Epílogo - Parte Final

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A L I S SA

Aguente firme, minha querida.
Essa bagunça era sua, agora sua bagunça é minha (também).

(Mess Is Mine – Vance Joy)


No ônibus, enquanto estamos indo até a praia onde Daniel diz saber de alguém que pode ter informações sobre Nathan, ele continua se desculpando.

– Eu não queria ser a pessoa que iria pôr tudo a perder entre vocês dois – ele diz, se referindo a mim e Nathan. – Você já me falou uma vez sobre o que aconteceu quando você contou aos seus pais sobre o bullying que ele sofria na escola quando era pequeno. Eu não queria que a relação de vocês se abalasse ainda mais por minha culpa. Achei que seria intromissão da minha parte.

Apesar de não concordar com a parte de ser intromissão, eu entendo o que ele quer dizer e, sinceramente, não estou brava com ele. Estou brava comigo mesma por ter demorado tanto tempo a tomar uma iniciativa e ir falar com meu irmão, afinal de contas, ele é meu irmão, eu é quem deveria estar cuidando dele assim como ele cuidava de mim.

Agora tenho que lidar com o fato de que Nathan estava usando drogas há sabe-se lá quanto tempo, que pegava essas drogas na praia que eu já visitei tantas vezes e que no dia que nos encontramos por acaso era isso que ele tinha vindo tratar aqui. Dentro do ônibus tento ligar para Cristal, a namorada de Nathan, mas ela não atende e isso me deixa ainda mais frustrada e pensando na possibilidade de ela fazer parte desse plano maluco dele de fugir.

Quando descemos na parada do calçadão, eu praticamente corro até a areia. Mesmo que seja Daniel quem tenha me trazido até aqui, eu lembro do homem que vi conversar com meu irmão naquele dia e sei onde posso encontrá-lo.

Ele gerencia um dos poucos quiosques naquela área da praia e está tomando cerveja enquanto conversa com um casal de meia idade, os três sentados ao redor de uma mesa de plástico em frente ao quiosque.

– Ei, você! – eu grito ao me aproximar o suficiente.

Daniel puxa meu braço de uma maneira brusca, diferente do seu jeito normal de me tocar o qual já estou acostumada.

– Não, Alissa. – ele sussurra em advertência.

Me lança um olhar rápido e alarmado antes de focar em frente, para onde o homem está sentado com o casal. Está apreensivo, como se não quisesse de fato estar lidando com aquilo.

– O que foi agora? Mais alguma coisa que você esqueceu de me contar? – provoco, sem conseguir esconder a frustração por ele ter me parado.

Ele baixa os olhos para o chão por um segundo para então me encarar novamente e, apesar de falar baixo e calmo, percebo a nota de seriedade em sua voz.

– Eu te disse que seu irmão conseguia droga aqui com um cara e você vai correndo até esse cara. Sabe o nome de quem vende droga? Traficante. E sabe o que a gente faz quando vê um traficante? Dá meia volta.

Me afasto do seu toque de forma brusca, mas não volto a correr na direção do homem, pois entendo o que ele quis dizer. Mas isso não quer dizer que vou ficar no meu canto quando sei que esse cara pode ter informações sobre o paradeiro do meu irmão.

Ainda estou formulando uma forma de responder Daniel para que nós dois possamos ir falar com o homem quando ouço uma voz rouca e arrastada atrás de mim.

– Procurando uma barraquinha pra aproveitar a praia?

Viro-me imediatamente na direção da voz e vejo o homem que contribuiu para a destruição do meu irmão parado bem na minha frente. Ele tem a pele bronzeada de sol, o rosto avermelhado precisando de um pouco mais de protetor, usa uma bermuda de praia e uma camisa de um time de futebol. Está descalço e posso ver seus dentes manchados e levemente tortos a cada palavra que ele pronuncia.

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