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A L I S S A

Cada passo que dou é outro erro para você e cada segundo que perco é mais do que eu posso suportar.

(Numb – Linkin Park)


Mandei mensagem para Daniel três vezes nos últimos dois dias. Depois de quarta, ele não foi mais para a escola e nem o vi do lado de fora de sua casa. Eu até quis, mas algo me impediu de ir até sua porta e saber se estava tudo bem. Talvez eu ainda não me sentisse confiante o suficiente para fazer isso, mas também não fiquei com isso o tempo inteiro na cabeça.

Tentei relaxar e aproveitar meu dia da melhor forma. Acho que no fundo eu já estava me acostumado ao fato de que ele ia e voltava, sumia o tempo todo, se recolhendo consigo mesmo e tirando seu tempo para pensar. Eu tinha minha crença de que, com o tempo, ele se abriria mais para mim e eu entenderia melhor o que se passava em sua cabeça para que ele se isolasse tanto.

Tive uma aula de dança com Anna. Mais especificamente, fugi da aula de estudo e pesquisa e fui para o estúdio de dança me encontrar com ela, Thomas e Victor. Eles ensaiavam primeiro sem música, estavam pensando em fazer algo sobre família novamente. Para a Semana de Exposições do primeiro semestre, Anna e Victor dançaram Papaoutai de Stromae, como uma forma de criticar a ausência do amor paterno. Desta vez, ao invés de criticar, eles iriam exaltar o amor materno. Encenariam uma peça musical com a ajuda de Pandora, o que me deixou empolgada o suficiente para esquecer outras preocupações.

Mas foi durante a noite, já em casa, que eu descobri que meu envolvimento com Daniel precisava de mais atenção. Quando Thomas me ligou pedindo para que eu fosse na casa vizinha, por favor, naquele momento, eu não hesitei.

Eu não deveria ter estranhado tanto assim encontrar Helena por lá, afinal, até onde eu sei, ela é tia de Daniel. Mas Karen, da nossa escola, não tinha nada a ver com aquilo. Ou pelo menos era isso que eu pensava até o momento em que termino de subir as escadas e sou recebida pelo seu olhar preocupado.

Thomas, que anda de um lado para outro com impaciência, dá um suspiro de alívio ao me ver e vem na minha direção, parecendo grato e ao mesmo tempo surpreso com a minha chegada, como se, no mínimo, ele não tivesse acreditado que eu viria de verdade.

– Obrigado por vir – ele diz.

O pai de Daniel parece extremamente cansado. Ele está sentado num pequeno sofá de dois lugares na antessala em frente ao corredor que leva aos quartos. Ele mantém uma expressão impassível, com as mãos apoiadas sobre os joelhos e o rosto apoiado sobre as mãos, que estão com os dedos entrelaçados, como se ele fizesse uma oração, mas eu sei que não. É exatamente dessa forma que já vi Daniel ficar diversas vezes na escola quando está distraído demais para prestar atenção na aula, lançando um olhar vago para um ponto fixo, imerso em seus próprios pensamentos.

– O que está acontecendo? – pergunto, finalmente.

– O que ela está fazendo aqui? – uma voz ressoa atrás de mim e eu me viro quase imediatamente para dar de cara com Bianca, que termina de subir as escadas carregando um copo d'água em uma das mãos.

– O que você está fazendo aqui? – devolvo a pergunta, igualmente surpresa.

– Eu cheguei muito antes de você.

Eu sinto a indireta. Sei que ela não fala apenas daquele momento específico e estou pronta para responder à altura, mas ela continua:

– Vim conversar com o Daniel. Eu senti que ele não estava bem com o nosso término. Eu também não estou. – Bianca explica, enquanto eu sinto o sangue ferver em minhas veias. – A porta tava aberta, mas ele se trancou no quarto. Eu chamei milhares de vezes e o pai dele chegou há pouco tempo, mas não conseguiu nada.

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