Damien viu o ônibus da escola despontar no fim da rua e sorriu para Lucy como se dissesse que estava tudo bem.
As outras crianças costumavam ir sozinhas até o ponto de ônibus e, naquela manhã, os irmãos discutiram por conta do tema, afinal, a mais nova dos Collins queria sua independência, enquanto o mais velho ainda tinha problemas para deixa-la ir sem sua companhia.
O rapaz estava cansado. Damien, mais de uma vez, tentou estabelecer a paz, mesmo que não cedesse em sua posição: Lucy era sua irmã mais nova. Ele tinha uma dificuldade em notar que ela crescia e que estava na hora de começar a deixa-la fazer algumas coisas sozinha. Era incapaz de perceber como aquele tipo de coisa poderia criar uma dependência que a prejudicaria no futuro.
- Você é um idiota! - Lucy disse birrenta.
A mocinha segurava o choro, pois acreditava que isso faria com que parecesse mais adulta. Seu rosto ganhou um tom rubro quase cômico. Damien tentou não rir, apenas acenou ao vê-la entrando no ônibus. Ignorou a ofensa, ele realmente não gostava de discutir, mesmo quando isso era necessário.
Esperou a condução partir e, completamente sonolento, seguiu em direção ao Green Coffee.
Damien teve uma noite de insônia, daquelas onde o nervosismo e os pensamentos melancólicos o cercavam. Dormiu no máximo duas horas e isso se refletia em sua aparência: os olhos pareciam não aceitar a luz do sol e as olheiras se formavam mais escuras em baixo dos olhos verdes.
O dia sequer havia começado direito e tudo o que ele queria, era dormir: chegar em casa e descansar! Simplesmente se livrar do peso sobre seus ombros que parecia o puxar para baixo.
E o pior foi que sua situação não passou despercebida.
Quando Damien chegou ao Green Coffee, Roger sorriu com ares debochados:
- Alguém se divertiu ontem a noite.
Se houve algo que o garoto Collins aprendeu durante aqueles dois anos, foi ter paciência com as pessoas. Ainda assim, ele não conseguia gostar de Roger, não só por conta dos atrasos recorrentes, mas por aquele jeito irônico que faria o Damien de dezessete anos revidar e causar problemas.
O rapaz suspirou, disse para si mesmo que o melhor que podia fazer era ignorar. Não estava trabalhando para conseguir algum dinheiro extra, precisava pagar as contas, precisava evitar gastar a herança que seus pais deixaram. Isso queria dizer aguentar algumas daquelas situações.
- Você está bem? - agora era a hora de ouvir Mandy preocupada.
- Sim, eu estou, só fui dormir tarde - melhor do que dizer que passou a noite em seu quarto, sem conseguir respirar direito, se movendo de um lado para o outro a procura de uma posição confortável na cama.
- Alguma coisa que eu precise saber? - ela perguntou esperançosa de que enfim, Damien estivesse saindo para aproveitar seus anos de juventude.
- Ahm, não, foi só insônia mesmo - ele respondeu, cortando completamente as esperanças de Mandy.
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Coração de Porcelana.
RomanceQuando a família do aspirante a escritor, Henry Lockwood sai de uma das maiores cidades do mundo e vai morar na provinciana Greenville, o rapaz se vê obrigado a adaptar-se ao ambiente pacato demais para alguém acostumado a correria e o caos. Ele ima...