XXXIII: Joan

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- Era a recepção, Joan está subindo - Henry informou Damien que secava o cabelo com a toalha de rosto.

Ao ouvir a notícia, o mais velho andou o mais rápido possível até sua mochila para buscar suas roupas, mesmo que logo tivesse de trocar aquela camiseta casual que começava a vestir, pelo terno que a amiga de Henry havia conseguido para ele.

- Eu acho que nunca vi você tão animado - Damien comentou em meio a uma risada leve. Também estava animado, iria conhecer uma das amigas de Henry e além disso, nunca havia ido a uma festa grande, não haviam boates em Greenville e as únicas festas que tinham por lá eram particulares, casamentos, festivais chatos e é claro as comemorações secretas nas casas dos adolescentes quando os pais iam viajar.

Estava curioso para mergulhar em um ambiente onde ninguém conhecia ninguém, onde a música era muito mais altas e as luzes tinham todos aqueles efeitos que se via nos filmes.

- Quando eu estava na escola, a professora mandou a gente escrever uma redação sobre o que queríamos ser no futuro, você sabe o que eu escrevi? - Henry disse enquanto se jogava na cama e observava Damien vestindo as calças jeans da forma mais desajeitada e rápida possível.

- Que queria ser um escritor?

- Errado, eu disse que queria ser Nick Carraway, essa festa é... Como se uma fantasia de adolescente se realizasse, sabe? Eu costumava deitar no meu quarto e fingir que eu tinha viajado no tempo e que eu estava entrando em uma festa de Gatsby, eu até escrevi sobre isso, posso mostrar para você um dia.

- Eu não sabia que você gostava tanto desse livro - Damien disse finalmente terminando de vestir as calças e voltando a tentar ajeitar, sem muito sucesso, os cabelos ressecados pela química.

- É meu livro favorito, tudo bem, talvez não seja mais meu livro favorito, mas costumava ser meu livro favorito - Henry suspirou tentando se conter, sabia que tendia a falar demais quando estava empolgado com alguma coisa e sabia como tal atitude podia soar pedante diante aos outros as vezes, por isso se calou.

Damien era diferente dele, era mais quieto, mais reservado e mais tímido também, o que não atrapalhava muito, já que Henry estava aprendendo a lidar com o temperamento do outro aos poucos. Porém essa compreensão não queria dizer que a insegurança de acabar passando dos limites não existisse no mais novo, ele queria compartilhar tudo o que passava por sua cabeça, dizer que estava feliz e que aquele era certamente um dos melhores momentos de sua vida, no entanto, vivia em um mundo onde as pessoas tendiam a guardar tudo para si mesmas, onde esconder era o adequado, por isso jurou que não demonstraria tanto sua empolgação, nem mesmo diante de Damien.

As batidas na porta o acordaram de seus pensamentos e de sua auto-repreensão, Henry moveu-se para atender ao chamado de Joan, mas não precisou completar tal gesto, já que Damien havia parado de tentar arrumar seus cabelos e abrira a porta antes.

- Você deve ser a Joan - Damien disse ao se deparar com a figura da moça.

A amiga de Henry era pequena e mesmo que Damien não fosse muito alto, ele parecia enorme perto dela. Joan era negra, seus cabelos cacheados e bem tratados iam até seus ombros, havia uma tiara circulando sua cabeça e dela saía uma pena cheia de brilhos... Um daqueles acessórios comuns nos anos vinte.

Ela já estava pronta para a festa, vestia um vestido retrô azul claro, combinando com aquela pena em seus cabelos e trazia em uma mão uma garrada de champanhe e na outra um daqueles sacos enormes usados para guardar roupas que são usadas quase nunca.

- Damien - ela respondeu abrindo um sorriso simpático - Finalmente eu estou conhecendo você!

Ela passou pelo namorado de seu melhor amigo e deixou as coisas que trazia na mão sobre a cama, para abraçar Henry com força, com toda a saudade que carregava diante aqueles meses onde só trocaram mensagens de texto e falaram-se por vídeo.

