3

865 74 7
                                    

Tomás narrando

Hoje Cintia e eu iríamos dar uma volta à tarde. E depois iríamos a uma boate.

Eu já estava cansado demais daquela garota tão fútil. Minha vontade era de colocá-la abaixo dos cachorros e ir embora. Mas algo sempre me fazia repensar sobre essa ideia. Carla.

Toquei a campainha e a pessoa que eu mais queria ver apareceu sorrindo na porta.

— Oi Tomás!

— Como sabe que sou eu?

— Usei meus poderes. - riu

— Claro, os poderes...

— Entra! A Cintia deve estar terminando de se arrumar. - entrei e esperei a mesma a fechar a porta. Só que estava distraído e acabamos dando um encontrão. A sorte foi que eu a segurei antes de cair. Carla colocou sua mãos finas sobre meus ombros e prendeu a respiração.

— Você é bem grande. - ela riu. — Pode me soltar, eu estou legal. - nem percebi mas segurava a cintura dela. A soltei e ela se afastou. — Você quer alguma coisa?

— Não, eu estou bem assim.

— Pode sentar. - sentei no sofá e ela na mesa pois estava "lendo" um livro.

— Você estuda?

— Sim, eu estudo em uma classe especial para deficientes visuais. Não é bem um colégio, é mais um curso pra ajudar a desenvolver habilidades.

— Foi muito difícil aprender...tudo de novo?

— Um pouco, imagina você em um momento sabendo tudo e do nada tem que aprender tudo isso de novo, e de uma forma totalmente diferente.

— Deve ser uma barra.

— Mas eu sei ler em braille agora, eu sempre quis saber como funcionava.

— E como é?

— Vem aqui. - levantei-me e me aproximei da mesa, apoiando-me bem perto dela.

De fato eu não conseguia ver nada, a não ser pontos em páginas brancas.

— "Em vão tenho lutado sem sucesso. Deve permitir que eu te diga o quão ardentemente te admiro e te amo." - ela leu a frase rapidamente, passando os dedos sobre os pontilhados e virou o rosto para a direção que eu estava.

Não estávamos muito longe um do outro. Sentia sua respiração batendo em meu rosto e sabia que ela sentiu a minha pois fechou o olho.
Ela era tão bonita.

— O que é isso?! - Cintia chegou de surpresa e me afastei de Carla.

— Oi Cintia, você tá linda. - tentei disfarçar.

— E você também está lindo! - ela olhou pra Carla, séria. — Se você tiver fome sabe onde está tudo. Não saia até nossos pais voltarem. Não abra a porta pra ninguém. Se alguém me ligar não esqueça de me avisar, da ultima vez quase custou meu emprego!

— Mas aquele dia foi um acidente. - Carla tentou explicar para Cintia o que houve, mas foi em vão.

— Acidente? Você quer acabar com a minha vida! Mas quer saber Carla? Eu não vou deixar! Eu não tenho que aturar você!

— Eu não vou deixar você tratar sua irmã desse jeito! - grito alto.

— Mas Tomás, você não sabe quem a Carla é! Ela sempre quer tirar tudo de mim!

— PARA! Vamos antes que eu desista! - levantei minha voz e Cintia saiu batendo a porta. — Carla, você vai ficar bem?

— Eu vou, obrigado...sabe, por me defender.

— Não há de que linda.

O amor é cegoOnde histórias criam vida. Descubra agora