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A L I S S A

Nunca tive muitos freios em matéria de sentimento.

Clarissa Corrêa

No geral, eu gosto das aulas de artes cênicas. Teatro é bom. Principalmente quando você tem uma melhor amiga que consegue o papel principal em todas as peças. Mas hoje não está tão legal assim.

Todos os anos a escola escolhe um tema sobre o qual vamos trabalhar e aprender. Tipo aqueles temas de feiras científicas ou culturais, mas aqui nós não esperamos até a feira de ciência e cultura, nós fazemos atividades que tenham relação com o tema durante todo o ano e escolhemos algo em especial para apresentar na Semana de Exposições, uma semana inteira de apresentações de trabalhos feitos por nós, que ocorre duas vezes ao ano, uma antes das férias do primeiro semestre e outra no fim do segundo,  e tem todo tipo de coisa, desde exposições científicas a apresentações de música, dança e teatro. E é nisso que estamos trabalhando agora.

Esse ano, o tema escolhido pela escola foi Amor. É, simples assim, mas todo mundo quer ser original. Quero dizer, qualquer coisa sobre o amor está valendo. Nós podemos trabalhar sobre o significado do verdadeiro amor, sobre as diferentes formas de amar, como o amor romântico e o fraternal, ou podemos trabalhar etapas e consequências do amor, como a paixão e o ciúme. Existe uma gama de opções e todos querem algo diferente para apresentar.

Hoje, na aula de artes cênicas, estamos sentados em cadeiras de forma aleatória pela sala, debatendo sobre quais serão nossos projetos para a segunda Semana de Exposições. Uma destas ideias será escolhida para a construção de um roteiro para uma peça teatral, a razão para estarmos sentados e não de pé praticando exercícios cênicos pelo salão.

Eu estou totalmente sem ideias. Pensei em fazer algo sobre a família, mas um grupinho pensou nisso antes de mim e está reunido no canto da sala discutindo a respeito. Estou considerando me juntar a eles quando Thomas suspira ao meu lado, alto o suficiente para que eu entenda que está extremamente entediado. Ele quer algo mais radical, mas ainda não consegue dizer especificamente o que isso significa.

– O que você acha de "propósito"? – Ele sugere de repente.

– Como assim? – Não escondo minha falta de interesse.

Thomas murcha um pouco, mas continua:

– Você sabe, o propósito das pessoas. Tipo, sei lá, um sonho.

– Acho que isso não tem muito a ver com amor.

– Claro que tem. Você ama tanto algo que quer fazer isso pelo resto da sua vida, é o seu propósito.

Penso por um momento, avaliando o que ele disse. Não me parece uma ideia ruim. Na verdade, é bem complicado isso de falar sobre sonhos e propósitos sem fugir do tema principal, que é amor.

Preciso admitir que é uma boa ideia vindo de alguém como Thomas. Geralmente ele não liga muito pra nada e passa as aulas jogando bolinhas de papel com cuspe na cabeça das pessoas.

Levanto a mão, acenando para Pandora. Esse é o nome da nossa professora de teatro. É um nome estranho para uma pessoa estranha. Ela tem um estilo meio hippie e está sempre sorrindo, com uma calma impressionante para lidar com os adolescentes teimosos e barulhentos que somos nós. 

Pandora já está sorrindo antes mesmo de olhar para mim, e é impossível não sorrir de volta da sua expressão de "brisa eterna". Quando se aproxima, apoia a mão sobre o ombro de Thomas, que está sentado de frente para mim.

– Que falta de energia, Tom. Algum problema? – Ela pergunta, mas então olha na minha direção e eu não sei se a última parte foi direcionada a mim ou a ele. Como se lesse meus pensamentos, ela diz: – Fiz a pergunta aos dois.

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