Joan ouvira muito sobre Damien durante aqueles dias, tanto ela quanto Margerie, que não estava ali graças as tradições familiares que ditavam que todos os feriados deveriam ser passados do mesmo jeito.

- Você pode vir visitar as pessoas as vezes, sabia? - ela disse o soltando devagar depois de algum tempo.

- Eu sei! - Henry aceitou a repreensão.

Joan sentou-se na cama, ao lado do amigo e dedicou sua atenção a Damien, um tanto deslocado ali, mas não por muito tempo, segundo as intenções da jovem de logo incluí-lo no meio das conversas que tratariam durante o tempo que passariam juntos.

- Eu trouxe o terno, Mike me emprestou, Mike é meu irmão - ela disse sorridente - eu espero que sirva, acho que ele é mais forte que você, mas de qualquer forma. Ahh, eu também trouxe champanhe, para bebermos antes da festa... Henry, podemos colocar um pouco de Jazz para tocar?

O mais novo concordou e se levantou indo até o computador, enquanto Damien observava o terno que Joan trouxera.

- Eu já posso vestir? - ele perguntou.

- Mas é claro - ela deu de ombros.

Damien então pegou as partes daquela vestimenta e rumou até o banheiro da suíte, enquanto Henry colocava Young and Beautiful para tocar. Não era Jazz, mas a música lembrava o tema da festa que iriam graças ao filme inspirado no livro de Fitzgerald.

- Ele parece mais legal que o Charles, pelo menos não é arrogante - Joan sussurrou para Henry, como sempre sincera e disposta a dar sua opinião.

Henry riu e pegou um copo de Whisky, localizado sobre o frigobar, não haviam taças na pequena bandeja e aquele receptáculo inapropriado teria de ser usado para que bebessem o champanhe.

Joan logo compreendeu a intenção do amigo, pois pegara a garrafa e começara a abri-la para que pudessem se servir.

- Roubou isso da adega de seu pai? - Henry perguntou, enquanto Joan fazia o maior esforço possível para abrir a garrafa sem causar uma bagunça descomunal.

- Eu tenho vinte e um agora, já posso comprar bebidas, aliás eu espero que você tenha pego a droga da sua identidade de mentira, não quero ser barrada na festa do século - ela disse finalmente abrindo a garrafa e colocando o espumante no copo.

- Eu trouxe tudo, eu não sou idiota - ele disse dando de ombros e bebericando o conteúdo do copo.

- Acho que não vamos a uma festa decente desde a escola... Você se lembra quando aquela garota francesa recém chegada convidou dez amigos para casa dela e no final da noite toda a escola estava lá?

- É eu lembro - Henry riu nostálgico e passou o copo para Joan.

Naquele momento, Damien saiu do banheiro, ainda tentando se ajeitar dentro daquele terno, que até servia, porém sem dúvida, tinha ombros muito largos para os dele. Em sua visão, ele estava ridículo, mas ao voltar os olhos para Henry, percebeu que ele parecia boquiaberto, paralisado.

- O que houve? Está tão ruim assim? - arqueou as sobrancelhas e rumou em direção ao espelho localizado ao lado da cama.

- Você está parecendo um gangster dos anos vinte! Só falta... Vender bebidas ilegalmente. - Henry riu e se levantou da cama, indo em direção a Damien e o abraçando por trás.

- Espera - Joan disse animada - Precisamos tirar uma foto, nós três...

- Gatsby, Carraway e Baker - Henry disse.

Joan se levantou e posicionou-se ao lado dos dois, então ergueu o celular diante deles e tirou uma fotografia.

- Eu posso postar? - ela perguntou, enquanto passava o celular para o casal ao seu lado, para que eles vissem a imagem.

Os dois deram de ombros e concordaram, sem saber das consequências que aquela simples imagem traria para aquela noite.

Coração de Porcelana.Onde histórias criam vida. Descubra agora