17 - Parte I

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A L I S S A

Eu quero ser capaz de correr e não ter a sensação de que vou tropeçar.

Kristen Stewart


Não sei bem o momento exato em que decido que o dia tem que ser diferente. Eu simplesmente acordo com o despertador, que é ajustado para tocar às 6h15, e estou pronta para me levantar com o bom humor matinal misturado a uma leve preguiça quando subitamente decido que não. Isso mesmo: não. É o primeiro pensamento que me ocorre quando abro os olhos. Este dia será diferente.

Calmamente, levanto-me da cama e, com o mínimo de pressa possível, começo a me aprontar para a escola. Tomo um banho nem muito longo nem muito demorado, como faria num dia comum, mas, quando termino, não me visto na mesma hora. Primeiro, penso se valerá a pena vestir o uniforme para depois ter que tirá-lo e então colocá-lo novamente. Acho que não. O que me leva a ter planejar algo rápido para conseguir driblar isso.

Não preciso me preocupar em andar de toalha pelo quarto. A suíte e meu guarda-roupas ficam fora do alcance da janela, o que me deixa num nível seguro para perambular livremente em uma pequena área do quarto. Mas não posso sair de toalha pela casa com quatro homens à solta – meu pai e meus três irmãos –, mesmo que nenhum deles seja um risco em potencial para mim, isso seria suficientemente constrangedor. Então estou limitada a pouco menos de três metros para caminhar enquanto penso.

Estou quase considerando o absurdo que é a minha ideia quando minha mãe abre a porta do quarto.

– Alissa – ela chama, em tom apreensivo. – São sete horas.

Ela passa uma mão no cabelo, arrumando-o para trás do rosto. Geralmente eu não demoro a me arrumar para a escola e minha mãe nunca precisa vir me apressar.

Respiro fundo e tento soar com a voz arrastada:

– Eu sei, é que..

Imediatamente a expressão da minha mãe muda para preocupação, e eu tenho que me conter para não dar pulinhos empolgados por meu plano estar começando a dar certo.

– Você está bem? – ela pergunta, agora me examinando de cima a baixo.

Tento soar cansada, preciso resistir um pouco se quiser parecer convincente.

– Sim. É só a minha garganta atacando de novo.

– Você não estava tomando antibiótico?

Quase faço uma careta que põe em risco todo o disfarce, mas consigo controlar.

– Estava, mas acho que não devia ter tomado sorvete com os meninos ontem.

– Poxa, Alissa. Você sabe que não se toma nada gelado enquanto estiver com a garganta inflamada. Isso é bem diferente de uma gripe.

– Eu sei. É que eu achei que tivesse ficado boa. Mas tá tudo bem, é só uma irritaçãozinha besta. Vou terminar de me arrumar.

Digo isso enquanto me inclino para abrir uma das minhas gavetas. Fecho os olhos por um momento, como se tivesse ficado tonta de repente.

Minha mãe corre para perto de mim. Ela toca minha testa e depois meu pescoço com a costa da mão.

– Você não parece estar com febre. Mas talvez eu deva pegar o termômetro para garantir mesmo assim.

– Tá tudo bem, mãe. Eu tô bem. É só uma dor de cabeça fraca.

– Eu vou pegar um remédio.

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