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E se uma criança chorasse, você não iria perdoá-la?

Strong – London Grammar


Não tenho a menor ideia do que fazer ou do que dizer agora, mas não posso simplesmente deixá-lo sozinho aqui. Ele se afasta de mim e me encara por um longo tempo, como se estivesse travando uma luta interna, enquanto eu permaneço parada a sua frente, esperando o próximo passo. Mesmo depois de tê-lo abraçado, eu ainda me sinto hesitante, como se esse pequeno gesto não tivesse sido o suficiente para me tornar menos estranha aos seus olhos.

– Vá embora – ele diz.

Eu não posso acreditar. Não tenho reação alguma até ele repetir, ainda mais firme:

– Vá embora, Alissa.

No primeiro momento, eu quase faço o que ele está pedindo. Mas há algo, como da primeira vez em que resolvi voltar atrás e abraçá-lo. Não sei bem se é na sua expressão ou na sua voz. Não é apenas raiva, mas também não é exatamente tristeza. É mais como uma espécie de mágoa, de dor acomodada, como se ele já estivesse se sentindo assim por tempo demais para se importar consigo mesmo ou, pior ainda, como se ele já tivesse acostumado a guardar essa dor em seu canto, sem ninguém com interesse o suficiente para descobri-la, questioná-la, ou no mínimo disposto a ajudá-lo a lidar com ela, porque, pela sua voz e pelo seu olhar, eu sei que ele se considera incapaz de fazer isso sozinho.

E é por esta razão que resolvo ficar mais uma vez.

– Vou te deixar em paz – eu falo cuidadosamente, mesmo que ele não esteja mais me olhando. – Mas isso não é o mesmo que te deixar sozinho. Não vou falar nada, nem você precisa dizer qualquer coisa. Só saiba que estou aqui, ok?

Ele me encara por um longo momento, os olhos avermelhados e o rosto molhado. Então se encosta na parede atrás de si e lentamente escorrega para baixo, sentando-se no chão do corredor em que estamos. Eu fico de pé, esperando que ele torne a me mandar embora, mas ele permanece em silêncio, olhando rente a sua frente, para o nada, esperando uma atitude minha. Eu posso insistir ou ceder. Opto pela primeira opção.

Calmamente, me aproximo e sento ao seu lado, colando minhas costas na parede fria. Daniel ergue uma mão até seu rosto, limpando as lágrimas, e então torna a abaixá-la, deixando-a caída no espaço do chão entre nós. Eu observo seu punho fechar e abrir novamente, e mais uma vez escolho insistir e tentar mais fundo. Ponho minha mão sobre a sua e espero sua reação.

Ele se retesa sob meu toque e olha para mim, como se medisse meu grau de sanidade. Quase posso ver a pergunta em seus olhos, mas ele não diz nada. Ao invés disso, e para minha surpresa, ele lentamente vira sua palma e entrelaça os dedos nos meus com tanta força que machuca. Eu sinto que esta é uma forma de desafio, como se ele estivesse dizendo: "você não aguentaria isso". Então eu devolvo o aperto, mostrando a ele que sim, eu sou capaz de suportar o que quer que ele esteja carregando.

Sem desviar o olhar de nossas mãos entrelaçadas, Daniel relaxa seu aperto, e eu relaxo o meu. Então ficamos os dois sentados no chão do corredor até o sinal tocar e nossas mãos estarem ambas suadas, mas ainda unidas.

SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora