24

1.8K 351 20
                                    

D A N I E L

E se um leão rugisse, você não iria escutar?

Strong – London Grammar


Não sei porque me afastei dela até já tê-lo feito. Ninguém me tocava daquele jeito há anos. Abraços românticos nem sempre são a mesma coisa que um abraço de suporte e compreensão. Da última vez que deixei alguém me abraçar desta forma a minha mãe ainda era viva.

O último abraço que minha mãe me deu foi no dia de sua morte, e depois, com medo de que seu cheiro se dispersasse do meu corpo, não permiti que nenhuma outra pessoa me abraçasse. Ninguém me tocou antes nem depois do velório que não fui, e, depois de um tempo, pararam de tentar. Eu achava que poderiam destruir a lembrança do toque dela na minha pele caso encostassem o mínimo que fosse em mim. Precisava desesperadamente da sensação dos braços quentes da minha mãe ao meu redor, me preparando para o sono que eu jamais dormi, mas no qual ela mergulhou de bom grado e do qual ela nunca mais acordou.

Alissa me observa com seus enormes olhos escuros e preocupados, mas quem está realmente preocupado aqui sou eu. Estou abrindo brechas demais para esta garota. E é verdade que ela até agora não me fez nenhum mal – na verdade eu estou até mais calmo depois que ela me abraçou –, mas sei que se as coisas continuarem dessa forma, não sou eu quem terminará magoado no final.

Quando eu falo, as palavras molham meus lábios de uma forma mais amarga do que minhas lágrimas que ainda não pararam de cair, mas agora descem de forma lenta e degradante.

– Vá embora – eu digo. E algo dentro de mim se chacoalha em desespero, implorando que não, não diga essas palavras, por favor. Então eu falo com mais firmeza:

– Vá embora, Alissa.

SubmersosOnde histórias criam vida. Descubra agora