45 - Parte I

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N.A.: para este capítulo, além da citação que escolhi, há outra da mesma música que também se encaixa e é: "o que não te mata te faz querer morrer". Queria que soubessem que amo cada um de vocês que está lendo até aqui. Desculpem pela dor deste capítulo.


D A N I E L

Quem vai me fazer lutar? Me trazer com vida? Salve-me de mim mesmo, não me deixe afogar.

(Drown – Bring Me The Horizon)


Não sei, estou tentando. Quero me animar e acompanhar todo mundo nesta onda de alegria simultânea. Os pais de Thomas não param de falar sobre o vídeo e nossa apresentação. Meu pai não fala muita coisa para mim, mas sei que ele está orgulhoso, dá para sentir irradiando do sorriso tímido que ele me lança sempre que seu olhar cruza com o meu.

Estamos todos na sala de estar, espalhados entre os sofás e o tapete. Na verdade, as únicas pessoas que estão no tapete somos eu, Thomas e Noah, que está tentando a todo custo fazer amizade com o filho mais velho de Karen. Ela está aqui e trouxe seus dois filhos, um menino e uma menina que eu não gravei os nomes e têm 12 e 8 anos, respectivamente.

Estou contente porque ela trouxe minha torta de limão preferida, cookies com gotas de chocolate e o melhor de tudo: purê. Meu pai pode tentar cozinhar como for, e Helena sabe umas receitas deliciosas, mas nada no mundo supera os cookies, a torta de limão e o purê de batatas com queijo de Karen.

Thomas está prestes a me mostrar alguma coisa no celular quando a campainha toca. Eu estranho, porque até onde sei não estamos esperando ninguém, está todo mundo aqui, mas o resto dos adultos não parece surpreso e meu pai segue alegremente até a porta.

Desvio minha atenção de Thomas para a porta, esticando o pescoço para ver quem chegou.

– Desculpem o atraso, tive que deixar Lília na casa do pai – Sarah diz, entrando nervosa na sala de estar com algumas tigelas de comida nas mãos. Meu pai corre para ajudá-la junto com Karen, mas Sarah ainda está falando. – Ela não quis vir. Eu tentei de tudo.

Meu pai acena com a cabeça, como se não fosse nada demais, e segue com as comidas até a cozinha com Karen ao seu encalço.

Sarah, agora de mãos vazias, para na ponta de um dos sofás e fita todo mundo, passeando os olhos entre cada um de nós e, por fim, parando em mim. Eu franzo a sobrancelha. Não quero ser indelicado, mas se este é um jantar em família, por que ela está aqui?

Eu entendo o fato de Karen ter vindo, ela se tornou praticamente da família desde que minha mãe morreu. Ela me conhece, cuida de mim da forma que pode, me prepara sobremesas deliciosas e olha por mim na escola e em casa também, quando nos visita.

– Parabéns pela apresentação de hoje, meninos – Sarah cumprimenta a mim e a Thomas, mas ainda está olhando apenas para mim quando fala.

Ela está desconfortável, dá para perceber. Eu também estou. Me viro para meu pai no instante em que ele volta para a sala, mas ele está calmo como sempre, com seu sorriso tímido e despretensioso muito bem estampado.

– Bom, agora que está todo mundo aqui, podemos começar o jantar.

– A gente tava esperando a Sarah? – não consigo evitar perguntar.

É aí que o sorriso singelo do meu pai desmorona. Quando ele se vira para mim, se torna óbvia para qualquer um a sombra de nervosismo que modifica automaticanete seu semblante.

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