Tomás narrando
— Esses passeios em família não deixam vocês felizes? - minha mãe perguntava enquanto caminhávamos pelas ruas que não estavam tão movimentadas.
— Sim, é tão bom termos um tempo para descansar. - Edgar disse sorrindo.
— Tomás, está quieto. Aconteceu alguma coisa? - minha mãe perguntou preocupada.
— Não é nada, só estou pensativo durante essas semanas. - na verdade, Cintia era o meu maior problema.
Começamos a andar por diversos lugares juntos. Eu me fingia estar concentrado, mas algo sempre me trazia para a minha realidade, que não estava no seu melhor momento.
Encontramos uma livraria ao longo do caminho, e resolvemos entrar e procurar alguns livros para comprar. Eu não estava muito concentrado para isso, mas um livro me chamou a atenção. Fui até a prateleira onde haviam alguns livros de conteúdo relacionado a saúde. Provavelmente alunos de medicina se interessariam por tais livros. Abri um que falava sobre oftalmologia e suas doenças. Pensei na Carla nesse momento. E se existisse uma cura para o problema dela? Comecei a folhear o livro. Ele não continha a solução dos meus problemas, mas me faria aprender um pouco mais sobre os problemas dela.
— PORRA! - me virei e dei de cara com a minha mãe e o Edgar na minha frente, olhando-me espantados.
— Livro sobre oftalmologia? - minha mãe perguntou.
— TOMÁS ESTÁ POSSUIDO! DEVOLVAM MEU IRMÃO, ALIENIGENAS! - Edgar começou a fazer cena.
— Que é gente? Não posso ler nada sobre problemas na visão? - perguntei indignado.
— Pode sim, filho. Mas não esperava que você gostasse. - minha mãe disse com um tom divertido.
— É que me bateu curiosidade... - comecei a explicar, mas fui interrompido pelo barulho do meu celular. Cintia. – Que? - já disse quando atendi.
— Nossa, que mau humor. Já se esqueceu do seu compromisso no final de semana?
— Como me esquecer? - perguntei impaciente para desligar.
— Que bom. Estou ansiosa para conhecer minha futura sogra e meu cunhado. Tchauzinho. - desliguei o telefone com raiva, e minha mãe percebeu.
Em seguida fomos tomar um café juntos.
— Vou ao banheiro. - Edgar disse se levantando em seguida. Minha mãe o acompanhou com os olhos até ele entrar no banheiro.
— Tá legal, o que está acontecendo? - ela me perguntou curiosa.
— Nada! - tentei responder tranquilo.
— Tem certeza? Parece preocupado.
— Mãe... - eu não acredito que vou fazer isso. – Eu vou levar uma garota lá em casa no sábado para você conhecer. - falei com um peso nas costas.
— Então era isso? - seus olhos brilhavam.
— É... - sorri sem graça.
— Eu estou tão feliz meu filho! É ela?
— Ela quem?
— A futura mãe dos meus netos? - com certeza não era, mas não podia dizer o contrario.
— É... talvez. - mais uma vez respondi do mesmo jeito, sem graça.
— Ela é médica não é? - minha mãe perguntou rindo.
- Médica? Não. Ela trabalha com moda! - disse meio ríspido.
— Ah sim! - minha mãe respondeu desconfiada, mas logo mudou o tom de voz. — Você gosta dela?
— Eu não sei dizer. - é lógico que não gostava.
— Estou louca para conhece-la! - minha mãe tocou minha mão de modo sereno, e Edgar chegou.
— O que perdi? - ele falou.
— Seu irmão vai levar minha futura nora para nos conhecer. Não é fantástico? - minha mãe olhou para Edgar feliz.
— Quem é a louca que aceitou isso? - ele me olhou espantado.
— Edgar, fica quieto tá? - eu já não estava bem, e ele só estava piorando tudo.
Eu não queria que isso estivesse acontecendo, mas não tinha jeito. Se eu não fizer isso, Cintia transforma minha vida em um inferno.
Carla. Ela sim daria uma ótima nora pra minha mãe. Por que não podia ser ela no lugar da Cintia? Por que tudo é tão difícil? Mas eu tenho que pensar que fazendo isso, não estou só me ajudando, mas também a própria Carla.
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O amor é cego
Teen FictionAos 14 anos Carla perdeu a visão. E após isso sua família se distanciou e a vida perdeu sentido pra ela. Até encontrar Tomás, um baterista de uma banda muito popular, o problema é que o encontro só foi possível por conta de sua irmã, uma garota rud...