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Cheguei em casa, e tive a surpresa de saber que teria um ensaio naquele momento. O bom, é que eu estava bem disposto e pronto para tocar.

— Tomás, não que você não tenha precisão quando toca mas hoje você parece mais fodão na bateria do que nunca! - Edgar disse, olhando para mim.

— Que bom que está satisfeito com meu trabalho! - respondi, mas sentia que ainda estava com um sorriso idiota na cara.

— Eu acho que sei o que ele tem. - Dilan disse rindo. — Ele está apaixonado.

— Não Dilan. - Edgar disse. — Tomás nunca se apaixona. Ele só usa e joga fora. Usa e joga fora. E tem mais... Que mulher teria pulso suficiente para fazer meu irmão se encantar?

— Edgar, não é porque Tomás não se apaixonou até agora, que isso não poderia acontecer nunca. Os direitos são os mesmos para todos. - Dilan respondia feliz. Acho que ele estava bem, por saber que eu poderia me arrumar na vida.

— Vamos voltar para o ensaio? Porque hoje eu estou com todo o gás para fazer isso.

Continuamos o ensaio bem, até que recebi uma mensagem.

"Oi gatinho! Te espero as 22:00 naquele lugar!"

Cintia só podia estar de brincadeira. Eu tinha muita coisa para fazer, e além do mais não queria vê-la.

"Não posso, tenho ensaio. Outro dia a gente se vê." respondi.

"Sério? Sabe, uma certa menina cega está no quartinho dela. Na caminha dela. Dormindo tranquilamente. Sabe o que estou com vontade de fazer? Ir até lá e cortar o cabelinho sem vida dela! O que você acha?"

Quando recebi essa mensagem, meu semblante mudou. Eu entrei em pânico, e fiquei com vontade de matar essa vadia.

— Tomás? - Edgar falava. — Foi só elogiar para cagar a coisa toda hein?
Puta merda!

— Tomás, tá tudo bem? - perguntou.

— Tá. - respirei fundo.

"Eu vou! Mas não encosta um dedo nela!"

"Sábia resposta!"

— Eu tenho que ir para casa! - respondi sério.

— Tomás, o ensaio nem acabou. - nem dei tempo pra Edgar falar e saí de lá.

Fui direto para casa tomar um banho, pra ver se eu ficava mais calmo. Mas não fiquei. Comecei a me arrumar para encontrar a Cintia, e a cada momento me vinha o rosto da Carla na cabeça. Aquele sorriso lindo. Aquela risada. Aquele jeitinho fofo de ser, não forçado.

O lugar onde eu me encontrava com Cintia, era em um apartamento no centro que ela estava pensando em comprar. Isso seria bom, pois ela deixaria a Carla em paz.

— Oi gato. - ela veio me beijar, mas não me movi. — Está tão sério.

— Sua presença faz com que eu me sinta assim!

— Eu faço você se soltar rapidinho. - ela colocou a mão sobre o meu membro, mas tirei antes que ela fizesse algo.

— Não quero! - eu disse entrando.

— Eu também não. - me surpreendi com a resposta e olhei para trás. — Hoje vamos conversar.

— Sobre o que?

— Planos futuros para nós dois.

— Eu não tenho planos futuros com você!

— É claro que tem, ou esqueceu que a vida da ceguinha está em jogo?

— Por que você faz isso? Olha...eu não entendo porque não gosta dela.

— Você não sabe o que é ser a segunda em tudo, não sabe o que é ter de lidar com a situação da sua irmã mais nova ser a primeira sempre!

— É porque ela é uma pessoa boa, diferente de você que é o pior ser humano que já conheci.

— Tomás, você vai me pedir em namoro!

— Eu não vou!

— Você vai, depois em casamento, e depois seremos marido e mulher e viveremos felizes para sempre.

— Você é doida! Eu não vou fazer nada disso!

— Não? Você quer acordar pela manhã com a notícia de que Carla infelizmente faleceu? - arregalei os olhos. Agora foi demais.

— O QUE? VOCÊ É DOIDA! CHEGA! VOU CHAMAR A POLICIA!

— Chama! Eu mando matar a cega, e todos os que estão a sua volta!

— Cintia porque você faz isso? Porque comigo? O que eu fiz a você? O que a Carla fez a você?

— Eu quero você, porque ninguém é como você! A Carla é uma pedra no caminho há anos. - ela saiu em direção a porta. — Ah, vai me levar para conhecer minha sogra, esse final de semana.

— Eu não vou deixar você chegar perto da minha família!

— Não? É bom você ser bonzinho Tomás, eu posso acabar com tudo que você ama em um piscar de olhos.

— Não iria se arriscar a ser presa.

— Eu não, mas outras pessoas sim. - fiquei a olhando assustado. — E pode ter certeza que eu já as tenho, para fazer o serviço.

— Se é dinheiro o que você quer, eu dou o quanto você quiser.

— Isso eu também tenho, eu quero você. – ela saiu, me deixando sem chão. O que eu vou fazer agora?

~ O que estão achando?

~ Acham que Tomás deve tomar uma atitude ou fazer as vontades de Cintia pra que Carla não corra risco de vida?

O amor é cegoOnde histórias criam vida. Descubra agora