Carla narrando
Escutei alguém bater na porta do meu quarto, gentilmente.
— Carla? Você está ai? - era Vivian. Eu havia dormido no chão, a noite toda. Ouvi a porta abrir devagar. Queria poder pedir ajuda e levantar-me. Mas não podia, pois sentia meu corpo dolorido. – AH MEU DEUS! CARLA! - ela disse desesperada, e tocou a minha cabeça. – Vem meu anjo. Vamos levantar. - eu estava mole. É como se eu tivesse tomado anestesia.
Vivian me levou ao banheiro, e me ajudou a tirar a roupa. Colocou-me no chuveiro.
— Consegue fazer isso? - assenti. Quando a água caiu sobre o meu corpo, senti minha cabeça, meu pescoço e meus braços arderem. Não chorei. Não tinha mais força para chorar. Quando terminei o banho, Vivian me ajudou a sair, a me secar e a me vestir. – Sente-se aqui. - ela me colocou sentada na cadeira, e começou a passar remédio nos meus braços, no meu pescoço e na minha cabeça. Assustei-me quando ela tocou nos meus cabelos molhados. — Está tudo bem querida. - calmamente, ela o penteou. – Venha. Vou fazer um café bem gostoso para você. - ela me levou até a cozinha, e me sentei a mesa. O silencio de ter só nós duas era maravilhoso.
— Posso ir morar com você Vivian? - perguntei, sabendo que era impossível.
— Ah querida. Eu gostaria de verdade, mas seus pais não nos deixariam em paz.
— Eles não ligam pra mim. - disse abaixando a cabeça.
— Querida, olha... - o telefone tocou. –Espere um momento. - ela foi atendê-lo. Ficou um tempo falando, e voltou. –Que tal faltar o curso hoje?
— Isso seria ótimo. - falei me sentindo melhor.
— Termine seu café, e vamos dar uma volta, sim?
— Eu não quero sair hoje.
— Ah vamos! Aproveita que sua irmã e seus pais só chegam no fim da tarde.
— Está bem!
Terminei meu café, e Vivian fechou a casa.
— Vamos ficar fora muito tempo.
— Eu acho que sim.
Sammy, Vivian e eu, saímos e começamos a andar pelo bairro. Estava tudo calmo, e a brisa da manhã era deliciosa. Conhecia aquele caminho muito bem.
— Estamos indo a casa da Bete? - perguntei curiosa.
— Sim.
— Por que?
— Você precisa de uma coisa.
Fiquei curiosa para saber o que era. Quando chegamos, Bete nos recebeu feliz, como sempre.
— Meu Deus! O que é isso? - ela disse segurando meus braços, depois meu pescoço delicadamente.
— Foi a Cintia. - respondi um pouco dolorida, e com vergonha. Me sentia mais feia que o normal.
— O QUE? - escutei outra voz atrás de mim. Era o Tomás. Comecei a recuar. Não queria falar com ele. — Carla, vem aqui. - ele disse calmamente, mas comecei a chorar. — Carla, o que houve?
— Vai embora. Eu não quero falar com você. - disse chorando.
— Carla, por favor. Deixe-o explicar o que está acontecendo. — Bete disse tentando me acalmar.
— Não. Eu não quero falar com ele nunca mais. - disse colocando as mãos no rosto. Eu fiquei magoada demais com tudo o que aconteceu no dia anterior.
— Carla, me escuta. - ele disse colocando as mãos nas minhas e abaixando-as. – Eu vim aqui conversar. Eu tenho que te contar o que está acontecendo.
— Que você gosta da Cintia? Tomás, a minha vida já é um inferno, e não preciso de uma das únicas pessoas em quem eu confiava, me deixando de lado. Eu já sofro demais.
— A Cintia disse que se eu chegasse perto de você, que ela iria te matar. - parei e fiquei com a cabeça baixa. Então, ela o ameaçou. – Ela disse que ia matar alguém da minha família também, se eu não fizer o que ela manda. Não posso arriscar perder você e a minha família.
— Então! Fica longe de mim Tomás! Por favor! - eu não queria que ele se machucasse, muito menos alguém de sua família.
— Eu já disse que não vou deixa-la. - ele segurou meu rosto com as duas mãos. Fiquei paralisada. As mãos dele eram quentes e me davam uma sensação engraçada.
O abracei bem forte, e por mais que meus braços estivessem um pouco doloridos, eu não queria solta-lo. Em seguida, ele começou a examinar meu rosto, meu pescoço, meus braços.
— Tá doendo, linda? - ele me perguntou com aquela voz rouca.
— Um pouco.
— Vem. - ele disse me abraçando de lado. Me levou para o jardim da parte de trás da casa da Bete. Ele sentou-se em um banco que ficava na varanda. Me sentei ao lado dele e me encolhi no meu canto, mas ele me puxou para perto. Logo, eu estava encostada em seu peito, e ele gentilmente me abraça e acaricia meu braço.
— Eu me sinto bem quando estou com você. - disse abaixando um pouco a cabeça.
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O amor é cego
Fiksi RemajaAos 14 anos Carla perdeu a visão. E após isso sua família se distanciou e a vida perdeu sentido pra ela. Até encontrar Tomás, um baterista de uma banda muito popular, o problema é que o encontro só foi possível por conta de sua irmã, uma garota rud...