Parte 1 - Capítulo 12

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                Catarina senta na beira do cais. Tinha evitado aquele lugar nas duas últimas semanas, mas iria casar amanhã e não pretendia pisar ali nunca mais. E um dos principais motivos que a fez ir ali: Heitor continuava sumido. Bem, o boato era que ele estava enfurnado em sua casa, a outra casa, se preparando para o casamento. Ele tinha escolhido Amy. Amy! Aquela Amy que Catarina desprezava tanto. Nunca mais queria olhar para ele. Embora Amy não estivesse tão insuportável nos últimos dias, não sabia se tinha sido a pedido de Hortência, mas Amy nem sequer falava sobre o casamento.

Catarina tinha descoberto que não amava mais Heitor, isso mesmo, não amava mais. Eles nunca dariam certo, de qualquer forma. Foi bom ele ter descoberto isso cedo. Se soubesse que sexo era a melhor forma de se livrar de Heitor, ela teria dado isso a ele naquela noite do primeiro encontro.

Ela deita e olha para o céu de início de noite e, pela tonalidade quase roxa, Catarina sabe que vai chover. Isso deveria ser um sinal para ela ir embora, estava escurecendo e iria chover, mas ela nunca tinha se importado com essa besteira de andar sozinha, não iria começar agora.

Fechou os olhos e tentou repassar, em sua mente, todos os momentos que havia passado ali. Aquele lugar a fazia lembrar-se de muita gente: Sua mãe, seu pai, Heitor e, até mesmo Flavio. Apenas seu pai e Heitor haviam estado lá com ela, mas sua mãe e Flávio tiveram parcelas importantes em sua vida, nem sempre de uma forma positiva. Catarina sempre ia ao cais quando queria pensar em algo ou fugir do resto mundo ou pensar nas coisas que ela havia feito e, claro, boa parte dessas coisas envolviam, principalmente, essas quatro pessoas.

Não gostou de pensar nelas, principalmente, porque nenhuma havia permanecido em sua vida. Todos haviam partido, por motivos diferentes ou de maneiras diferentes, mas o fato era que nenhuma estava com ela naquele momento. Catarina sentia falta de todos, mesmo odiando admitir, até de Heitor.

Os primeiros pingos começaram a cair e ela suspirou, estava na hora de voltar para casa. Levantou-se e começou a caminhar, parou onde o cais terminava e olhou para o lago, uma última vez.

– Adeus. – Diz Catarina e volta a caminhar.

– Adeus? – Pergunta uma voz atrás dela. Nem precisou virar para saber a quem aquela voz pertencia. Respirou fundo e continuou caminhando. – Catarina? – Ele chama e, quando não obtém resposta, a alcança e segura seu braço.

– Me solta! – Ela diz sem olhar para ele.

Não sabia ao certo o que faria quando visse seu rosto, mas as opções não eram nada boas. Ele segurou os braços dela, e Catarina fechou os olhos para não encará-lo. Não podia vê-lo! Não conseguiria aguentar meio segundo sem desabar, e ela não daria esse gostinho a ele.

– Se você acha que eu vou te deixar voltar pra casa de noite, sozinha e na chuva; você não me conhece. – Ele diz com uma voz brincalhona.

– É, acho que realmente não conheço você. – Ela diz, e então abre os olhos, finalmente olhando para ele.

– O quê? – O rosto de Heitor está confuso, e os pingos da chuva começam a encharcar seus cabelos.

Naquele momento, toda dor, toda raiva da qual Catarina havia fugido e tentado esquecer nos últimos dias voltou com força total, e ela teve que controlar o impulso de bater nele. Mas o impulso maior era de chorar, e ela não podia chorar.

– Como você pôde? – Catarina pergunta, engasgando.

– O quê? O que aconteceu? – Heitor pergunta, começando a ficar desesperado.

– Você nem faz ideia? – Ela pergunta, incrédula, e Heitor suspira. Ele solta os braços dela e passa uma das mãos no cabelo.

– Sim, eu faço. – Responde, parecendo triste.

3 - Sobre Meninas e EscolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora