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A L I S S A

Sinto o maior medo e a maior tristeza que já senti em toda a minha vida. Mas agora eu vou lá, mostrar que sou super engraçada.

Tati Bernardi

– Ainda não acredito que eu fiz mesmo aquilo! – Exclamo para Anna, que está sentada na minha frente em minha cama, com minha mão entre as suas.

Ela veio para minha casa depois da escola e está fazendo minhas unhas. Música pop coreana sai das pequenas caixas de áudio do meu computador, em volume ambiente.

– Ah, por favor.. – Anna revira os olhos, então sorri para me animar. – A cara que ele fez valeu a pena, pode admitir.

Eu desvio o olhar, me entregando. Anna ri. Nós estamos falando do bilhete que eu deixei na carteira de Daniel. Eu prometi a mim mesma que iria esquecê-lo por completo, mas não suportei vê-lo parecendo tão mal nos primeiros períodos antes de sair da sala e sumir até o fim do expediente escolar.

O sorriso que ele deu ao ler o bilhete foi o mesmo que me conquistou da primeira vez em que o vi, e agora estou nervosa porque algo dentro de mim me diz, ou melhor: grita, que eu quero, preciso, ver aquele sorriso de novo.

Anna empurra de leve meu ombro, sorrindo com falso deboche.

– Eu não acredito que estou presenciando em primeira mão o início desse romance. Meu primeiro namorado esquisito com a minha melhor amiga! Isso só pode ser culpa do seu signo.

Agora é minha vez de revirar os olhos. Ela e sua fixação por astrologia. E daí que eu tenho Sol em Câncer e Lua em Peixes? Tudo bem, nasci pra ser trouxa e fangirl. Que me deixem sofrer por amores platônicos e ilusões amorosas em paz, um dia escreverei músicas a respeito disso.

– Não tem romance nenhum – resmungo, na defensiva, mas não estou enganando ninguém. – Eu só o acho fofo.

Quando Anna não responde, eu continuo:

– Ele tem um magnetismo que me faz perder totalmente o controle do que eu sinto, entende?

– Não.

– Você já namorou com ele, não pode me julgar por me sentir atraída.

Anna faz um movimento de desdém com a mão, como se não fosse grande coisa, mas quando conversamos sobre isso eu soube que foi.

– A gente tinha, tipo, uns 13 anos.

Ele foi o primeiro namorado dela e isso não é algo que a maioria das pessoas esquece tão facilmente. Mas não é como se ela ainda gostasse dele ou eu estivesse furando o olho da minha melhor amiga, porque isso foi há 3 anos e Anna agora tem um "meio namorado", que é a melhor designação que encontrei para o que ela tem com Victor, o seu par de idas e vindas desde o ano passado e quem eu, com meu coração mole e sonhador, acredito ser sua alma gêmea.

Eles seguem o típico clichê da atração dos opostos: ela com sua beleza negra, ele com seus olhos azuis e cabelo loiro do lado francês da família; ela fã de romance, no estilo clássico e descolado, e ele fã de aventura, na moda do propositalmente desarrumado, feito aquele tipo "playboy" que Anna tanto odeia, mas obviamente abriu uma exceção por esse garoto.

E sinceramente, usando o papo astrológico que ela mesma infiltrou na minha cabeça, eles têm tanto em comum quanto opostos podem ter: os dois são leoninos e apenas eles no mundo inteiro conseguem suportar por tanto tempo um ao outro. Vivem brigando e fazendo as pazes, com todo mundo sabendo que ambos são completamente apaixonados um pelo outro.

SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora