Carla narrando
Tive que me sentar pra digerir essa situação. Ele fez mesmo isso? Ele me defendeu? Ninguém nunca fez isso por mim.
Confesso que quando demos aquela trombada na entrada, eu pensei que havia perdido o ar. Ele é muito forte, eu senti quando toquei nos seus ombros.
E quando ele foi ler junto comigo, eu não podia ter ficado mais assustada e maravilhada. Minha mãe costuma dizer que eu não devo ficar perto de homens pois ele se aproveitarão de mim, que sempre devo estar acompanhada de alguém, então eu senti medo constantemente de chegar perto. Mas com o Tomás é diferente. Ele me trazia segurança, ele parecia se importar comigo. Acho que seremos grandes amigos se caso ele namorasse Cintia, mas particularmente, não gostaria que isso acontecesse. Ele era bom demais pra alguem como ela.— Carla?
— Aqui!
— Olá querida, está lendo?
— Sim, o pai não veio com você? - ele sempre falava oi em seguida de mamãe.
— Ah, ele teve uma reunião, só vai chegar mais tarde.
— Ah sim, mãe?
— Sim?
— Como é estar...gostando de alguém?
— Como assim? O que quer dizer?
— É...nada. É que estou lendo orgulho e preconceito. - não poderia dizer que tinha a ver com os meus sentimentos e emoções toda vez que estava na presença do Tomás.
— Acho melhor parar de pensar nisso filha. Esse mundo não é dos sonhadores. - porque ela sempre fazia isso? Ela diz que isso é um jeito de me proteger, me colocando na realidade.
Ninguém nessa casa me entendia, me ajudava, me incentivava. Eu sabia que não via mais as coisas como costumava ver, mas ainda tinha sentimentos.
— Sammy, como vou saber se gosto verdadeiramente de uma pessoa? - ele tinha um jeito engraçado de se comunicar comigo, então ele deitou a cabeça no meu colo. — Sim, sei de quem está falando, vou lá amanhã perguntar.
Antes de ir para o meu curso, resolvi passar na casa de uma amiga, Elizabete. Ela era uma senhora de 65 anos que morava no fim da rua. Ela era como minha segunda mãe e sempre me dava ótimos conselhos do que eu deveria fazer.— Ah, olá Carla! - ela disse me abraçando assim que abriu a porta.
– Como você está Bete? - ajudou-me a entrar cuidadosamente em sua casa.
— Eu estou ótima e você meu bem?
— Estou...confusa.
— E o que aconteceu pra você ficar desse jeitinho? - ela me guiou até o sofá, onde me sentei e respirei fundo, tentando pensar em como iria iniciar essa conversa.
— Bete, estão acontecendo umas coisas que não estão acostumadas a acontecer comigo.
— Pode falar minha linda. - comecei a contar tudo o que estava acontecendo, sem deixar escapar nenhum detalhe. Ela concorda com tudo, mostrando que estava me ouvindo atentamente. — Vamos por parte então. Esse Tomás você já o conhecia? Já havia falado com ele?
— Devo te-lo encontrado umas três vezes.
— O que sente exatamente quando está com ele?
— Não sei explicar. Ele faz com que eu me sinta bem, protegida e feliz. Ele conversa comigo a maior parte do tempo em que nos encontramos e eu gosto disso. - suspirei.
— Pelo tom da sua voz acho que você gosta desse rapaz.
— Gosto? - eu nunca havia gostado de alguém. Pelo menos não dessa forma e isso me deixou confusa. As coisas se embolavam na minha cabeça muito rápido.
— Sim! O primeiro sintoma de gostar de alguém é se sentir feliz toda vez que está na presença do mesmo.
— Então...estou gostando dele?
— Acredito que sim. - fiquei pensativa mas não daria tempo de refletir sobre tal assunto naquele momento.
— Obrigada Bete! - me levantei para lhe dar um abraço. — Agora preciso ir, mais tarde eu volto.
— Vou esperar por você meu bem.
O meu curso não ficava longe e eu conseguia ir sozinha, e voltar. Caminhava algumas quadras e logo já estava lá. As aulas eram bem diferentes e estávamos sempre desenvolvendo nossos sentidos para que eles ficassem cada vez melhores e tudo se tornasse mais fácil. Eu não tinha amigos, eu tinha colegas com quem trocava ideias pra não enlouquecer. Eles estavam sempre conversando sobre cura para doenças e coisas do tipo. Eu não gostava de falar disso. Eu queria viver.
Tomás. Ele sabia conversar. E olha mais uma vez associando um pensamento a ele.
Eu sempre saia do curso as duas da tarde. Era um horário tranquilo para voltar e o sol era sempre bom em um dia desses de verão.— Carla? - em uma situação dessas eu ficaria com um pouco de medo mas sabia quem era o dono dessa voz. — Carla, oi.
— Oi Tomás, o que faz aqui? - fiquei surpresa em encontrá-lo naquela área.
— Eu costumo caminhar nessa rua. - sua voz estava cansada e mais rouca que o normal. — E você?
— Meu curso fica naquela direção e a minha casa fica pra lá. - ri apontando para os lados, meio desengonçada, o fazendo rir também.
— Quer que eu acompanhe você?
— Claro!
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O amor é cego
Teen FictionAos 14 anos Carla perdeu a visão. E após isso sua família se distanciou e a vida perdeu sentido pra ela. Até encontrar Tomás, um baterista de uma banda muito popular, o problema é que o encontro só foi possível por conta de sua irmã, uma garota rud...