Henry sentiu um peso indescritível no peito ao ver sua casa no fim da rua. Sentiu-se invadido pela vontade desesperada de se encolher nos braços de Damien e transformar o aperto que tinha na garganta em pranto, pois ao que parecia, toda atmosfera deixada pelo confronto do fim de semana ainda pairava por todo o lugar e o medo estava presente em cada um dos passos que davam em direção a casa dos Lockwood.
Apertou a mão de Damien com força e hesitou um pouco, no momento em que pararam na calçada, diante a fachada de tijolos conhecida, daquele lugar que de longe, parecia um pequeno paraíso para se viver.
— Minha mãe está me casa... Eu não sei se é uma boa ideia — Henry disse hesitante, querendo fugir dos problemas, por mais que sentisse falta de suas coisas, por mais que parte de sua vida estivesse ali dentro.
— É sua casa também — Damien disse do jeito mais tranquilo que conseguia — E isso vai ser difícil, mas nossa noite vai ser divertida, vamos liberar um espaço para suas coisas e organizar tudo, pelo menos por enquanto.
Henry concordou com a cabeça, precisava deixar de lado os temores, precisava se impor de alguma forma, estava cansado, desgastado, e precisava recuperar um pouco as esperanças... Queria acreditar que um dia tudo mudaria, que tudo voltaria ao normal, que construiria algo novo sobre os destroços deixados pelas palavras brutais que ouvira dos pais.
Por mais que momentaneamente, fosse difícil de acreditar em algo assim.
Respirou fundo e finalmente, decidiu que era hora de passar pelo portão e tocar a campainha. Damien ficou no lado de fora dos limites da propriedade, sem saber como agir, sem saber até que ponto sua presença ali não seria prejudicial, porém, no momento em que o olhar de Henry caiu sobre ele, Damien não pode deixa-lo e simplesmente percorreu a distância que o separava da varanda.
Ele parou ao lado do garoto de ares perdidos no exato momento em que Jennifer abrira a porta e encarara a cena diante de seus olhos com uma expressão indecifrável.
— Henry... — ela disse receosa.
Os olhos da mulher focaram-se brevemente em Damien e um suspiro saiu dos pulmões da senhora com ares tristes. Era impossível saber o que se passava em sua mente se baseando na expressão morta e em seu estado abalado. Henry sentia-se mal por vê-la daquele jeito, afinal, apesar de tudo, ainda era sua mãe e por mais caótico que tudo estivesse, por mais que ela estivesse contribuindo com a ruína do filho, o rapaz simplesmente não conseguia deixar de ama-la e de se preocupar com ela.
— Mãe... Eu não quero brigar, eu... Só quero pegar as minhas coisas — respondeu baixo.
— Quer dizer que você... Decidiu nos deixar de vez? — ela perguntou chorosa, mesmo que nenhuma lágrima caísse de seus olhos castanhos.
— Não, eu nunca quis ir embora, mãe, mas eu não posso ficar.
Ficaram em silêncio, todos os três e enquanto Jennifer via toda a sua família desabar diante de si e Henry recebia toda a pressão do momento em seus ombros, Damien sentia-se quase como um intruso ali, uma parte sem importância naquela cena que se recusava a abandonar, pois não deixaria Henry sozinho diante a todo o caos estabelecido nos últimos dias.
— Vocês estão morando juntos? — ela perguntou receosa.
Damien concordou com a cabeça, Henry proferiu um sim e esclareceu que a situação não era definitiva. Jennifer suspirou mais uma vez e deu passagem para que os dois entrassem na casa, afinal, nunca negaria isso a Henry.
Ambos os rapazes hesitaram ao adentrar o local, as últimas lembranças que tinham ali, não eram as melhores, além do mais, mesmo que Jennifer se mostrasse um pouco mais calma naquele dia, seu olhar reprovador ainda caía sobre eles e as palavras da mãe, permanentemente vagavam na memória de Henry.
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Coração de Porcelana.
RomansaQuando a família do aspirante a escritor, Henry Lockwood sai de uma das maiores cidades do mundo e vai morar na provinciana Greenville, o rapaz se vê obrigado a adaptar-se ao ambiente pacato demais para alguém acostumado a correria e o caos. Ele ima...