XXXVIII: A Última Noite

1.4K 234 44
                                    

John Lockwood viu o filho sair de casa naquele fim de semana: Como sempre, Henry iria para casa de Damien, isso depois de duas semanas que sucederam a volta do rapaz para casa, depois da viagem a Nova York.

 O pai não sabia ao certo qual era o problema, mas sabia que havia algo errado, sabia que havia alguma coisa que não tinha sido contada. Depois de algum tempo, aquela família voltava a ser assolada por segredos, vagando pela casa como fantasmas, pesando na relação difícil que tinham, graças aos erros do passado que ainda se faziam vivos e presentes.

John Estava preocupado. Tinha medo que houvesse algo muito sério ali, talvez um problema com drogas ou algo do tipo, estas coisas que vagam pela mente preocupada dos pais e que os aterrorizam o tempo inteiro, quando os filhos estão naquela transição da adolescência para a vida adulta.

Jennifer encarou o marido com ares receosos assim que os dois ficaram sozinhos na casa, ela não sabia como agir, assim como John, os dois estavam incertos, os dois carregavam a preocupação e o medo de acabar descobrindo alguma coisa séria: Aquela vontade humana de permanecer na segurança da ignorância (aqui, empregada em seu sentido literal, ou seja, ignorar um certo aspecto, se manter sem saber de alguma coisa).

- Está tudo bem, querida, é o nosso Henry, nosso garotinho, ele só está com problemas e podemos resolver isso, não é? Somos uma família - ele disse, tentando acalmar a esposa, nervosa com o que estavam prestes a fazer.

A privacidade era algo importante para aquela família, havia uma lei silenciosa por entre aquelas paredes que pregava a sinceridade ao invés da invasão. Na teoria ninguém mexia nas coisas de ninguém, na teoria deveriam manter uma relação aberta onde não precisassem esconder nada, no entanto, na prática, isso claramente não funcionava. Henry se afastava dos dois a cada dia que passava, parecia diferente demais e isso, na mente dos pais, dava-lhes a permissão de entrar no quarto do filho e vasculhar suas coisas a procura de algo que respondesse as perguntas com respostas que Henry não daria.

Foi a senhora Lockwood a primeira a se levantar do sofá, cansada de esperar. Já que iriam violar a privacidade de Henry, que fizessem naquele momento, que não demorassem mais ou dessem tempo para se arrepender a ideia. Ela segurou a mão de John e os dois subiram as escadas da casa, de forma mais lenta que o comum, era quase como se estivessem em um filme de terror, ainda que não houvesse a atmosfera escura, já que a casa estava toda bem iluminada, como se nada demais estivesse acontecendo ali.

---------------

A noite estava sendo normal, tudo ocorrera bem, Lucy, como sempre, ficara junto de Henry e Damien até que não aguentasse manter os olhos abertos e decidisse subir para seu quarto. Os dois rapazes ficaram na sala por algum tempo, naquela noite, apenas aproveitando da aleatoriedade da internet e então, depois de algumas risadas e conversas mais profundas, começaram os beijos lentos, ainda na sala, sem a vontade de sair do conforto e subir até o quarto para que as caricias se intensificassem.

Era sempre bom ficar sozinho com Henry, Damien gostava e sentia falta daqueles momentos, já que não podiam trocar aqueles toques com tanta frequência. Era sempre libertador estar ao lado de Henry, diante a uma conversa ou a beijos fortes, não importava muito, bastava saber que a presença dele fazia com que tudo, automaticamente, ficasse melhor.

- Eu queria que fosse sempre assim... Essas noites tranquilas, essa rotina do fim de semana - Damien sussurrou - É tudo tão claro, tão simples... É tão natural ficar com você, Henry.

O mais novo sorriu diante a declaração, sentindo a mistura perfeita e complementar do orgulho com a identificação, afinal, era bom saber que ele fazia Damien se sentir assim e tudo se tornava melhor, quando Henry percebia que havia reciprocidade naquelas sensações todas.

Coração de Porcelana.Onde histórias criam vida. Descubra agora