo o acordo, já me levantando para jogar a comida fora.

Despejo tudo no lixo e ponho o prato sobre a pia quando Gabriel, que estava quieto em seu canto observando tudo desde o início, comenta com ar afetado:

- O lado bom de ser ignorado nesta família é quando chega a hora da vingança.

Eu e Luke olhamos para ele ao mesmo tempo, sem entender.

- Do que você tá falando?

Ele dá de ombros:

- Você comprou o silêncio do Luke, mas não o meu. E para seu azar, não estou a venda. Então, se me dão licença... Ô manhê! A Alissa tá estragando comida!

Sabe aquela história de nerd fofinho e irresistível? Pode esquecer.

- Eu não acredito nisso! - Ouço minha mãe gritar do jardim.

- Mas que cuzão. - Luke resmunga.

- Luke, eu ouvi isso. - Mamãe aparece na porta, com um olhar de censura. - Alissa, você também não dá o exemplo. E que história é essa de jogar comida fora? Será que já não tivemos aquela conversa sobre a fome no mundo?

Lanço a ela um olhar acuado, avaliando se ela está no momento "brava demais para ser boazinha" ou no momento "cansada demais para dar um castigo sério". É a segunda opção.

- Eu estava sem fome. E odeio salada de legumes..

- Isso não é desculpa, Alissa. - Ela corta, mas não está tão brava. - Você não pode estragar comida desse jeito.