Dizem que no final o amor vence...
Um velho ditado que vagou durante três dias pela cabeça de Damien e que não o abandonaria tão cedo, ainda que diante aquele Henry muito quieto, quase apático, que respondia apenas ao básico, se encolhia facilmente e que dormia o máximo de tempo possível. Era preocupante, Damien não podia negar, no entanto respeitava seus silêncios, mesmo que tentasse o trazer de volta a si.
Não o vira escrever durante os dias, não o vira fazer nada, as vezes pegava o celular e ficava observando a tela, talvez, pensava Damien, esperando alguma ligação, esperando um sinal de casa, algo que dissesse que poderia confiar novamente nos Lockwood, mas nada vinha, Jennifer e John simplesmente tomavam a atitude mais infantil possível: fingiam que o filho não existia.
Era cruel, pensava Damien, Henry era o tipo de pessoa que se envolvia muito com as palavras, as remoía em seu ser até que se tornassem um problema, para ele, qualquer coisa dita na raiva, qualquer coisa, era destruidor e a ruina particular de Henry terminava por deixar os dias mais lentos, mais melancólicos e durante a noite, quando se encontravam no quarto de Damien e o silêncio os dominava, o mais velho só conseguia pensar que tinha de dar um basta naquilo, achar um jeito de resolver os problemas, enfim, encontrar uma saída útil para tudo aquilo.
Por isso, naquela terça-feira, enquanto vagava por entre as mesas do Green Coffee, servindo os clientes, Damien dissera a si mesmo que daria um jeito de conversar com Henry, daria um jeito de trazer o assunto à tona e deixar que ele desabafasse e dissesse tudo o que precisava. Quando externou aquela ideia para Mandy, ela concordou, disse que precisavam disso, comentou que se as palavras eram tão importantes para Henry, seria bom que ele falasse sobre tudo o que o incomodava.
Ele mal podia esperar para voltar para casa, apesar de estarem sendo dias difíceis. Explicar a situação para Lucy já fora complicado. A garotinha não conseguia entender com muita profundidade tudo o que estava acontecendo, não conseguia assimilar os momentos de silêncio de Henry e acreditando estar ajudando, sempre tentava puxar algum assunto no café da manhã, isso até perceber que nenhum dos adultos ali parecia muito disposto a responder alguma coisa, então se calava e baixava os olhos verdes, como se tivesse cometido um erro.
— Acho que você não vai precisar esperar até a noite — Mandy disse passando por Damien e direcionando para a porta.
Ele acompanhou o olhar e viu Henry, entrando pela porta, com os olhos baixos e os ombros caídos. Ele deveria estar no trabalho, ele tinha ido até o trabalho, o que será que acontecera? Por que ele estava ali?
Peggy foi em direção a mesa que o rapaz desfigurado pela tristeza escolhera para se sentar, provavelmente para atende-lo, mas Damien apurou o passo e tocou o ombro da colega de trabalho, sinalizando para que deixasse aquele assunto com ele, afinal, o movimento já começava a enfraquecer e poderia tirar, nem que fossem alguns minutos, para conversar com Henry, se assim se fizesse necessário.
— Você sentou neste mesmo lugar a primeira vez que veio aqui — Damien disse, ao estar próximo o suficiente para ser ouvido.
Henry forçou um sorriso e desviou os olhos para Damien, focando na imagem conhecida que o encantara e o inspirara há meses atrás:
Quem diria que chegariam até aquele ponto.
— E você lembrar disso o torna um grande esquisito — tentou brincar, mesmo que sua voz não estivesse carregando um tom de voz suficientemente bem humorado.
— Vai querer um expresso? — Damien perguntou.
— É, um expresso duplo!
Damien concordou e fez menção a se retirar e ir até a cozinha, quando Henry segurou seu pulso, pedindo para que ele ficasse um pouco mais.
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Coração de Porcelana.
RomanceQuando a família do aspirante a escritor, Henry Lockwood sai de uma das maiores cidades do mundo e vai morar na provinciana Greenville, o rapaz se vê obrigado a adaptar-se ao ambiente pacato demais para alguém acostumado a correria e o caos. Ele ima...