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A L I S S A

Mas se quiser alguém pra te fazer sorrir, é só olhar pro lado que estou aqui.

(O Calculista –  Supercombo)


Na segunda-feira depois da aula voltamos a nos reunir na casa de Thomas. Desta vez, ficamos na sala, pois o pai de Thomas está em casa e ocupou toda a cozinha enquanto prepara o jantar. Thomas trouxe, como combinado, as fotos e lembranças de algumas pessoas da nossa classe. As fotografias estão espalhadas pelo tapete da sala e nós nos esparramamos ao redor enquanto observamos e selecionamos as melhores. Thomas pediu para que cada aluno providenciasse uma legenda para sua foto ou objeto, assim poderíamos classificar cada item com seu respectivo significado.

Decidimos que cada vez que nos juntarmos para organizar qualquer coisa ou apenas nos divertir é necessário um toque de música. Hoje estamos ouvindo The 1975, uma banda que Daniel recomendou e parece legal. Reconheço uma das músicas como uma que tocou durante uma aula de teatro, quando eu e ele tivemos que fazer o exercício cênico de espelho um com o outro, então imediatamente gosto da banda.

– A mãe vem jantar com a gente hoje? – Noah surge perguntando.

O inchaço em sua boca diminuiu consideravelmente, mas ainda está um pouco arroxeado ao redor. Meus irmãos ainda não vieram pedir desculpas, até onde sei.

Thomas coça a cabeça e faz uma careta cansada.

– Você sabe que não, No. Ela tem que ficar no hospital e chega tarde todos os dias.

– Mas ela prometeu que ia ver um filme comigo hoje! – Noah explode. – Aquela mentirosa.

– Noah! – O pai de Thomas surge da porta da cozinha.

Com um rugido enraivecido, o irmão de Thomas sobe correndo de volta para o quarto. Thomas vai atrás dele. O pai deles se desculpa para o resto de nós que ficou na sala, claramente envergonhado:

– Me desculpem, estamos passando por um momento difícil aqui em casa e a mãe dos garotos têm estado muito ausente por causa do trabalho. Noah é menos compreensivo que Thomas e anda tendo essas explosões de raiva.

– Está tudo bem. Nós entendemos – eu o tranquilizo, um pouco sem jeito.

Ele assente mais uma vez, parecendo cansado.

– Eu vou terminar o jantar. E me desculpem novamente.

Eu, Anna e Daniel esboçamos um sorriso compreensivo até ele dar as costas e voltar para a cozinha, depois ficamos nos encarando constrangidos até Thomas voltar com uma caixa.

– Ei, eu trouxe algumas coisinhas pra vocês – ele anuncia com animação, como se nada tivesse acontecido a poucos segundos atrás.

Thomas se senta em cima do tapete e abre a caixa, retirando de lá algumas fotos. Ele mostra para nós a fotografia de um labrador chocolate.

– Este é Frederico. Ele ainda é vivo, mas meu avô morreu. Então deixamos ele, o Frederico, na casa da minha avó, para ela não se sentir sozinha.

– Own, ele é uma gracinha – Anna ronrona. – Mas onde estão as fotos de quando você era criança, Tom? – Ela vasculha a caixa, procurando.

Anna retira de lá uma foto com várias inscrições no verso. Palavras, em sua maioria, ilegíveis, e desenhos de estrelas e raios. Na imagem, dois garotos estão de pé em cima de uma rocha, numa praia. Eles estão de bermuda e franzem a testa por causa do sol. O garoto mais alto tem os lábios curvados num meio sorriso tímido enquanto o mais baixo exibe um enorme sorriso banguela. O garoto banguela é loiro e tem cabelos na altura dos ombros, enquanto o outro tem o cabelo escuro e mais curto. Imediatamente reconheço os dois.

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